1994 vezes prepara: uma história com botão, palheta e bola quadrada

1994 vezes prepara

Time: Don Diogo

Presidente e Técnico: Diogo Comba Canavezes

Estádio: Fazendão

Ano de fundação: 1994

- Por que eles estão pegando a bola com a mão?

Era essa a pergunta que eu fazia a mim mesmo durante uma partida de futebol na escola.

O ano, 1994. Eu pouco entendia de futebol. Nem gostava, na verdade. Jogava sempre de forma improvisada com amigos no prédio ou na rua. Semanalmente, na educação física da escola. Era um dos piores, confesso. Quando não era o pior.

Chega a Copa do Mundo e tinha mais jogo de futebol na tv do que desenho animado ou novela. Estranhei bastante. Porém, logo de imediato, virei fã de craques brasileiros como Bebeto e Romário, assim como quase todo mundo. Também passei a gostar de jogadores estrangeiros, seja pela habilidade, como Batistuta ou Baggio, ou pelo “estilo”, como Lalas ou Jorge Campos. Figurinhas, cards, passei a colecionar tudo.

No entanto, um dia meu pai chega com algo que mudaria a minha vivência de futebol para sempre: um time de botão. Do Flamengo.

- Pai, mas eu sou Botafogo!

- Eu jogo fora, quer?

- Não, deixa aqui...

As primeiras palhetadas foram no chão mesmo. O goleiro era uma caixa de fósforos. Diversão imediata. Dias depois, vejo vendendo no jornaleiro outros times de botão, compro um do Botafogo. Agora sim, um clássico em casa. Perco seguidas vezes para meu pai. Descubro que meus amigos do prédio estavam jogando. E os do prédio da minha avó também. Novos confrontos à vista!

- Nossa, que time feio. Panelinha!

- E o que tem?

- Por que você não compra desses de galalite no armarinho.

Nem preciso dizer que fui correndo para lá quase imediatamente. Comprei vários. Grandes, pequenos, coloridos, transparentes...

As partidas de botão começavam pela manhã, dando sossego às vizinhas que não gostavam do barulho que as partidas de futebol no pátio ou na garagem traziam. Só eram interrompidas com gritos de “sobre para o almoço!”. Depois, adentravam a tarde, a noite, faziam-nos esquecer do jantar.

Rivalidades eram formadas, apostas eram feitas, botões eram roubados, brigas aconteciam. Amizades se desfaziam e faziam novamente. Ninguém queria ficar sem jogar. Deixava-se para lá as brincadeiras de pique, as pipas, bolinhas de gude, peões e até os recém-chegados ao subúrbio videogames, mesmo que fosse um Super Nintendo. Allejo até saiu da telinha para a mesa de botão várias vezes.

Eu não era dos maiores campeões, mas era o mais assíduo. Equilibrava-me até mesmo com as diferenças de regras de um prédio para o outro no conjunto habitacional da Fazenda Botafogo. De 1994 a 1999, quando me mudei de lá. A partir daí, o botão passou a ocupar um espaço coadjuvante em minha vida, infelizmente. A mesa fazia parte apenas da decoração. Entretanto, em 2002, tomo coragem e passo a jogar na Praça Edmundo Rego, no Grajaú, onde um barraqueiro vendia botões e emprestava mesas para quem quisesse jogar. Regras bem diferentes, botões grandes, gente de toda idade, novos amigos.

Infelizmente, com o tempo, a barraca parou de ficar na pracinha aos finais de semana e aí veio mais um intervalo na prática do botão. Bola quadrada só no seriado do Chaves com o Quico.

Só que em 2016, ano de Olimpíadas, 22 anos após o início da prática, descubro a galera da NLB pela internet e volto à palheta, ao dadinho, ao galalite e ao “prepara”! Agora, com grana, autonomia e conhecimento, encomendo um time do Japão formado só pelos meus heróis de infância. Herói que inspirou também o nome do meu time “Don Diogo” tal qual “Don Diego de La VeGa”, o Zorro.

Para os pernas de pau, futebol com a mão. Prepara!