No Galopar Da Saudade

Quem canta a saudade só pode ser crente,

um tanto lunático, em sua memória,

lembrando de tempos felizes, com glória...

Talvez para ter a sua alma pungente;

porque quem se lembra do tempo contente

deseja, na dor, que ele possa voltar;

e como o presente não é salutar,

por dentro se tem escondido o seu pranto

guardado, velado, coberto com manto,

nos dez de galope na beira do mar.

E como? - Pergunto, pois bem no momento

que a sua lembrança se torna Rainha,

mostrando a minúcia em cada uma entrelinha,

então, se deseja que volte o bom tempo

de risos felizes, real sentimento...

- Pergunto, pois, como se pode aguentar?

Que o tempo não volta a não ser ao lembrar;

por isso se chora com tal desespero,

carente e soturno, pois não é ligeiro,

nos dez de galope na beira do mar.

E, quando se vem na memória o bom tempo,

se torna em Princesa a feral Agonia,

levando pra sempre a candura, a alegria,

trazendo de volta os cruéis sentimentos:

tristeza, lamúria - o pior dos lamentos

que a gente não sabe sequer explicar.

Qualquer melodia que venha escutar

lhe dá por sentença o farol de um bom sonho

e logo em seguida um pungir tão medonho,

nos dez de galope na beira do mar.

Saudade se tem de um alguém que partiu

e dói e corrói... Fica a grande ferida;

porque nos machuca a cruel despedida

e a lágrima triste transborda igual rio.

É muito difícil! Diria: sombrio...

Pois todos nós vamos por isso passar!

E nesse momento com quem se apegar?

Amigo, parente, folhinha de arruda...?

Só temos a Deus e o Papai nos ajuda,

nos dez de galope na beira do mar.

Tem gente que zomba da sua ferida,

dizendo: - Você tem que olhar para a frente,

deixar o passado esquecido na mente

e toda a lembrança, por si já vivida.

Quem dera se tudo passasse na vida,

ficasse esquecido e sepulto no mar!...

Que as suas lembranças ficassem no ar!

Jamais se teria algum medo do amor;

de ter paciência e sofrer grande dor,

nos dez de galope na beira do mar.

Se tu meu amigo também tens saudade...

Ficando abatido não tenhas vergonha:

tu és o albatroz que está vivo e que sonha,

que guarda no peito a maior caridade.

Mereces aplausos, louvores de Jade,

porque teu afeto é fanal salutar.

Se um dia tiveres por que prantear

deleita-te, amigo, da boa lembrança:

és sábio, sensível tal qual é a criança,

nos dez de galope na beira do mar.

20/09/2012 5h37

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 29/03/2017
Código do texto: T5955777
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