Uma tribo no caminho

Terra boa na Amazônia

De inestimável fartura

Margeada ao Jauaperi

Sua mata toda a candura

Onde Natureza plena

Deixou preparada a cena

Para a mais bela cultura

É nesta mata fechada

Onde o nativo bem vive

A quem tudo o solo dá

Só lhe pede que cultive

E terá mesa abastada

Em terra fértil e irrigada

Pelos rios em seu declive

Por Roraima e Amazonas

Os Waimiri-Atroari

Estão em solo desejado

Por quem não era daqui

Riqueza que atraiu cobiça

Trouxe evolução postiça

Teimosa ao subtrair

Aqui tem muita madeira

Minérios e rios potentes

Que o destruidor moderno

Bronco pouco inteligente

Quer espaço ao seu “progresso”

A erosão é seu acesso

A expulsar a nativa gente

Será ainda em Dezenove

Que se inicia a agonia

O progresso atropela

Nossa rica etnia

O mais cruel genocídio

Dos fortes têm subsídio

Ancorados a tirania

Os Waimiri estão condenados

Pelas fortes fracas mentes

Que devastam a floresta

Em pilhagem prepotente

Ao som da vil motosserra

Que grita chamando a guerra

Segue em marcha negligente

Está em terra Waimiri

Amazônia, farto minério

Invadida por latifúndio

Com aval do Ministério

De militares fantoches

Pelo índio todo deboche

Tal qual faz o grande império

A nobre cassiterita

Que os eventos mais bonitos

Expõe medalhas de bronze

A atletas que viram mitos

Mas raramente conhecem

A origem que os enobrecem

No oculto e cruel conflito

Aonde vai se abrir a estrada

Para a exploração total

A BR Um-Sete-Quatro

Rasga este matagal

Cento e quarenta léguas

Aos nativos não há trégua

Às ordens do capital

De Roraima para o mundo

É a única passagem

Cicatriz na Amazônia

Corredor para a pilhagem

Encurtou-se a distância

Que incomodou a ganância

Contra o porto do “selvagem”

A pouca trilha foi alargada

Aos caminhões e tratores

Grande faixa já asfaltada

Inverteram-se os valores

Terra de uso, pobre índio

Vale troca ao latifúndio

O general dos salteadores

Tudo pronto ao “progresso”

Essa terra foi desonrada

Mesmo destino aos nativos

Sua honra insultada

A estrada cumpriu o ofício

Impiedosa com o sacrifício

Da índia cultura prendada

Que nada tirou da terra

Não fosse o seu sustento

Que só agrediu o ar

Com a ação do respiramento

E de boa água gozou

Sua branca carne pescou

O Tambaqui suculento

Água que acatará ordens

Da moderna sociedade

Sua função agora é outra

Gerar eletricidade

Pra isso surgiu Balbina

Na militar disciplina

E grileira lealdade

Os índios estão perdidos

Dentro de sua própria casa

Não há um só almo canto

Que esteja a salvo da brasa

À beira da extinção

Ficou a briosa nação

Jogada à cova-rasa

No saldo de toda a história

Os culpados já são certos

Fortuna e latifúndio

Impunes, então libertos

Sem ética nem moral

Às ordens do capital

Farão da Terra um deserto

FERNANDO NICARAGUA
Enviado por FERNANDO NICARAGUA em 02/08/2017
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