Os Segredos da Rua Baker 3: 3-O Início da Volta

Irene se percebia parada na frente daquela casa em que esteve por tantas vezes e por várias razões diferentes. Muitas delas sem ter noção da real identidade daquele homem com quem teria de dançar no seu mais difícil jogo.

Ela entrava ali agora consciente de seu propósito; consciente do passo difícil que estava dando; consciente que reiniciar esse jogo significaria finais extremos: vida ou morte; liberdade ou prisão eterna.

Irene se lembrou das palavras do pai.

Você deve se comprometer de verdade com o Sigerson. Ele não vai acreditar em qualquer atuação e nunca será manipulado tão facilmente. Mas sempre mantenha uma válvula de escape por perto.

Sua válvula de escape viria depois, ela primeiro precisava se quebrar para conseguir se consertar. Até poderia estar contradizendo a primeira regra que o Sherlock lhe disse, mas ela nunca foi alguém de seguir regras. Prefere criar suas próprias.

Sigerson a esperava no seu escritório já com tudo pronto. Ela entra na hora marcada e é encaminhada a uma poltrona na frente dele.

-Um metrônomo? Vai me hipnotizar como fizeram na minha infância?

-É uma forma bem eficaz. Se não der certo poderemos utilizar algum tipo de droga.

-Tiopentato de sódio?

-Não pretendo realizar uma entrevista narcoanalítica. Mesmo se eu quisesse você sabe como burlar esse tipo de artifício. Lembro-me do Morse ter tentado certa vez.

-Sim. Devo ter falado muitas bobagens.

-Descreveu como decorou o mapa de Londres. - Os dois gargalharam. – Vamos dar início. – Ligou o metrônomo. – Feche os olhos... Se imagine em um lugar seguro e confortável... Não importa aonde vá, minha voz irá junto.

Irene sentiu como se fosse se afastando do próprio corpo, mergulhando em uma profunda escuridão. Não via ou ouvia nada. Até surgirem vozes de crianças rindo, passaram ao seu lado e quando se virou viu sua mãe com um bebê no colo, só aí notou segurar a mão do Sherlock.

-Irene, essa é sua irmã Diana. – Disse ele.

-Ela não é linda? – Perguntou Lilian.

-Parece funcionar bem.

Ela se aproximou da irmã e quando a tocou na bochecha, Diana se transformou em uma boneca de porcelana que chorava copiosamente. Ao retornar seu olhar para os pais, eles pareciam usar máscaras brancas sem qualquer expressão. Irene pareceu regressar bastante abalada desse pesadelo.

-Isso não está funcionando! – Falou já parando o metrônomo.

-O que você viu?

-Não deu certo, Sigerson!

-Você tem de me contar. – Ela continuava calada e tensa. – Essas imagens foram apenas o seu cérebro transformando as lembranças escondidas para você se manter distante. Temos de tentar de novo.

-Não...

-Apenas mais uma vez. – Ele segura suas mãos na tentativa de acalmá-la e criar um laço de confiança.

Tiveram o mesmo resultado, apenas a boneca parecia mais antiga e frágil. Irene estava se tremendo, com a respiração ofegante. Sigerson decidiu usar drogas, pois a mente da sobrinha lutava bravamente para não destrancar suas memórias.

-Terei de usar...

-Não quero saber. Apenas faça.

-Você deveria ir descansar. Em dois dias...

Ela puxou a manga da camisa.

-Vamos logo com isso.

-Não sei se você é muito corajosa ou muito estúpida.

-Os dois. Acostume-se.

Após a aplicação, Irene se viu no mesmo pesadelo, mas haviam espelhos quebrados no lugar dos olhos dos pais e saía muito sangue coagulado da boca deles. Ao se aproximar da boneca, ela pôde tirar um pedaço da porcelana que parecia rachar cada vez mais. A boneca foi se transformando em um bebê feito apenas do sistema muscular. Irene “acordou” com o barulho do celular tocando.

-Eu tenho de ir.

-O remédio ainda está atuando, talvez tenha algumas alucinações. Aconselho a ir lá para cima e dormir um pouco.

