O mistério da casa verde.

   O empregado desce apressadamente as escadas da majestosa mansão, após ouvir o estampido de algo parecido como um tiro, ao chegar à sala, a terrível tragédia, lá estava o seu patrão, Olavo de Almeida, estava estendido no chão, ao seu lado uma poça de sangue e um revólver caído. A porta da sala da mansão que dava acesso para os jardins da casa estava aberta.

   Seu Olavo era viúvo, tinha duas filhas que moravam na Alemanha, no primeiro instante o choque foi tão grande que paralisou o empregado Rodolfo que trabalhava a mais de vinte anos naquela mesma mansão verde, localizada na esquina de uma importante rua da cidade de Bragança, no sul de Minas Gerais.

   Seu Olavo, como era conhecido por todos na cidade, foi um importante advogado, já não exercia a profissão, estava aposentado fazia cinco anos. Uma excelente pessoa que se dava bem com todos, nunca teve discussões com ninguém, estava sempre sorrindo e era muito brincalhão, não demorou nada para os vizinhos entrarem na casa e avistarem o corpo do amigo estendido na sala, Rodolfo havia desmaiado não aguentou ver aquela terrível cena.

   Joaquim que era vizinho de seu Olavo há mais de trinta anos, foi ele quem chamou a polícia, não demorou nem dez minutos e as viaturas já estavam na porta da mansão, houve uma aglomeração enorme dos vizinhos querendo saber o que teria acontecido, a polícia científica chegou em seguida, retirando os curiosos de dentro da mansão e cercando todo o lugar. O delegado Claus veio pessoalmente ver a cena do crime, a princípio, parecia ser um suicídio, mas só a polícia científica que daria as conclusões certas, seu Rodolfo, o empregado da casa, aos poucos recobrava a consciência, mas ainda estava muito abalado com a morte do patrão. O delegado Claus era muito competente, já havia solucionado muitos casos semelhantes, mas aquele estava envolto de mistérios.

   A notícia da morte do seu Olavo se espalhou rapidamente na vizinhança, ninguém acreditava na hipótese de suicídio, era inconcebível tal para quem o conhecia, as pessoas e amigos comentavam entre si o que poderia ter acontecido. Dois policiais forenses analisavam a cena do crime, tiraram inúmeras fotos. Na mansão estava apenas o delegado Claus, o vizinho Joaquim, e seu Rodolfo o empregado, que já havia se recuperado do desmaio e estava mais calmo.

   - Boa noite senhores, meu nome é Claus Bávaro, sou o delegado responsável pelas investigações, qualquer novidade estarei contatando os senhores.

    Após apresentar-se, o delegado saiu caminhando,   ele não era de muita conversa, tinha um jeito seco e às vezes parecia até rude, mas era o seu jeito, ele continuou a caminhar quando dois dos investigadores o chamou.

   - Olá, boa noite, delegado Claus, eu sou André e este é meu assistente Alex. Estamos substituindo os outros dois investigadores que estão de férias. Bom,  vamos logo ao caso, o que temos aqui?

   - Muito bem senhores, vamos lá. Este senhor que está morto era o dono desta casa, todos aqui o conheciam, uma excelente pessoa. Aquele outro senhor ali sentado é o seu empregado, ele foi o primeiro a ver o corpo, acabou desmaiando e machucando sua cabeça, motivo de estar com curativos na cabeça, conforme os senhores estão vendo. Ainda pouco eu fiz uma varredura na casa e nada foi roubado, a única coisa anormal que vimos, e o próprio empregado confirmou, foi à porta da sala por onde os senhores entraram que estava aberta. A princípio parece ser um suicídio, entretanto, a versão de suicídio os moradores e vizinhos se negam a acreditar, inclusive, perdoe-me por não apresenta-lo, aquele outro senhor ali, Joaquim, foi quem chamou a polícia.

   - Tudo bem delegado Claus, eu assumo daqui, vamos fazer uma triagem para ver se não há nenhuma outra evidência que esteja oculta aos nossos olhos, e que possa dar outro sentido a esse possível suicídio.

   - Tudo bem, vou levar as testemunhas comigo, ah, outra coisa, este senhor tem duas filhas, morram na Alemanha e já foram notificadas da morte do pai, estarão aqui dentro de alguns dias.

