Conversa Com Um Anjo V

Bruna está contaminada pela dúvida. Será que andará pelas águas, com aparência de tranquilidade, sozinha? Até ao final...vendo seu corpo entrar no processo de envelhecimento, sem testemunha? Trata-se de um assunto delicado, Bruna está na encruzilhada da vida, busca equanimidade; pelas desventuras amorosas dá nome às insatisfações mais profundas. O homem, que tem como fonte de afeto e prazer em potencial no cantinho das suas expectativas, é vivido nos dias numa outra conotação, seja como companheiro de trabalho na profissão que escolheu, ou como igual na sobrevivência, do ter que comer, beber, vestir-se, auto-sustentar. Pratica a contemplação na sacada da vida, assistindo pares contracenarem no papel de “papai, mamãe e filhinhos”.

E ela? Nas profundezas do interior, como lida com a certeza da morte? Está sendo honesta no diagnóstico quando identifica seus fracassos no viver a dois?

O que dá justificativa às desilusões amorosas, será que provém do fato de que Bruna é insegura quanto ao ser aceita, amada, correspondida? Necessitaria do feedback do parceiro? Da estabilidade do emocional do outro garantindo sua auto afirmação permanentemente?, sabendo que assim como ela, ele também é como correnteza, muda?

Entre um relacionamento e outro Bruna tenta se acertar com alguém, mas acaba voltando para a casinha, campo neutro que usa todas as vezes que está na iminência de perder a direção da naus.

Por várias vezes insistiu manter-se no veículo do relacionamento que estava em estado desenfreado, saiu ferida, restando cicatrizes, depois de um longo período de convalescência.

Covardia? Egoísmo? Adoecimento da alma de Bruna pela falta do diagnóstico preciso dela para a causa do isolamento? O fato é que se estabeleceu um estranhamento entre ela e um parceiro num relacionamento duradouro, saudável.

Outra hipótese que não deveria ser descartada. Bruna sofre da angústia? Mal do século. A indiferença, a ausência de significação em relação ao que somos e o outro tem assolado a humanidade, cheia de débitos e creditos advindos do passado, faz parte de nós; pelo sangue que corre em nossas veias, pela família que nascemos, pelo grupo a que pertencemos, pelo mundo que passamos experimentar. Guerras, armas, o poder do dinheiro, o avanço discrepante da tecnologia e o refreamento do humano no homem, tudo isto pesa.

Bruna pode estar vagabundeando na inaceitação, autopiedade, até mesmo da perda da auto estima, que foi para o “ralo” nas andanças entre um relacionamento e outro, ou pode ainda ter caído na “arapuca” que ela mesma armou, de tentar usar o outro como muleta. Vida a dois é parceria, uma mais um, sem chance de antecipação de sucesso, somente testando para ver.

Estaria esta mulher no caminho do peregrino? Ou não?

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 26/04/2017
Código do texto: T5981912
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.