A poética do olhar

Todo olhar é solitário. Podemos compartilhar um ponto de vista, mas não podemos emprestar os nossos olhos.

A visão vai além do que vemos, pois concedemos à ela, um pouco das cores de nossa história, da nossa natureza, reflexões, associações e sentimentos. Podemos olhar para o mesmo lugar, mas nunca veremos a mesma coisa. Nos atentaremos àquilo que mais nos importar, que consequentemente, difere do que importa ao outro. E nisso há uma grande beleza: a poética do olhar.

O que é visível para você em um grande centro urbano? Em uma paisagem deslumbrante? Em um mágico momento à dois? Em um ambiente de trabalho? Agora, que mentalmente visualizou cada uma dessas cenas. Refaço a pergunta: O que você não vê nestas mesmas situações?

O imperceptível que está logo ali ao lado e que por algum motivo, que apenas cada um poderá dizer, não é visto.

Basta darmos um passo para o lado para que tudo se modifique. Mudar a comodidade do que vemos, ainda que inicialmente, precisemos passar pelo estranhamento da novidade. As crianças, na ânsia desbravadora de abraçar o mundo, tudo exploram com os olhos. São capazes de abrir e fechar mil vezes uma gaveta para ver se algo mudou dentro dela, e ainda assim, se não ocorreu, imaginam e criam a própria cena.

A praticidade da vida adulta, nos obriga a fechar os olhos e aceitar apenas os fatos. "O que os olhos não veem, o coração não sente" - ledo engano. Porque o sentir vai além do que vemos. O sentimento é o nosso terceiro olho.

E aquilo que não queremos enxergar, o sofrimento o fará. Expondo a nudez da nossa alma, nossas fragilidades e nos levando a confrontar a realidade.

Que tal uma gota do colírio coragem para abrirmos os olhos? Ou a pureza de enxergar as mesmas coisas pela primeira vez? De chorar quando precisarmos lavar as impurezas que embaçam a nossa vista? Ou simplesmente piscarmos, flertando com a vida?

Os olhos são mais do que as janelas da alma, são as asas que nos impulsionam para o universo...