Filósofo, você conhece algum? Parte V (Uma Profissão Estranha)

Neste rol de crônicas, eu poderia ter tratado de qualquer outro especialista, como: o advogado, ou o engenheiro, ou então sobre o médico, o professor, o contador ou o arquiteto, enfim, todos expressam o labor na vida social cotidiana.

Ora, o que há de fundamental em quaisquer das atividades citadas, é a utilidade; pois são possibilidades de ações cercadas de um mérito real, diriam alguns; pois tratam de coisas que atendem de imediato um determinado fim perceptível, e para tal são remunerados, porém ao invés de tratar de quaisquer delas prefiro tratar do filósofo que é de longe a mais interessante, e não é pela utilidade deste e de sua filosofia, pois aparentemente não há e se há alguma esta passa totalmente desapercebida, no plano das coisas palpáveis, não é possível imaginar que uma pessoa em sã consciência troque a “planta” de um engenheiro por uma meia dúzia de conselhos úteis de Marx, Conte, Durkheim, Platão, Heigel ou outro sábio; também não é uma hipótese compreensível que se pague por isto, pois são de natureza puramente abstrata que na melhor das possibilidades agrada apenas alguns gostos esparsos de leitores, mas jamais atenderá a maioria.

Não há qualquer indicio de possibilidade de alguém ao se candidatar a filósofo procurar ocupação nos classificados de jornal, pois não há uma demanda por sua especialidade no quadro funcional de qualquer organização, seja ela simples ou complexa, uma vez que esta já tem bem definida sua “filosofia de trabalho”, o que necessariamente dispensa um sujeito para tal, até por que relembrando Descartes, toda e qualquer pessoa é perfeitamente dotada da mais ampla sapiência do mundo, “o bom senso é coisa mais bem distribuída do mundo, visto que cada indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem”.

No fundo ninguém precisa de filósofo para nada, na melhor das possibilidades admiti-se precisar de uma filosofia de vida, nada além de um conjunto de frases de efeito utilizadas para este fim.

Em termos de idéias isto não denota qualquer relevância, porém a nível de relações cotidianas, há necessariamente um desgaste aquele que pratica a filosofia, de qualquer forma o filósofo e a filosofia, se encontram na linha limite entre o que é desejável e o que é desprezível.

Daí o porque a condição do filósofo é de longe a especialidade mais interessante, não só pela falta de demanda e de remuneração que se percebe, mas justamente por sua invisibilidade diante das coisas humanas.