Um pedaço de mim que não sei bem se é meu

Não confio em minha memória, mas ela me mostra um quadro do passado que eu juraria que foi real: eu, ouvindo a Zizi Possi — num vestido branco lindíssimo — cantando Noite, Perigo, A Paz e outras canções, apresentando-se como atração inicial num show de um grupo juvenil dos anos 80, o grupo Dominó. Sim, grupos juvenis. Eu já fui bobinha também, admito! Mas será que isto, de fato, aconteceu? Nada posso garantir... Menina como eu era, lembro de ter estado lá com outras tantas para ver os garotões, mas o que me marcou mesmo foi a interpretação, e a voz da Zizi. Imagino o que possa ter passado na cabeça de uma cantora do quilate dela estando ali, cantando para uma multidão de adolescentes que, bem provável, só pensavam em abobrinhas como “Manequim, o teu sorriso é um colar de marfim” e outras pérolas do tipo. Ah!, apesar de todas as bobagens, esses foram tempos bons... Sempre me arrepio quando ponho para tocar Pedaço de Mim, do Chico, interpretada pela Zizi. Li, outro dia, que ela havia passado um bom tempo internada num hospital, tratando de um problema na coluna, mas que agora está se preparando para voltar aos palcos, trazendo um show para apresentar em igrejas, show de caráter secular. Igrejas, muitas vezes, são ótimos lugares para se cantar, por causa da acústica. Se bem que, neste quesito, o lugar ideal para concertos, dentre os não tantos assim que conheço, é um auditório no interior de uma caverna a 50 metros abaixo do nível do mar, na Ilha de Lanzarote. Ali, sim, até mesmo uma pessoa surda poderia muito bem captar ‘a aura’ de um concerto. Espero que a Zizi se recupere completamente e siga cantando, pois o Brasil precisa de tesouros como a voz dela, nada dessas besteiras de peitos, bundas e outros apelos que vendem diariamente no rádio ou na TV.

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