A VIDA NUM CORDEL

Por Gecílio Souza

A vida é um grande jogo

Corrida de carrossel

Novelo desnovelando-se

Fina linha do carretel

É mistura de sabores

Azedo, amargo, sal e mel

É barco no mar revolto

É uma nave de papel

Um rebento vulnerável

Descendência do plantel

Cada humano traz consigo

Um Caim e um Abel

O mundo não é azul

Nem foi pintado a pincel

A morte é a juíza severa

Cada um de nós é revel

Ela equipara a todos

Do soldado ao coronel

Nem os deuses recusaram

Uma dama, uma pitel

Fidelidade é viver bem

Não é a aliança ou anel

A rigor não há distinção

Entre o templo e o motel

O ambiente não determina

Quem é menos ou mais fiel

A existência sobre a Terra

Tem paralelo no bordel

Parece um ninho de cobras

Jararaca e cascavel

Se engole sob a melodia

De Orfeu e Menestrel

Volta e meia me envergonho

De compor esse borel

Vez por outra me orgulho

De saborear este fel

Não há hierarquia de estatus

Entre o camaro e o corcel

Prefiro a pobreza anônima

À famosa riqueza dos Geddel

Não troco a brisa do campo

Pelo mais luxuoso hotel

Palmas a Diógenes, o cão

Que vivia num tonel

Gostoso é um almoço em família

Ouvindo Leôncio e Leonel

O fundamentalista dogmático

Na essência é um pinel

O nome do homem justo

Se inscreve no capitel

O homem injusto é igual

À carne podre do pastel

O mais célebre escultor

Não desdenha o alvanel

O misógino homofóbico

É um deplorável josnel

A sociedade é uma droga

Transforma o homem em lunel

Habita-se em metrópole

Que se equipara ao cartel

Todo mundo é prisioneiro

Num metafórico quartel

O careca usa toca

O cabeludo usa gel

O mundo é meu grande livro

O horizonte é meu painel

As linhas do meu poema

Não se encontram a granel

Minha comunicação é a poesia

Não preciso de Embratel

Para dar trégua à minha voz

Me expressei no cordel

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 25/07/2017
Reeditado em 23/10/2019
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