  - Tudo bem, quaisquer coisas ligamos para o senhor, nos mantenha informados caso descubra qualquer coisa, uma boa noite delegado.

   - Tudo bem, uma boa noite para os senhores também. E a propósito, cuidado, afinal, a versão de suicídio é uma hipótese não confirmada.

   - Tomaremos cuidado, obrigado.

   O delegado Claus levou o em pregado Rodolfo e o vizinho para um depoimento, mesmo trabalhando com a hipótese de suicídio, não era descartado o assassinato premeditado do senhor Olavo.

    Pouco tempo depois, ao chegarem à delegacia, o primeiro a depor foi o vinho.

   - Boa noite senhor Joaquim, por favor, me explique desde o começo, tudo quanto o senhor viu e fez.

   - Delegado… Sou amigo há muitos anos do Olavo, e sinceramente… Não creio que tenha sido suicídio.

   - É isso que estamos tentando descobrir senhor Joaquim, por isso é importante o depoimento sincero dos senhores.

   - Certo delegado, comecemos então. Eu estava na cozinha da minha casa, por volta das oito horas da noite, preparando o meu jantar, minha esposa e meus dois filhos viajaram, no momento em que preparava o jantar, ouvi um som estridente e abafado, parecia vir da casa do Olavo. Imediatamente eu sai correndo e fui direto para a casa dele conferir, sabe como é né delegado, tem tanta coisa ruim acontecendo por aí. O portão de saída da casa estava aberto, estranhei, mas tudo bem… Mesmo assim entrei, passei pelo jardim e vi a porta da sala aberta, quando entrei, vi a terrível cena, seu Olavo caído de um lado e o Rodolfo de outro, meu celular estava no bolso, imediatamente liguei para o resgate e em seguida para vocês.

   - O que o senhor sentiu quando os viu caído no chão?

   - Medo…. Muito medo.

   - Há quanto tempo os senhores se conheciam?

   - Mais ou menos trinta anos.

   - O senhor já testemunhou alguma briga dele com alguém, com o empregado, ou outro vizinho, ou algum cliente antigo, ou ficou sabendo de alguma discussão dele no trânsito, ou qualquer coisa dessa natureza?

   - Não senhor, nunca em trinta anos de convivência, nunca presenciei o Olavo triste ou bravo, ou brigando…Jamais doutor, seu Olavo sempre estava sorrindo.

   - Muito bem seu Joaquim, o senhor está dispensado por enquanto, por favor, espere do lado de fora da sala, e peça o senhor Rodolfo que entre.

   

   Rodolfo entrou na sala com o semblante visivelmente abalado, ele estava com medo, assustado, olhava para todos os lados, assustava-se com qualquer barulho, mesmo assim, se dispôs a testemunhar.

   - Boa noite seu Rodolfo, o senhor está em condições de depor? Acredita que não terá nenhum problema ao fazê-lo.

   - Não senhor, não terei nenhum problema em depor.

   - Muito bem seu Rodolfo. Há quanto tempo o senhor conhece o senhor Olavo? E me conte sobre o que aconteceu hoje, como foi que o senhor, que era o único quem estava dentro da casa, viu, ou melhor, o senhor percebeu que algo de anormal tinha ocorrido? Em qual cômodo da casa estava o senhor estava no momento da morte do senhor Olavo?

   - Eu conheço o doutor Olavo desde criança delegado, nós fomos criados juntos, depois de adolescentes nos separamos, e foi cada um para o seu rumo. Quando eu vim para Bragança há vinte anos, procurando por emprego, eu não sabia que o Olavo morava aqui, fazia muitos anos não nos víamos, foi uma grande alegria revê-lo e saber que ele era um importante advogado, depois de uma longa conversa, ele me ofereceu emprego na casa dele, aceitei de imediato, eu praticamente criei as suas duas filhas dele.

   - O senhor tem esposa e filhos senhor Rodolfo?

   - Não delegado, a minha família era a família dele, eu tenho um problema genético, por isso não posso ter filhos.

  - Como, e, em que momento o senhor percebeu que havia algo de errado na casa, ou melhor, onde o senhor estava exatamente no momento do disparo?

