Houve um tempo

Houve um tempo que a tristeza era como o ouro,

Quase ninguém a tinha

E o bem era o maior tesouro

E a pobreza era coisa minha.

Houve um tempo onde os peixes, felizes,

corriam para longe do mar

Deslumbrados em seus próprios passos

Saltando em danças a tamborilar.

Houve um tempo

em que a morte, amiga minha,

Adormecida no ancoradouro

Deixava a vida tudo que ela tinha.

Houve um tempo em que a moça bela

era a de coração feliz

e a feiura era coisa boba

das fábulas infantis.

Houve um tempo, e há de acreditar,

que o ódio era coisa má

e a violência nada mais que contos,

para assustar quem não quisesse amar.

Houve um tempo em que sorrir

era lei marcial

e que quem a descumprisse era julgado muito mal,

de alma triste precisando amar.

Houve um tempo onde exploração

era apenas termo científico

de biólogo ou arqueólogo

quando estavam em expedição.

Houve um tempo que religião

era coisa de cada um

se dizes sim ou se dizes não

Não era problema algum.

Houve um tempo que apaixonar-se

era coisa para todos

do pobre ao mais pomposo

todos tinham a quem amar.

Houve um tempo que corrupção

era coisa de pessimista

que por não crer na bondade alheia

inventava suas bobagens mistas.

Houve um tempo de pura alegria

onde a princesa presa sabia

que seu amor a resgataria.

Houve um tempo,

e eu sei que houve!

Onde a dor por maior que fosse

Só era amor não correspondido.

Houve um tempo que apenas o amor importava

onde cantar, sorrir e chorar

faziam parte da mesma rima

De versos retos, versos de menina.

Houve um tempo,

E não me digas o contrário!

Onde o sofrer era réu primário

do júri do coração.

Houve um tempo

onde a infância, era idade sem igual

com seus festejos e alegrias,

festa de fundo de quintal.

Houve um tempo,

Se não me falha a memória,

que as pessoas se ajudavam

fazendo juntas uma mesma história.

Houve um tempo onde o preconceito,

era medo popular

nem sequer ouvia falar

de alguém indiferente.

Não importava quem estava lá

todos cantavam o mesmo amor,

ser humano era coisa única

e o preconceito coisa de horror.

Ninguém pensava em questionar

que tal conceito era um desamor.

Houve um tempo,

por favor me escute,

onde os corações pulsavam ao ver seu grande amor

como uma estória de paixão serena

ao encontro de seu grande autor.

Houve um tempo,

bela d`angola,

que teu beijo, o melhor do mundo,

com seus amores inda me devora.

Houve um tempo,

dama dos meus sonhos,

onde o amor era a melhor parte

de cada verso de minha arte.

Houve um tempo

que bem me contaram

onde meus olhos nunca enxergaram

e meu coração nunca o sentiu.

Mas eu sabia que de amor falavam

e de alegria o velho muito riu

quando ligeiramente me contaram

daquele tempo, sonho juvenil.

Pois houve um tempo,

o velho quem me disse

para que calmo eu ali dormisse

e sonhasse com o velho tempo.

E o tal tempo, que eu sei que houve

em cada verso de meu lápis torto

cada palavra de verso antigo.

Fiz desse tempo meu melhor amigo

Aquele tempo de amor, perdido.

Pois houve um tempo

de poemas tortos

versos ligeiros e palavras belas

De amores longos e paixões sinceras.

E o tal tempo, meu amigo morto,

quem sabe crendo nele só um pouco

talvez um dia haverá de novo

Em algum verso de meu sonho louco.