AS "VIAGENS" DE UM URUBU

AS "VIAGENS" DE UM URUBU

I

Certo dia um urubu

que vivia "jururu"

foi parar lá em Belém...

com jeito de andar carioca,

contando muita "potoca"

só pensava em "se dar bem" !

I I

Mexeu com tudo o que é troço,

negociou até destroços

de embarcações "com tesouro" !

Vendeu "gleba" em Marabá,

"sítios" sob o Guajará... (*1)

o urubu era um "estouro" !

I I I

Para a sua alegria

"descobriu" a Academia,

com imagem de um seu "primo".

Misturou-se entre os vates...

se apresentou: -- "Sou mascate,

escrevo, componho e rimo" !

I V

-- "Sou um bicho bem viajado,

já fui muito premiado,

meu nome é até verbete

em Angola e no Nepal.

No Senado Federal

já me estenderam tapete" !

V

-- "Toda Câmara me admira,

dizem que estou "na mira"

pra me tornarem Ministro

da Poesia e do Cordel,

vão me fazer Bacharel...

mas eu não ligo pra isto" !

V I

-- "Na Birmânia, no Ceilão,

corrigi o "ramerrão",

lhes mudei a Ortografia

e o Imperador chinês

me intimou -- em tom cortês --

pra ensinar à Dinastia".

V I I

-- "Só nesse Brasil caótico

com um Presidente "exótico"

ninguém quer me dar valor.

No Chile e Venezuela,

na Argentina ainda bela

todos me chamam... Doutor" !

V I I I

-- "Sou matéria na Escócia"...

continuou a bazófia,

não conseguia parar:

-- "Digam ao tal Juraci

que é melhor sair daqui...

vim tomar o seu lugar" !

I X

O protesto foi geral !

-- "O urubu é "imortal",

não o enxotem agora" !

-- "Imortal é o "cacete"...

vamos tratá-lo a porrete

se êle não fôr logo embora" !

X

Com êle fizeram teste...

não saiu nada que preste,

era um urubu malandro !

Pedindo então que saísse,

"seu" Cardoso assim lhe disse:

-- "Fora daqui"!, em tom brando.

X I

Encerro aqui a história

desse momento de "glórias"

de um urubu salafrário...

vive hoje em Ananindeua

enganando a dúzia e meia,

como "Doutor em Ranário" !

"NATO" AZEVEDO

(em 22/out.2017)

OBS: (*1) GUAJARÁ - rio imenso que

circunda toda Belém. Cordel baseado

em figura real, nascido no interior nos

anos 60 e que em Belém transformou-se

num "camaleão" que assimilava (?!)

atividades e profissões a partir de

conversas e/ou de livros e virava

"instrutor" da noite pro dia. Meu irmão

o conheceu em 1987 e o apelidou de

"Mestre PASTINHA" porque sempre andava

com uma valise, para arrecadar "fundos"

para suas "aulas" e "cursos". Enquanto

envelheço a cada dia, o sujeito está cada

vez mais jovem !