   - Eu estava no meu quarto, que fica na parte de cima da mansão, eu já havia servido o jantar do senhor Olavo, inclusive jantei com ele, após a janta ele se dirigiu para a sala de estar, ele falava ao celular não sei com quem, eu fui arrumar a cozinha, e depois que terminei subi para o meu quarto, o senhor Olavo ainda continuava na sala de estar, sentado de frente com a porta da saída. Eu entrei no meu quarto e comecei a me preparar para dormir, eu sempre durmo cedo, mas foi nesta hora que ouvi o barulho da porta abrindo e depois o barulho de um estrondo, me assustei desci a escada às pressas foi quando me deparei com a cena horrenda, neste momento não me lembro de mais nada, só depois com os paramédicos me socorrendo, acho que foi nesta hora em que desmaiei.

   - Tudo bem senhor Rodolfo, já é o suficiente, vou liberar os senhores, qualquer coisa os chamo novamente, vou pedir para um mandar um táxi levarem os senhores em casa tudo bem.

   - Obrigado delegado, estamos à sua disposição.

   Os dois se retiram da delegacia, um táxi os esperava do lado de fora, foram embora, sem nada dizer, apenas o semblante triste e as lágrimas nos olhos dos dois senhores.

   O telefone da delegacia toca, era de um dos investigadores que estavam na casa.

   - Alou... Delegado Claus.

   - Alou, sim claro, diga André, o que foi? Alguma novidade.

   - Não senhor, nenhuma por enquanto; isso que é estranho, as únicas digitais que encontramos aqui eram do próprio morador, inclusive na porta que estava aberta e no portão pelo lado de dentro, nem mesmo do funcionário encontramos digitais. A única coisa que encontramos foi um telefone celular que estava no seu bolso da vítima, verificamos a última ligação do celular, e era para uma das filhas que está na Alemanha, o corpo já foi removido para o necrotério, só nos resta aguardar os resultados da autópsia, ao que tudo parece é mesmo um caso de suicídio.

   - Ok. Obrigado detetive, qualquer coisa me liga.

  

   "Algo não encaixava na história, se o Olavo era essa pessoa alegre e tão boa como disseram, não tem porque ele se matar." Pensava o delegado coçando a cabeça, embora todas as evidências apontam para o suicídio, algo estava errado e ele estava disposto a desvendar o mistério da casa verde.

   Faziam dois dias da morte do Dr. Olavo, o corpo ainda estava no necrotério, ele só seria enterrado quando finalizasse a investigação do caso. O delegado Claus conseguiu com o juiz autorização para prosseguir com o caso mediante as novas evidências que foram encontradas e que dariam ao caso uma nova direção.

   As filhas do falecido Dr. Olavo chegariam naquela manhã à cidade de Bragança, As duas moravam juntas na Alemanha, a mais velha,Azira, foi a primeira a ir para a Europa. A filha mais nova, Ana, foi dois anos depois da irmã, já fazia cinco anos que a mais velha estava fora e três anos da mais nova. Ambas desde que viajaram nunca tinham retornado ao Brasil, nem no tempo de férias.

   Não houve necessidade do empregado Rodolfo  buscá-las no aeroporto da cidade vizinha a Bragança, as duas vieram de táxi, Rodolfo estava preparando um saboroso almoço para as meninas, afinal, eram cinco anos fora e a saudade apertava no peito do velho e prestativo Rodolfo, que foi quem as criou, a consideração delas para com ele era a mesma que tinham pelo pai.

   Na suntuosa mansão o local da morte do Dr. Olavo continuava isolado a pedido da polícia, haveria outras investigações na tentativa de colher novas evidências, a imagem das fitas zebradas cercando a sala incomodava Rodolfo, mas era necessário. Quando foi dez horas da manhã Rodolfo ouviu o barulho de buzina, saiu correndo em direção ao portão, eram as meninas que haviam chegado de viagem, ao vê-las, o velho amigo e empregado há tantos anos naquela casa, começou a chorar copiosamente, tamanha foi sua emoção, as meninas também choraram, era uma mistura de alegria, angústia, saudades e desespero.

   - Meus amores, há quanto tempo, como vocês estão bonitas, meu Deus, entrem por favor, vocês devem de estarem cansadas, eu já preparei o quarto de vocês. Eu gostaria que o motivo da vinda de vocês fosse por outros motivos, mas agora é a hora de juntarmos nossas forças e enfrentarmos juntos essa situação e descobrirmos o que de fato aconteceu.

   Disse o velho com os olhos cheios de lágrimas.

