O Noel e a reinvenção do natal

Para um papai Noel, voar em sua carroça puxada por renas um tipo estranho para a maioria das crianças dos trópicos, e nem percebem que voam, e todos os demais adereços como a neve ou a duvida sobre a cor da roupa se vermelha ou verde, enfim uma infinidade de inventivas que passam desapercebidas por todos os pequenos desde os carentes aos mais abastados.

Se o Noel é homem ou mulher? Se mulher até partilha um pouco da fama como a mamãe Noel, mas é uma concessão gentil, o que rouba a cena mesmo é o bom velhinho, é certo que quando se inventa uma parceira como boneca, ela obtém maior prestigio, mas tudo isto pouco importa, há uma imensa variedade de formas possíveis para compor este ente natalino; o que importa da fato é o presente... nesta ocasião surgem os mais diversos bondosos de todos os tipos e classes, pessoas que cheias de boa vontade se predispõem a mágica encenação natalina e dão vida e brilho ao bom e velho Noel e materializam alguns dos muitos desejos de nossas crianças, há algo mais mágico do que isto? Crianças desejosas e adultos desiludidos erguendo a força o habito da tradição, mesmo exposto ao sério risco de ser deixado ao relento sua tão brilhante inventiva.

Quem nunca creu em papai Noel? Quem nunca fez um pedido? E quem não se decepcionou com o tempo? Ora todas as decepções do mundo desaparecem diante do brilho dos olhos destas crianças, e revestindo-nos das mais céleres convicções damos vida ao fenômeno natalino. É a meia ou o sapato cheio de grama posto embaixo da cama ou da rede que as vésperas do natal serão trocados por brinquedos, pois os sonhos infantis normalmente repousam em carrinhos e bonecas; mas há os grandinhos que esperam desde a infância a vinda inusitada do ilustre Noel, mas que se contentam com as cópias, e suas barbas postiças; no fim das contas mesmo os mais desiludidos se conformam a farça.

Mas o que seria se, subitamente impuséssemos o derradeiro golpe da descrença advindas das decepções de infância ao carismático distribuidor de bombons? É certo que diante de toda frieza da inexistência do mito, e da falta ou do vazio deixado por sua ausência, seriamos forçados mesmo a contragosto a reinventá-lo, assim como reinventamos uma multidão de coisas do nosso dia-a-dia. Por isto que todas as vezes que um de nossos filhos é desiludido por alguns que não o professam, vem até nós e nos pergunta: _Pai, papai Noel existe? De imediato titubeamos, mas se arrancarmos do fundo nossas maiores verdades, se é que é possivel alguma, facilmente deduziremos, e respondemos:

_sim meu filho, é claro que existe, basta que acreditemos.

Nelson A. R. Corrêa

Natal de 2010