Conversa Com Um anjo ll

Conversa com um Anjo II

O Anjo, dotado de compassividade, continuou:

___ E o relacionamento percorreu por meses... anos...vieram filhos, na criação deles tiveram a capacidade de dinamizar o processo, de modo que teve as quatro mãos, um e outro no conjunto. Os filhos cresceram, foram cada um para suas vidas, por várias vezes retornavam com suas aflições às casas dos pais para assistência parental, mas o casal, desde o começo, mantiveram íntegra a relação. Batendo suas asas como que num passatempo, sentado ao lado de Bruna, arremata:

___Os dois construíram uma verdadeira obra de arte, relacionamento que perdurou por cinquenta anos. Ela faleceu primeiro, com oitenta, ele aos noventa e cinco, depois de quinze de viuvez. Quanto à sua pergunta, digo que apresentou ser de sucesso a história a dois. Feliz? Não saberei ao certo, mas uma vida conjugal sólida.

Bruna desafiou com a derradeira pergunta:

___Qual foi então, anjo amigo! O “motor” que sustentou a relação? O amor?

O anjo olhou para o céu, era noite e as estrelas começavam a aparecer. Sua face foi tomada de um brilho incandescente, como da cor da calda de um foguete. Logo, o fulgor do reluzo esplendoroso do seu semblante adotou aspecto de paz indizível, momento em que abaixou o olhar, e dirigindo-os a Bruna, se pôs a falar.

___Menciona uma palavra que tenho aqui num contexto diverso dos humanos, apesar de fazer parte da mesma base de princípios.

Continuou:

___Para facilitar seu entendimento, usarei o adágio poetizado por Camões: “ Amor é fogo que arde sem se vê”. Encontramos nele verdades embutidas, de significado indescritível, palavras não dariam conta de descreverem-nas. O que posso dizer, que se nesta seara não ocorreu o amor , no mais alto sentido, encontrei almas contracenando no papel de marido e mulher expressando as mais variadas virtudes, que foram manifestas em reciprocidade. Atos que serviram em última hipótese de fogo, energia para a combustão ocorrer, resultando numa relação duradoura como foi, e principalmente, mantiveram em todo tempo o relacionamento com um aspecto saudável, viçoso para quem visse. Se foi o respeito, a tolerância, a ética, a paciência, a renúncia, o perdão, a cumplicidade, a admiração recíproca, e ainda o casal ter desenvolvido projeto em comum, como foi o caso deles, tudo indica que os lastros do amor esteve ali.

Bruna, no silêncio, menos apegada às dúvidas do começo, sabedora que num relacionamento, nem anjo com toda sua natureza protetora não alcança na essência a vida a dois.

A sabedoria diz que experiência neste assunto não se compra nem adquire em livro, o conhecimento dos segredos da arte do viver a dois. O relacionamento estável e duradouro ainda não foi alvo de “domínio público”, para fins de servir de referencial aos casais que predispõem terem vínculo conjugal. E seria isso possível um dia? Considerando que cada espírito em sua jornada não revela pelos atos totalmente o que foi, o que é...se foi um dia.

Somos esta coisa pronta, sem nome e documento de origem. Chegamos, aconchegamos nos braços uns dos outros, damos o nome disto de amor. Depois, começamos a descascarmos as cebolas que somos na convivência.Queiramos ou não, elas passam serem descascadas, camada por camada ... e quando chega ao miolo, as cascas passam ficar mais pequeninas e enroladinhas, até não existir mais uma sequer para dizer que existia “cebola “ ali. Costuma arder os olhos, trás mal cheiro as mãos no manuseio. Continuando o serviço, servimo-nos ao parceiro como tempero ao alimento que pedem para saciarem a alma; do prazer, do cotentamento na cama e fora, podendo até ser boa companhia para horas, parceria financeira, física, emocional, até espiritual, facilitando o conduzir do “trator de esteira” que a vida pede para arar a terra que será cultivada por cada um.

Outras vezes, na convivência, surgem desempates de entendimentos, opiniões, desgastes, falta de “liga” intrínseca entre as pares no conviver, passa existir sentimentos perversos no ego, tumultuando o seguimento do trajeto. A água que mantém o jardim com as “duas rosas” viçosas, começa sofrer interferência de material nocivo, passando envenenar as almas: ciúme, desprezo, antipatia de uma parte à outra, ou em reciprocidade, cobranças, desídia no trato, no tato. Feridas começam a serem evidenciadas, silenciosamente...e as almas, em conjunto ou separadamente, adoecem. Triste olhar para a situação neste ponto!...aqui, as partes começam a tomar caminho que poderá levar à mendicância emocional, e ao empobrecimento do canal que liga a alma às instâncias superiores de luz, o único que permite, pela intuição, a comunicação com o ser divino dentro de nós, que diz que “Eu Sou ”.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 20/04/2017
Código do texto: T5976428
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