   - Olá Rodolfo, estávamos com saudades de você também -- Respondeu a mais velha abraçando-o com força.

   - Olá Rodolfo, estamos ainda sem entender o que aconteceu, parece mais um pesadelo -- Disse a mais nova abraçando-o também, lágrimas corriam teimosas da face do velho.

   Todos entraram pela parte do fundo da casa, enquanto Rodolfo explicava-lhes todo o acontecido, e o motivo da sala ficar isolada. Quando as meninas entraram pela parte do fundo, foram direto para a sala onde o pai faleceu, ao ver o local da morte do pai, ver as fitas zebradas isolavam do tudo, e a marca se sangue que ainda estava no chão, ambas se abraçaram chorando, a cena era desoladora, Rodolfo podia sentir a dor que as meninas sentiam transpassar sua alma, ele também começou a chorar e abraçou as duas meninas, as retirando daquele local. As duas se dirigiram para os seus quartos, estavam ainda muito abaladas com tudo, Rodolfo continuou com o almoço, embora sua vontade fosse de sumir no mundo, de desaparecer, ele sabia que as meninas não tinha mais ninguém além dele.

ENQUANTO ISSO NA DELEGACIA.

   O delegado Claus havia conseguido junto ao Juiz uma autorização para que o corpo do Dr. Olavo não fosse velado antes do término das investigações. Eram quase meio dia, à hora do almoço do delegado, no momento em que levantou e se dirigia para fora da sua sala, veio correndo em sua direção o investigador André, com alguns papéis nas mãos.

   - Delegado Claus, delegado..  Um minuto da sua atenção, por favor, delegado Claus.

  - O que houve rapaz, por que o desespero, é hora do meu almoço, você tem alguma novidade? Se não tem, por favor, é minha hora de almoço.

   - Acabei de vir do laboratório delegado, e tenho novidades para o senhor -- Disse o investigador todo eufórico.

  - Se tem diga logo.

  - Sim claro ─ Respondeu sorrindo ─ A bala do revólver trinta e oito ficou alojada no crânio da vítima, e para nossa surpresa, ela não bate com as ranhuras na cápsula deflagrada que ficou no trinta e oito da vítima. E tem mais, as digitais nesta cápsula deflagrada não é da vítima, as outras cinco são da vítima, mas a que foi disparada não é dele, ou seja, alguém trocou este projétil que o matou. Explicou o detetive. Ou seja, alguém com outra arma semelhante a dele, efetuou o disparo que o matou, e depois, trocou os projéteis a fim de parecer que foi suicídio.

   - Então nossa vítima não se suicidou, interessante detetive, ele foi assassinado, bem que desconfiei isso muda tudo, e certamente que nos dará muito trabalho daqui por diante.

   - Vou ter que voltar na casa e ver se descubro algo novo delegado.

   - Faça isso André, eu tenho um palpite, vou chamar para depor novamente o vizinho e as filhas do falecido.

   - No que o senhor está pensando? O senhor desconfia do vizinho? Perguntou André.

   - Até este caso está concluído, todos são suspeitos meu caro detetive, todos.

   Neste momento o investigador se retira indo direto para a mansão do falecido Dr. Olavo, o delegado foi almoçar, mas antes mandou uma intimação para depoimento, tanto para o vizinho como para as filhas da vítima.

JÁ NA MANSÃO.

   O almoço já estava servido, as meninas desceram de seus quartos, Rodolfo preparara um saboroso purê de batatas, o prato preferido das meninas. Ambas estavam muito tristes e quietas, sentaram à mesa, e quietas olharam para a cadeira vazia na cabeceira da mesa, era o lugar preferido do pai, não houve palavras, uma lágrima sentida e silenciosa rolou na face da filha mais velha, e a lágrima descrevia o momento de dor das meninas. Por fim, a mais nova quebrou o silêncio e iniciou uma conversa na tentativa quase desesperada de aliviar a dor que sentia na alma.

   - Rodolfo, me responda uma coisa. Quando iremos velar o papai? Quando isso tudo vai terminar?

   - Infelizmente minha doce criança, temos que esperar o desfecho dessa investigação, pelo menos foi o que me disse o delegado Claus, não podemos fazer nada.

   

   Naquele momento toca a campainha, Rodolfo levanta-se e vai atender, era o investigador André.

