Embate entre o melão e o mamão

Que pensas fazer à mesa

ó simplório amarelão,

não mereces a nobreza

pois não passas dum mamão?

É na minha singeleza

que me provo essencial

ligeirinho chego à mesa

vindo de qualquer quintal

Sobre ti, trago vantagem,

sem vir de qualquer biboca

mira só mi'a bela imagem

a meu lado, és um boboca

Sou comum, reconheço,

porém eu jamais falho,

é bem baixinho, meu preço

não sou de dar trabalho

Eu me sinto distinguido

vindo em redinhas, até,

como iguaria, conhecido,

dou nas ramas, não no pé

O ar mais puro, que respiro

faz-me saudável, altaneiro

e cá das alturas, te miro

de natureza, és rasteiro

Eu facilito a colheita

e sou de agrado do patrão

de constituição perfeita

agrado boca e visão

Posso até ser meio disforme

porém não fico atrás não

na mi'a utilidade enorme

faço bem à digestão

Nas mesas nobres estou

para usos ilimitados

até pra saladas vou

dando conta dos recados

Se a nobreza me rejeita

e a ti faz reverência

co'a pobreza que me aceita

mais me apraz a preferência...

Tens essas pretas sementes

que te enfeiam, não imaginas,

as mi'as, branquinhas, pras gentes

demonstram ser das mais finas

Tuas brancas só lixo são

já as minhas pretas, remédio

e dou cabo à discussão

a mim só me trazes tédio...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 19/03/2017
Reeditado em 19/03/2017
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