Conversa Com Um AnjoIV

Num piscar de olhos Bruna se viu só; ela, a mente e os sentidos que voltaram a efervescerem. Passou organizar a ebulição das ideias na solitude, estado que escolheu para estar naquele final de dia. Argumenta:

“ Não me familiarizo totalmente na pessoa que me tornei, apesar de que é nesta que atendo às minhas necessidades: de auto aceitação, de paz, da segurança emocional, da nitidez de visão para manter a marcha de ida. Acostumei. Por mais que procuro outro perfil, após os ajeitamentos me mantenho na mesma, nem feminina, nem feminista; com as ` mãos no gatilho’ vivo nos dias, não diferente das mulheres do final das últimas décadas, que se espremeram para serem aceitas na linha de frente junto com os demais.

Coçou o nariz com a ponta dos óculos, Bruna analisa corajosamente: “ Algumas mulheres mutaram, tendo algumas esbranquiçado suas naturezas, até mesmo esgotando seus instintos no desvio de energia, que inconscientemente canalizaram para outras atividades. Outras, tornaram assexuadas, tudo para se estabelecerem no espaço e na “selva”.

Bruna deu um suspiro, pensou:

“Quantas mulheres estão neste momento nas multifacetas das suas atividades, na linha do meio, entre a mamadeira e a profissão, outras, finalizando negociações e atropelando aqui e lá para ao final do dia poder ter o espaço do carinho, da companhia com o parceiro, firmes na expectativa de viver um relacionamento...ter filhos!. Tem aquelas ainda que abdicaram tudo isto, buscam realizar os afazeres para ao menos usufruírem da paz na sua intimidade ao final do dia, assim como eu nesta varanda.

E aqui, neste reduto escolhido, tenho, como do tamanho de um “grão de feijão”, a quimera; de usar pó compacto, baton e o rímel, avental e cozinha, exercer a liderança profissional, e labutar numa relação onde possa ser cultivado o amor.

Olhando um enfileirado de formigas que passavam no chão, Bruna tocou no imaginário que há pouco tinha desabrochado:

“O anjo? Até que me cativou! Mas trago a humanidade no sangue, e ainda tenho meu histórico, experiência escrita nos dias que não posso deletar, impressões que deixaram o recado ‘ na dúvida em poder tornar fracassada numa relação, opte pelo melhor, se reserve, fique onde está’. Conclui: “É, realmente! vivi um punhado de relacionamentos, abandonei alguns por falta de afeto, empatia intrínseca, outros, foi deixada na calada da noite. O último foi com João Vitor, namorado até o mês passado... até que durou, a relação sobreviveu por oito meses, mas estou como enguia ensaboada e vagalume, estou e não estou, tenho partilha de culpa. Vejo que estou virando um caso sem solução.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 24/04/2017
Código do texto: T5980106
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