   - Desde já, desculpe-me pelo incômodo senhor Rodolfo, mas tenho novidades a respeito da morte do Dr. Olavo, se me permitir, eu gostaria de ver novamente o local da morte, vou tentar de descobrir novas pistas baseado nas informações que tenho.

   Disse o detetive meio sem jeito.

   - Por favor detetive, entre, e aliás as filhas do Dr. Olavo chegaram, elas estão muito abaladas com a morte do pai, por favor, seja discreto.

   - Quando as meninas ouviram o diálogo dos dois imediatamente levantaram-se e foram até onde eles estavam. Ao vê-las o investigador educadamente foi cumprimentá-las.

   - Boa tarde moças, embora o termo boa, não seja o mais adequado dados as circunstâncias. Eu sou o investigador André, perdão pelo incômodo, eu prometo ser rápido e discreto.

   - Olá… Eu sou Azira, e essa é minha irmã Ana, foi impressão minha ou você dizia ao Rodolfo que tinha novidades a respeito da morte de nosso pai. Perguntou a filha mais velha.

   - Sim claro, eu tenho novidades, mas não sei se é o momento adequado para falar sobre isso.

   - Não nos esconda nada detetive, já sofremos demais.

    - Tudo bem então, o projétil retirado da cabeça do pai de vocês não bate com a cápsula deflagrado na arma que estava junto dele, ou seja, alguém que ainda não sabemos, que pode ser o provável assassino que matou o pai de vocês e fez parecer que foi um suicídio, trocando os projéteis na arma. Encontramos as digitais do seu pai nos cincos projéteis que não foi deflagrado, a arma do pai de vocês tinha registro, já o que foi disparado tem uma digital diferente, ainda não sabemos de quem é, mas é só questão de tempo para descobrirmos. Antes que eu me esqueça, o delegado pediu-me para entregá-las uma intimação para depor amanhã de manhã, não é nada de mais, por favor não se assustem. Tudo bem para vocês, é coisa simples e rápida.

   - Meu Deus -- Disse a mais velha -- Quem mataria o papai? Ele nunca teve inimigo, pelo menos nunca ficamos sabendo, mas iremos sim sem problema detetive, faremos qualquer coisa para cooperar, aproveitando que você está aqui quer almoçar conosco.

   - Não obrigado senhores, acabei de almoçar, mas obrigado pelo convite.

    As meninas se retiraram para a cozinha, enquanto isso, o investigador começava o seu trabalho; pela expressão de sorriso em seu rosto, ele havia conseguido novas evidências na cena do crime, e, elas dariam mais consistência ao caso, era questão de horas. Pelo andamento das investigações o suspeito do delegado Claus era o mesmo do investigador André. Terminado o seu trabalho retirou-se às pressas para a delegacia, o tempo seria fundamental para o sucesso desse caso.

   O delegado Claus desconfiava do vizinho do Dr. Olavo, ele aguardava as digitais do vizinho que a perícia tinha colhido, faria uma comparação com as digitais encontradas na bala, embora certa dúvida pairasse sobre os seus pensamentos, ele tinha uma grande convicção de que o vizinho Joaquim era o culpado pelo assassinato. A sala do delegado era pequena e um pouco bagunçada, de forma que dificultava seu trabalho, mas o delegado era conhecido pelo seu brilhantismo nos inúmeros casos que resolveu durante sua carreira, aquele caso seria o seu último antes de se aposentar, sua tão aguardava aposentadoria aconteceria logo, era somente o desfecho desse caso.

   Neste momento o investigador André entra na sala com um sorriso no rosto, ele retornava da casa do Dr. Olavo, e dessa vez visita não foi em vão, ele havia descoberto uma importante evidência.

   - Delegado Claus, posso entrar? Pergunto André sorrindo.

   - Claro, entre André, pelo sorriso em sua cara, deduzo que sua ida à casa da vítima foi produtiva e proveitosa, estou certo. Disse o delegado com uma caneta entre os dentes.

   - Mas o senhor é mesmo impressionante, estou tentado a acreditar que você lê pensamentos.

   - O delegado soltou uma gargalhada alta seguida de tosses roucas e repetidas vezes.

   - Desculpe, mas certamente que este dom não é de meu domínio, se assim fosse não teríamos tantos contratempos e chateações nesta profissão tão inglória, embora minha risada seja a expressão da minha alegria pelo fato da aposentadoria após este caso, o seu sucesso é o meu sucesso meu caro.