-O John está me chamando, eu tenho de ir.

-Tem sentimentos por ele agora?

-Não ouse brincar com o John!

-Oh, ele conseguiu significar algo para você. Interessante!

-Lembre-se, Sigerson, eu posso ter te pedido ajuda, mas se fizer algo com o John, eu faço algo com você. Tem minha palavra.

Após pegar um táxi, ela chegou a um antigo hotel de Londres. Como na mensagem havia o número do quarto nem precisou parar na recepção. Uma cobertura extremamente elegante e gigantesca. John atendeu a porta.

-O que aconte... –Disse entrando, mas parou a vê o rosto do amigo. – Você não me mandou aquela mensagem, não é?

-Não.

-Eu estava fazendo algo importante. Onde ela está?

-Aqui! – Falou Diana entrando na parte social do quarto.

Irene teve de desviar o olhar, pois o rosto da irmã parecia estar despedaçando. John percebeu, mas preferiu não comentar.

-O que quer Diana?

-Ainda não notou? Bem, peço desculpas pela emboscada, mas não achei que fosse me atender.

-Iria sim. Não tão prontamente, mas iria. Afinal poderia ser a respeito do caso do seu marido.

-Por que não está me olhando?

-Diga logo, eu preciso voltar... – Ela começou a sentir cheiros familiares. – Olá Alex e Mycroft.

-É uma conversa de família, se me dão licença.

-Deveria ficar inspetor. – Disse Mycroft adentrando. – Você também faz parte da vida da minha sobrinha.

-Eu não sou mais parte da vida dela. – Ele a fitava. – Apenas fiz um favor a uma amiga. – Se retirou logo após essa frase.

Irene ainda mantinha os olhos na porta que acabara de ser fechada quando Mycroft começou com as perguntas.

-Quando você chegou?

-O que?

-Você me ouviu, Irene, não me faça repetir.

-Ontem.

-E desde ontem você se tornou íntima do Sigerson?

-Precisava de todo esse circo para me perguntar isso?

-Por que não está olhando para Diana? O que você vê?

-Não seja paranoico, Mycorft. Sigerson me fez uma visita, como era de se esperar e eu lhe fiz um pedido: ajudar-me a recuperar minha memória.

-Essa foi a atitude mais estúpida já tomada por você.

-Depois de tudo que lhe foi revelado, Irene, você vai mesmo deixar esse homem entrar na sua mente? – Perguntou Diana.

-Ele está me ajudando.

-Sigerson está te usando! Logo estará fazendo escolhas nunca antes imaginadas. Pensará que você as fez, mas na verdade foi ele.

-Sim, porque pra você, eu sou assim tão frágil.

-E você nem percebe.

Ela se aproxima do tio, não era fácil ficar perto dele sabendo de sua saúde. Irene queria ter evitado esse encontro por mais umas semanas, mas não se pode dizer que estava concentrada nos possíveis passos dele.

-Eu vou lembrar o que você me fez esquecer! Portanto se me acontecer algo enquanto eu estiver nas mãos do Sigerson... Bem, é um peso para você carregar.

-Não seja assim Sigerson!

As três o encaram.

-Confundindo as coisas, tio? – Irene questionou com sarcasmo.

-Você já está começando a agir como ele. – Mycroft estava visivelmente sem graça.

-Por que será? Ele se decepcionou com o irmão mais novo; traído pela família, de certa forma. Eu consigo entender as atitudes drásticas após tudo. Afinal, o mundo gira, o tempo passa e nada muda.

-Você está exagerando. – Comentou Diana.

-De fato. – Começou Alex. – Irene, você não pode...

-Não me venha você falar comigo! Eu vou continuar visitando e sendo visitada pelo Sigerson, vocês querendo ou não. Boa tarde!

Ela sai deixando todos preocupados, principalmente Mycroft que estava apreensivo com o comportamento destrutivamente compulsivo já visto previamente naquela família.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 27/09/2017
Reeditado em 09/10/2017
Código do texto: T6125948
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