NUNCA RECEBI PROPINA

Miguezim de Princesa

I

O cabra vivia com fome,

Morrinhando gasolina,

Filava cana e cigarro

(Até mesmo das meninas),

Ficou rico e ainda diz:

- Nunca recebi propina!

II

Comprou uma casa na ilha,

Apartamento em Paris,

Uma quitinete em Miami

Para uma bela meretriz

E diz pelo microfone:

- Defendo o povo infeliz!

III

Não sabia o que era carne,

Nem sequer tinha lembrança

Das vezes que foi mijar

No tempo que era criança,

Mas fala, enganando os bestas:

- Tudo ganhei de herança!

IV

Nasceu nunca casa de taipa,

Rodeado de besouro,

Barbeiro, pulga e potó,

Desses que arrancam o couro,

E espalha que foi nascido

Em grande berço de ouro.

V

Passou a mão na viúva,

Que ficou o rebotalho;

Raspou o fundo do pote,

Porém balança o chocalho,

Se gabando que é rico

Em virtude do trabalho.

VI

Ergue uma taça de champanhe

(Um brinde bem merecido)

Faz uma cara de herói

Que na guerra tem vencido

E diz: - Eu me fiz por “si”,

Deveras bem-sucedido!

VII

Nunca deu um prego em nada,

Só fez jogada furtiva,

Ostenta, porém, um jeito

De pessoa bem altiva,

Legítimo representante

Da classe mais produtiva.

VIII

Comprou votos de São Paulo

Até Quixeramobim,

Deu também sarapatel

Na Feira de São Joaquim,

Mas diz e bate no peito:

- O povo gosta de mim!

IX

Prometeu melhores dias

Para um bocado de gente,

Vivia quase montado

No pescoço do vivente,

Mas, na hora de comer,

Só comeu quem foi parente.

X

Agora no xilindró,

Com saudade do faisão,

Come pão com margarina

E almoça rubacão

E diz: - Esse povo ingrato

Inda beija meu retrato

Nessa próxima eleição!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 14/03/2017
Código do texto: T5940815
Classificação de conteúdo: seguro