GONZAGA EITA CABRA BOM!

Lelces Xavier

Ele nasceu em Exu

Lá em cima, no sertão

De posse de uma sanfona

Chapéu de couro e gibão

Gonzaga ganhou o mundo

Virou o Rei do Baião

Seu pai era famoso

Lá por onde ele nasceu

Foi com ele que Gonzaga

Tocar seu fole aprendeu

Daí pra frente seu moço

Gonzaga sempre cresceu

Foi ficando conhecido

Foi se cobrindo de glória

Plantando boas sementes

No livro da nossa história

Ele foi reconhecido

Sua fama é notória

Quando pegava a sanfona

Levantava seu povão

Tocando valsa, calango

Xote, Xaxado ou baião

Isso nas cidades grandes

Ou em sítios do sertão

Dançando pagode russo

Sonhou que tava em Moscou

Num gostoso vai e vem

Na boate coçacou

Parecia dança o frevo

Ele disse que gostou

Um dia pisou o mio

Peneirou para o xerém

Galinha criou aos montes

Pinto não deu a ninguém

Dizia quem quiser pinto

Deite galinha também

Foi visitar padim ciço

Pedir chuva pro sertão

Depois de ser atendido

Vortô pra seu rincão

Trôxe terço pra Das Dores

Pra Reimundo um violão

Por uma estrada cumprida

Andou a légua tirana

Desejô ter uma asa

Pra ir onde tava Ana

Nos pés uma alpercata

Nas costa sua sanfona

Um dia ele resolveu

Ensinar dançá baião

Mostrou com tanto jeito

Dançô com ele a nação

É a dança que até hoje

Anima nosso S. João

À sombra do juazeiro

Com Nazinha namorô

Perdeu a moça de vista

Vortô lá não encontrô

Perguntô pro juazeiro

Onde andava seu amor

Se agarrô com Karolina

A tal Karolina com K

Deu a sanfona pra Ansermo

Não parô mais de dançá

Depois os dois numa égua

Foi para o rio se banhar

Teve uma mula preta

Com sete parmo de artura

Muito bem descanelada

Uma linda criatura

Veio a cobra e picô ela

Morreu sua formosura

No Rio viu tudo mudado

Nas noites de São João

Em vez de polca e rancheira

O povo queria o baião

Era a música do Gonzaga

Conquistando o seu povão

Tocô na sanfona veia

Um gostoso fum, fum, fum

O coração das morena

Batendo seu Tum, Tum, Tum

Quanto mais ele tocava

Mas se pedia mais um

Ando 17 légua e meia

Pra ir num forró dançá

Achô que valeu apena

Pois Rosinha tava lá

Pra curar o seu cansaço

Fez a cachaça rolar

Quando a sanfona tocô

Rodô com Rosa o terreiro

Roçando o seu coração

E lhe matando de xero

Não se cansou o danado

Foi assim o tempo inteiro

Desejô ser um peixinho

Num gostoso desafio

Nadando contra as águas

Que descia pelo rio

Pra fazer sua morada

No Riacho do Navio

Fez um dia um roçado

Tava pronto pra coiê

Bastô um simples descuido

Viu um jumento comê

Tentô pegar o danado

Que logo a cerca pulô

Deu três peido e cinco coice

Olhô pra trás e berrô:

Seu Luiz, Seu Luiz!

Comi seu mio, comi,comi!

E como, e como, e como!

MEU ENCONTRO COM GONZAGA (Leia essa história!)

O destino sem dúvida, é o maior arranjador de encontro que se conhece. De várias maneiras imprevista e até inimagináveis, ele põe frente a frente e em ação conjunta pessoas que de uma forma ou de outra vivem motivos tão opostos, e em lugares tão desiguais, que um encontro e uma convivência ainda que diminuta, não entra no rol das probabilidades, mas acontece. Isso aconteceu comigo e seu Lula: um acidente de automóvel nos apresentou:

Em 1980, fui designado juntamente com outro sargento para ir até a cidade de Exú consertar o aparelho de comunicação da PM naquela localidade. Na entrada da mesma, a Kombi em que eu viajava dirigindo derrapou e caiu em uma depressão ao lado direito da estrada. A 500 metros da referida cidade, em terras do Rei. O veículo ficou imprestável e milagrosamente não sofremos nada.

Na ocasião, uma gentil senhora nos socorreu, nos levou para a casa da fazenda, nos fez tomar banho e nos medicou com chá de ervas.

No dia seguinte, voltamos ao local para remover a viatura e fomos recebidos por seu Lula, que nos cedeu um trator para a remoção, e guiou o mesmo até a Cia de Polícia. Ele nos convidou para sentar em seu terraço e bater um bom papinho. Ali, ao lado dele, durante toda manhã, falamos de tudo e fomos carinhosamente gozado pelo Rei e suas inteligentes tiradas.

Na hora do almoço nos convidou para fazer-lhe companhia, afirmando ser uma ordem e que não gostaria de ser contrariado, e não foi. Aceitamos de bom grado, vaidosos e repletos de orgulho, com o gentil e importante convite,

Na mesma ocasião nos ofereceu uma talagada de aguardente, segundo ele, para abrir o apetite. Neste momento, aconteceu um diálogo entre eu e ele que nunca esqueci, e que faço, agora, questão de documentar como o mais delicioso momento vivido por mim na Polícia:

O Rei – Vamos tomar uma talagada para abrir o apetite?

Eu – Não bebo seu Lula, me desculpe!

O Rei – Você não bebe, mas gosta de jogo de azar?

Eu – Também não gosto de jogo de azar!

O Rei – Não bebe nem joga, mas gosta de Zona pra sarrar com as “mocinhas” de lá?

Eu – Também não gosto de Zonza, prefiro mulher reservada, coisa mas íntima!

O Rei – Não bebe, não gosta de jogo de azar e não aprecia uma zona. Mas gosta de um toquinho nas feiras pra engordar o orçamento?

Eu – outra coisa que não faço, prefiro outros meios para ganhar dinheiro extra!

O Rei – Diabos!... Você não bebe, não zona, não joga e não come tôco. Meu jovem, Você está no lugar errado. Saia da Polícia e entre para um Seminário!

O diálogo aconteceu de forma tão especial e espontânea, que não me melindrou nem atingiu a PM. O homem sabia das coisas.

Mais adiante, respondeu assim a uma pergunta minha, sem demonstrar rancor ou mágoa, porém com desalento:

- Apesar de ser um cantor famoso em todo o Brasil, hoje eu morreria de fome se tivesse que ganhar a vida cantando minhas músicas em meu sertão. A juventude daqui só pensa em discoteca!

Na ocasião tive a oportunidade de conferir sua queixa: Existiam na cidade cinco discotecas funcionando a todo vapor.

Mais que contar essa história, quero prestar uma homenagem a seu Lula, um ídolo e por uma nobre concessão sua, um amigo. Para isso fiz uma quadrinha rude, sem qualidade, compensada porém pelo carinho e pela admiração que lhe devoto. Tenho absoluta certeza de que lá do céu, ele saberá perdoar a minha incompetência poética:

Quem não gosta de cachaça

Roleta tôco e cabaré

Pode ser quarquer desgraça

Bom sordado é que não é.

Obs: Esses foram os primeiros versos que fiz na vida, tinha eu então 54 anos.

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