PEDRO E A BOCA

Nos tempos da Ditadura, lá em Guaíra, Paraná, havia um senhor por nome de Pedro Lucena, que, mesmo sendo pobre era reacionário e puxa-saco de militar. Entregava os seus vizinhos que falassem uma vírgula de mal do governo. O homem sempre dizia: "quem fala demais dá bom dia a cavalo". Certo dia, seu filho, que gostava de pescar, estava com seu barco ancorado lá pelas bandas do porto Coronel Renato, perto do Paraguai, quando resolveu desembarcar para bisbilhotar a vida alheia e ganhar pontos com denúncias sobre tráfico e contrabando. Um grupo de traficantes, aproveitando a sua ausência, amarrou debaixo da sua embarcação uns dez kg de cocaína e maconha, para que a travessia da droga fosse feita em segurança. Era noite, porém, por um lapso, ou justiça divina, a droga foi descoberta. O menino apanhou da polícia do exército até perder a boca, não sabia de nada e ficou mudo, nunca mais falou.