Textos: a devida apropriação

Apropriação devida é a que faz o leitor com qualquer texto. Penso ser um erro de certos autores pensar que um texto, fora direitos autorais, uma vez publicado será sempre ‘seu’. Cada leitor faz dele a interpretação que lhe convém, por vezes até descobrindo coisas que o autor ou autora não havia se dado conta de ter ‘dito’ até o momento da publicação. Isto aconteceu já com vários dos meus escritos experimentais. Há gente que pensa que certos escritos são autobiográficos, como as Memórias de Maria Teresa e Ana Tanque de Guerra que, às vezes, gostaria mesmo de ter sido ou ser como elas, mas não sou. Legal reconhecer em nossos personagens fragmentos de nós mesmos, mas também de pessoas que compartilharam (ou compartilham) uma poltrona na viagem da vida, no trem, ônibus, barco ou avião. Principalmente nos contos, onde me perco e me acho, e em alguns deles pouquíssimos leitores parece que decifraram a verdadeira face ou máscara que escondi por lá. Gostosa essa sensação das diversas recepções, mas sem exageros! Sinceramente, muitas vezes escrevo para um leitor que mora dentro de mim, para alguém a quem gostaria de surpreender, alguém que não tem sexo, cor, nem idade. Sempre que leio algo, e gosto muito, pergunto-me o que tem o texto que me atraiu, que me surpreendeu ou me marcou, e quando escrevo para o meu leitor interno, muitas das vezes é pensando nessas emoções que queria despertar. Escrever é uma terapia gostosa, também uma arte sem igual. A certos autores, geralmente noviços, sempre é bom lembrar: se seus textos são como filhos, lembre-se que filhos são do mundo, não dos pais e se não querem que deles se apropriem o leitor, melhor não publicar.

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