Quando beber não erre a casa

I

Outro dia eu voltei bebo da rua

E entrei pela porta da vizinha

Só notei que a mulher não era a minha

Quando vi que a danada estava nua

Eu tentei retornar, mas a perua

Já estava comigo se atracando

Foi aí que outro cara foi chegando

E a mulher de repente se alarmou

O segundo marmanjo que chegou

Era quem ela estava esperando

II

A mulher me trancou em um roupeiro

Com um cheiro de mofo de lascar

Já fiquei com vontade de espirrar

Logo que inalei aquele cheiro

Eu também precisava ir ao banheiro

Porque já cheguei lá bem apertado

A mulher me deixou ali trancado

E tentou distrair o seu amante

Eu então espirrei naquele instante

E, no ato, fiquei todo mijado

III

Eu também comecei a me coçar

E saí do armário cheio de traça

Inda zonzo por causa da cachaça

Escutei o marmanjo perguntar

À mulher, quem estava a espirar

Ela disse que era o papagaio

Ele, então, respondeu – nessa não caio

E a xingou de sacana e de vadia

Por marcar com dois caras num só dia

E saiu disparado como um raio

IV

Com o efeito da cana já passando

Eu, mais sóbrio, pensei em dar o fora

Como o outro sujeito foi embora

A mulher já estava me esperando

Me agarrou e foi logo me beijando

E tentou me apalpar na algibeira

Consegui arranjar uma maneira

De livrar-me do abraço da perua

Quando, enfim, consegui chegar na rua

Dei de cara com minha companheira

V

Minha esposa de tão preocupada

Porque eu já estava demorando

Na calçada ela estava me esperando

Quando viu eu sair da casa errada

Se sentiu, com razão, enciumada

E já veio pedindo explicação

Começou ali mesmo a discussão

Quando eu procurava me explicar

E, então, pra acabar de complicar

A vizinha saiu só de roupão

VI

E na fuga eu nem tinha reparado

Na camisa manchada de batom

Minha esposa, ao notar, subiu o tom

E eu nunca fui tão elogiado

O mais leve que ouvi foi, desgraçado

Cafajeste, safado e traidor

E eu só lhe pedindo, por favor

Que deixasse eu contar minha versão

Só depois de bastante adulação

Consegui aplacar o seu rancor

VII

Imaginem, vocês, minha aflição

Pra tentar convencê-la da verdade

Que eu nunca agi com falsidade

E que não cometi u’a traição

E eu só consegui o seu perdão

Quando a nossa vizinha confirmou

Mas deu pena o cacete que levou

Pois ficou três semanas internada

Ainda hoje ele está com a cara inchada

E, depois, pra mim, nunca mais olhou

VIII

Mas também recebi o meu castigo

Novas regras, pra mim, foram criadas

Proibiu-me farrar com os camaradas

E pra não correr mais nenhum perigo

Quando quero beber com um amigo

Ela marca minh’hora de voltar

Se eu falhar, ela vai lá me buscar

E ai de mim, se tiver enchido a cara

Ela fica virada numa arara

E me deixa um mês sem namorar

Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 12/11/2017
Reeditado em 20/11/2017
Código do texto: T6170047
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.