O MEU RIMANCEIRO * Sonho de Primavera

Quando tu acreditaste

que chegara a Primavera,

o medo gritou-te: espera!

e tu, confuso, esperaste.

Tiveste medo do medo,

do medo que te encarcera.

Foi porque tiveste medo

que perdeste a Primavera.

Depois, chegou o Verão,

muito quente, muito quente!

E tu, nessa lassidão,

dormias indiferente.

Quando acordaste, era Outono,

o tempo das azeitonas.

E tu, ainda com sono,

à modorra te abandonas!

Só quando em redor olhaste,

viste a paisagem mudada:

nua estava a débil haste,

no abandono desfolhada.

Ficaste sem entender

o que tinha acontecido,

como se pudesse haver

no não-ser algum sentido.

Hoje, nas águas paradas

do paúl tentas sonhar

caravelas encantadas

sedentas por navegar.

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 22 de Janeiro de 2017.

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 14/02/2017
Reeditado em 03/03/2018
Código do texto: T5912287
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