DESTINO (PARTE I)

Era um sábado, dia 19 de dezembro de 1975, os plantões policiais sempre de prontidão máxima, atentos a qualquer movimentação estranha, que pudesse ser entendida como um perigo de roubos, homicídios ou crimes sexuais, os delitos mais temidos por vítimas em potencial, sem contar os acidentes de trânsito.E para incomodar, os bêbados. alguns dirigindo veículos automotores, outros cambaleando pelas ruas, aptos a serem atropelados, pelos automóveis.A cidade em polvorosa, São Tomé era sem dúvida um lugar médio e cheio de vida e mortes, afinal uma acompanha a outra. Passaram-se as horas e nada ocorreu de maior monta.Os motoristas de táxi transitavam por todos os cantos da cidade.

Em seu táxi Ford Corcel vermelho, Tomasio Lima conduzia muitos clientes para suas casas ou para as boates, cabarés, bares disfarçados. Levava mulheres bonitas, feias, bem vestidas e maltrapilhas.Homens carrancudos que pareciam bandidos,mas que na verdade eram seus conhecidos e a maioria eram trabalhadores.Havia também pessoas suspeitas, as quais conduzia sem falar nada,assentias com a cabeça apenas quando lhes davam a senha "destino".Assim passava a noite.

Lá pelas onze da noite Arlete Cantareira tomou o táxi de Tomasio Lima no ponto da Praça Central, em frente à Igreja, como assim era conhecido o lugar. Leve-me à boate Bom Viver e antes lhe informo um lugar para parar.O Ford Corcel vermelho avançou pela Av.Presidente Vargas e seguiu em frente, saiu da zona urbana e Arlete mandou o motorista parar num cruzamento escuro.Alguém abriu a porta e embarcou.Tomasio arrancou com o carro e parou na frente da boate Bom Viver, ouvia-se uma música dançante. Arlete passou ao motorista um pequeno maço de dinheiro e lhe deu boa noite, pedindo ainda lhe buscasse às 06horas.Ambos os pasagediros saltaram do carro e Tomásio fez o retorno em direção ao seu ponto.Meia noite e Tomásio tomou um café de sua garrafa térmica, comeu alguns biscoitos e recostou-se no banco.Por volta de uma hora da manhã dois jovens embarcaram, um deles sentou-se na frente enquanto o outro elemento ficou bem atrás do motorista. Tomásio teve um arrepio,mas perguntou onde iriam, no que responderam-lhe em uníssono:"destino". Tomásio estranhou aqueles dois não estarem com um pacote, como o faziam os outros da senha "destino". Levou-os onde sempre levava as pessoas da palavra "destino". recebeu o pagamento e pensou em levar o dinheiro para casa, sua mulher estaria dormindo,mas esconderia no seu galpão, pois estava com um bom dinheiroi e não poderia correr riscos.

Na Delegacia de Polícia o telefone chamou às 3h30min. com a informação de um estranho táxi Ford Corcel vermelho à beira dos Eucaliptos da estrada beira trilhos. Policiais deslocaram-se e de fato lá encontraram o táxi abandonado sem sinais do motorista.Chamaram o guincho e recolheram o veículo para o pátio depósito de veículos automotores.À luz de uma lanterna os policiais examinaram o carro e não notaram nada estranho, aguardariam a perícia ainda naquele dia se fosse possível.

Na hora marcada Arlete aguardava a sua condução, passou mais dde meia hora e Tomásio não veio, então arriscou-se a pedir uma carona com um motorista já meio embriagado,mas era o jeito, estava cansada, amarrotada, com a maquiagem vencida, dançara com muitos homens, bebeu bastante e transou com alguns, de forma que sua bolsa estava com bom dinheiro, o lugar era frequentado por ricos e eles sempre lhe pagavam mais do que valia o trabalho. O Bêbado a deixou próximo do ponto da Av.Presidente Vargas.Tomásio não estava lá.Perguntou por ele e o único motorista presente disse que talvez tivesse se recolhido, pois não via há algumas horas.Embarcou naquele táxi e foi embora para casa.

Os policiais foram para a base e de lá fizeram ligações telefônicas diversas, alertas e pesquisas, sendo uma delas ao ponto de táxi.Ninguém sabia do motorista do táxi Ford Corcel Vermelho.No entanto ficaram sabendo que Tomásio tinha alguns clientes certos que não eram boa gente, diziam tratar-se de traficantes de maconha,mas ninguém sabia o paradeiro dessa gente.Buscas básicas trouxeram informações sobre a Boate Bom Viver onde algumas sonolentas mulheres nada souberam informar.Apenas disseram que a única mulher frequentadora do lugar e que nao residia ali, chamava-se Arlete Cantareira, deslocava-se num táxi todas as noites e no final dos expedientes, endereço apenas Bairro das Pedras.

O homem que embarcou no táxi com Arlete chamava-se Antonio conhecido pela alcunha de Tonico, era um conhecido vagabundo, diziam ser perigoso embora parecesse um homem pacífico e, chegando no Bom Viver, deu um beijo em Arlete, pegou um veículo que estava na garagem e foi na direção do lugar chamado por eles "destino".

A equipe de Investigação tomou a frente do trabalho e descobriu muito sobre a vida de Tomásio, que o cara era um safado sem compromisso com a legalidade,nem com a família e fazia transportes regulares que talvez não fossem legais,no entanto não o localizaram vivo ou morto.Diziam ainda à boca pequena, que Tomásio Lima conduzia "moças" para orgia de alguns ricos,levando-as hora a um lugar, ora a outros, todos desconhecidos dos informantes.

O dia passou calmo para a polícia e começou a segunda-feira agitado. Haviam encontrado um cadáver de homem branco, cerca de 50 anos,às margens da rodovia da Charqueada, portanto bem longe, cerca de 10 km do local onde fora encontrado o Ford Corcel táxi vermelho.

drmoura
Enviado por drmoura em 22/10/2017
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