A EMPÁFIA DO DIPLOMA

Por Gecílio Souza

A inteligência é um dom

Que dispensa fiadores

Não se vende e não se compra

Como fazem os mercadores

O saber supera a letra

Por incontáveis fatores

Erudição e sabedoria

São dois distintos valores

O conhcimento formal

Pode ter seus esplendores

Não subroga à sabedoria

Nem revoga seus vetores

Diplomas jamais conferem

Saber aos seus detentores

Os grandes sábios da história

Não se entitularam doutores

Nunca ostentaram títulos

Mesmo sendo os precursores

Da reflexão sistemática

Da lógica e da matemática

E de todos os setores

Não é novidade alguma

Aos mais ciosos leitores

A história é como automóveis

Contém pneus e motores

Pára brisa e pára choques

Freios e aceleradores

Volante e barra de direção

Buzinas e retrovisores

Olhar à frente ou atrás

Depende dos condutores

Ler e interpretar os fatos

Não mata nem causa dores

Do estudante mediano

Aos grandes pesquisadores

Sabem que a filosofia clássica

Teve seus formuladores

Sócrates, Platão e Aristóteles

O mais célebres pensadores

Que transcenderam idiomas

Três filósofos sem diplomas

Três exímios preletores

Não se fala dos três clássicos

Sem os seus predecessores

Tales, Heráclito e Parmênides

Genuínos iniciadores

Da racionalização do mundo

Que dissuadiram os temores

Da hegemonia dos mitos

E dos divinos interventores

Arquimedes e Pitágoras

Geômetras e inventores

Heródoto, Tucídides e Xenofonte

Renomados historiadores

Os sofistas Górgias e Protágoras

Habilidosos oradores

Drácon, Clístenes e Sólon

Memoráveis legisladores

Calícatres, Fídias e Apolodoro

Arquitetos e escultores

Agnodice, Hipócrates e Acrão

Apolônides, Anícia e Alcmeão

Médicas e médicos pacificadores

Há algo fora de ordem

Tal esquema está errado

Lhe faltam coerência e lógica

É um sistema malfadado

Está aquém do nosso tempo

Segregacionista e truncado

Preconiza a humildade

Mas o humilde é humilhado

Dissertações e monografias

Movimentam o mercado

Autor estrangeiro ou morto

É geralmente plagiado

Aprova-se trabalho acadêmico

Pobre e mal elaborado

Atribuem-lhe nota máxima

E o saber foi aviltado

Há títulos sem conteúdo

Canudo injustificado

Eis que surge o impostor

Se auto-intitulando doutor

Sem ter feito doutorado

Essa quadra em que vivemos

Nos lembra a bíblica Sodoma

A devassidão se instalou

Na engravatada redoma

Nos circuitos palacianos

Tornou-se a principal mordoma

O odor do sepulcro caiado

Exunerou o ético aroma

A empáfia de terno e gravata

É um perigoso sintoma

De uma sociedade infectada

Pelo devastador linfoma

A civilização não morreu

Mas já se encontra em coma

A visão míope e obtusa

A tudo isso se soma

Uma casta arrogante

Que garganteia e embroma

Não reverencio“iluminados”

Mil medíocres diplomados

Não valem um “doutor” sem diploma

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 23/03/2017
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