Viagem pelo passado

Viajei para o passado

Pra buscar a esperança

Mas perdi o passo dado

Desprezando a tolerância

Tudo que a mim foi dado

Destruí na minha infância.

Construí o meu calvário

Não ouvindo o bom conselho

Não cuidei do relicário

Não me olhei no espelho

Não marquei no calendário

Quando dobrar o joelho.

Fiz meu próprio cadafalso

Pra matar meus sentimentos

Pra fugir andei descalço

Furtei águas e alimentos

Vindo alguém no meu encalço

Suportava meus tormentos.

Sem saber onde eu estava

Não podia descansar

Para frente não andava

Muito lento o meu pensar

Eu de tudo reclamava

Mas não tinha onde pisar.

Encontrei a caravana

De soberbos caminhantes

Cada um com a vida insana

Com falar tonitruante

Suportando em sua faina

O temor do amor distante.

Em seus versos delirantes

Só falavam em sofrimento

Se dizendo tolerantes

Só falavam xingamentos

Pra fugir do ser pensante

Escondiam os seus tormentos.

Para cada passo dado

Havia um grito de dor

Cada um no seu passado

Foi mais um torturador

Que negou o ordenado

Para o bom trabalhador.

Na areia do deserto

Colocavam uma semente

Esperavam o tempo certo

Nada mais seria urgente

Vendo o futuro perto

Nele viam o seu presente.

Consultei meus ancestrais

Perguntei para saber

O valor de tantos ais

O porquê de haver sofrer

Responderam que ademais

Ninguém faz o amanhecer.

Veem o céu pequenininho

Não perguntam o seu tamanho

Vivem como um passarinho

No seu lar é um estranho

Nesse seu viver sozinho

Solidão é o que ganho.

Solidão de pensamentos

Solidão de companhia

Solidão de bons momentos

Solidão de todo dia

Solidão de argumentos

Pra vencer a tirania.

Tirania de valentes

Que não sabem o que é vitória

Desprezaram seus parentes

Pra ter nome na história

Se julgando oniscientes

São exemplos de escória.

A semente da discórdia

Eles gostam de plantar

Sem saber o que é concórdia

Por um nada quer brigar

No pescoço põem a corda

Com a qual vão se enforcar.

No deserto de valores

Não existe compaixão

Há somente muitas dores

Para quem nega o perdão

Para esse há dissabores

Nunca há compreensão.

Na viagem pro passado

viajei no firmamento

Encontrei andando ao lado

Quem amei nalgum momento

Foi amor tão recatado

Que curou meu sofrimento.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 26/03/2017
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