Positivo e operante: Estrada liberada
Severino de João
Já havia avisado
Que o brasileiro pobre
Tem o seu dia contado
De velhice antes dos trinta
E graças à vida faminta
Morre todo dia um bocado
E morrerá antes dos vinte
Se o latifúndio encarar
Por que será emboscado
Quando a rua se estreitar
Como bicho será acuado
Terá seu corpo deitado
Pelo jagunço vulgar
Ousaram os camponeses
Em Eldorado dos Carajás
Protestarem este câncer
Aceitado com alvará
Com pacífica passeata
Cobrar do governo a ata
Pra manobrarem a pá
Nada mais querem que terra
Fazer valer tua meta
Produção é teu princípio
De que vale estar quieta?
Só agregando valor
Pro idiota senhor
Que a mantém em longa dieta?
Então aquela fazenda
Nomeada Macaxeira
É direito dos sem-terra
Também sem eira nem beira
É promessa da União
Muito lenta em sua missão
Em marcar esta fronteira
De Eldorado a Marabá
Pela PA – 150
Camponeses vão marchar
Contra a ordem pirracenta
Que concentra tanta terra
Que germina apenas guerra
Na mão de gente avarenta
Não demoraram agir
Fazendeiros, coautores
– Que se espantem os camponeses
O Pará tem seus senhores
Vai ser liberada a estrada
Em bem armada emboscada
Penhor dos corruptores
Seria desta armadilha
Que falava Severino?
Policiais bem armados
Detêm a marcha a seu destino
Não houve muita conversa
A carabina é perversa
Encomende-se ao Divino
A jornada camponesa
Sem escrúpulo, alvejada
Fuzis e metralhadoras
É o fim, foi massacrada
O mundo inteiro viu
O que acontece no Brasil
A maior terra grilada
São contados dezenove
Brutalmente executados
Com tiros a queima roupa
Com facão e foice rasgados
Outros, de morte, feridos
E muitos outros sumidos
O suplício foi consumado
Democracia golpeada
Em mais um dia de abril
Ruínas de um dia primeiro
Que destruiu o Brasil
Derrubado outro João
Emboscado em agressão
Por que a fazenda feriu
Histórias que não comovem
O latifúndio inclemente
Neste Estado sem nação
Colônia eterna, indigente
Com impunidade as vistas
O preço desta conquista
Fará chorar muita gente