Professor, que milagre você por aqui!

Professor, que milagre você por aqui!

Apesar de já estar na casa dos 30, ainda assisto ao Chaves quase que diariamente. No seriado, um acontecimento bem comum que me chamava a atenção era o fato de o Professor Girafales ir à vila quase todo dia visitar a Dona Florinda e ela considerar um milagre vê-lo por lá. Algo parecido acontece comigo, e com professores em geral.

Este ano foi o primeiro em que trabalhei num colégio perto da minha casa. Nos anteriores, era sempre uma escola longe, aí raramente encontrava alunos no shopping, mercado ou na rua mesmo. Agora, não posso sair que do nada escuto alguém gritando o meu nome, vindo em minha direção como se fosse uma surpresa muito grande eu estar na rua.

- Professor, você... aqui... no shopping?!

- Sim, complemento minha renda limpando privadas aqui.

- Sério?!

- Não, (seu idiota). Apesar de ganhar mal, também posso comprar uma coisinha ou outra por aqui. Ou então entrar só para aproveitar o ar condicionado*.

*Quanto ao ar condicionado, antes aproveitava o de bancos, mas sempre querem me revistar. Sou pobre mas não sou bandido nem tenho cara de terrorista, ou pior, professor de história.

- Professor, você aqui no bar? Você bebe?

- Até Jesus tomava um vinho com os amigos, por que eu não posso?

- Mas e o exemplo para os seus alunos?

- Não estamos na escola...

- Mesmo assim!

- Ah, é? Então um exercício de português: vai lá na porta do banheiro e conserta as falhas ortográficas.

E não para por aí. Imagina encontrar aluno no mercado.

- Professor! Fazendo compras?

- Pois é, a temporada de caça acabou, aí vou de Friboi mesmo.

- hahaha! E esse tanto de papel higiênico aí?

- Ué, você caga para a aula, eu cago em casa também.