A FARRA DOS CONSIGNADOS
Miguezim de Princesa
I
Na cidade de Princesa,
Fronteira com Pernambuco,
Apareceu um prefeito,
Embriagado e maluco,
Que roubou a Prefeitura
Sem precisar de trabuco.
II
No Bar de Maria de Tia,
Tomou um litro de pinga,
Saiu dando trupicão,
Mas mesmo assim cheio de ginga,
Acabou beijando uma jega
Nas pedras da Pixilinga.
III
É doido, mas não é besta,
Faz as vezes de jumento:
Combinou com os secretários
Alguns adiantamentos
Pra compensar com empréstimos
E superfaturamentos.
IV
Bem na calada de noite,
Fez um esquema arretado
De liberação da margem
Pra empréstimo consignado
E desviar o dinheiro
De um edil já quebrado.
V
Numa cláusula do contrato
Deixou lá consignado
Que a Prefeitura assumia
Todo o passivo deixado
Se acaso o servidor
Ficasse desempregado.
VI
E nomeou os parentes
Nos cargos comissionados,
Os amigos dos parentes,
Os amigos mais chegados,
Todos pegando dinheiro
De empréstimo consignado.
VII
Uns entraram já no fim
Com o prefeito derrotado
Só deu tempo pra pegar
O tal do consignado
E deixar pra Prefeitura
Um rombo bem calculado.
VIII
Sei que o genro do prefeito
Pegou cento e vinte mil
Se mandou pra capital
Gastou tudo com chibiu
Na Rua das Ilusões
Junto com Zé de Oribiu.
IX
Secretária das Finanças
Viajou a Portugal,
Tomou tanto vinho do Porto
Que voltou passando mal
E passou um mês cagando
As postas do bacalhau.
X
Essa turma não se apruma,
Só sei que a coisa está feia
E o povo é quem paga o pato
Sem nenhum prato na ceia,
Esperando que os ladrões
Ganhem uma vaga na cadeia!