   - Muito bem delegado, conheci as filhas da vítimas, adoráveis meninas, e muito belas por sinal, mas eu não lhes disse nada a respeito das descobertas, só que temos um problema, se o meu suspeito for o mesmo do senhor, elas correm perigo.

   - O vizinho, seu Joaquim. Disse o delegado com expressão de espanto.

   - Isso mesmo, o vizinho.

   - Mas diga-me qual evidencia de relevante interesse você colheu?

   - Nosso suspeito usou de um cuidado meticuloso para que não fosse pego, mas como não existe crime perfeito, o erro cometido que o denunciou primeiro foi à mentira, a sua esposa e filhos não estão viajando, na verdade ele está divorciado, o Rodolfo me contou. Outra coisa, ele não está na casa ela está fechada, o portão da casa dele é de grandes, isso me permitiu colher a digital que acredito ser dele por ser o último a sair da casa, assim eu fiz e vim correndo para cá, comparei as digitais no portão com as na cápsula, e pronto, bateram todas, o cretino esqueceu de limpar a cápsula deflagrada. Outro dado que chegou às minhas mãos muito importante por sinal. Foi o fato desta cápsula estar já com sinais de ferrugem na parte interna isso prova que ela não foi disparada naquele dia, os dados estão todos aqui neste relatório que preparei, dê uma olhada, e outra coisa que nem reparamos, a trajetória da bala disparada tem uma certa inclinação, de forma que quem a disparou era de uma altura de mais ou menos um metro e noventa, a vítima tinha um metro e setenta, portanto não teria como ele fazer aquele disparo contra ela mesma em um ângulo de vinte graus acima. Se ele tivesse feito o disparo teria sido de baixo para cima, não de cima para baixo, ou no máximo em linha reta, e o projétil teria atravessado seu crânio, coisa que não aconteceu.

   - Muito bem, parabéns André, deixe-me ver esses relatórios.

   - Fique a vontade.

   O delegado tomou os papéis nas mãos, um sorriso desponta em seu rosto.

   - Temos um problema meu jovem, as meninas e o empregado.

   - O que têm eles delegado? Não estou entendendo.

   - Veja bem, no dia em que o interroguei o vizinho, a sua frieza foi a tal ponto de até chorar na saída, quando pedi um táxi para que os levassem. Outra coisa estranha, em momento nenhum ele me olhou nos olhos, não gosto quando interrogo alguém que não me olha nos olhos, a experiência me ensinou que os olhos, diferentemente dos lábios, nunca mentem. Se ele teve essa frieza toda para matar o vizinho, acredito que ele esteja planejando algo contra elas.

   - Mas por que? Será que ele seria capaz de tal coisa, não era para ele estar fugindo nessa hora.

   - O problema dele, acredito eu, e olha que já vi inúmeros casos assim, ele é um psicopata de dupla personalidade.

   - O que estamos esperando então, vamos até lá antes que ele faça qualquer coisa. Disse André.

   - Certo… Mas não vamos na viatura da polícia, se ele estiver por perto poderá fugir, vou mandar polícias cercaram o quarteirão, tenho um palpite forte que ele não viajou, só fez parecer que viajou.

    - O Delegado Claus pegou o carro do investigador e ambos partiram para a suntuosa mansão verde.

ENQUANTO NA MANSÃO.

   A campainha toca, o empregado Rodolfo vai atender, quando abre vê o vizinho com presentes embrulhados em uma sacola.

   - Joaquim! Tudo bem, entre por favor, as meninas estão aqui chegaram ainda a pouco.

   - Obrigado, eu vi quando elas chegaram, tomei a liberdade de comprar alguns presentes. Espero que elas gostem.

   - Com certeza iram adorar.

   - Joaquim e Rodolfo entram e foram direto para a sala, não a do crime, mas outra sala que ficava na parte de trás da mansão, as meninas estava assistindo TV neste momento, quando elas viram o vizinho levantaram-se rapidamente, apenas a mais velha o comprimentou com um abraço bem apertado, a mais nova apenas disse um oi sem expressar nenhuma reação, havia certo temor em seu olhar que foi percebido logo percebido por Rodolfo, mas que acabou ignorando aquilo. Todos ficaram na sala conversando, Joaquim não tirava os olhos da mais nova, a atitude estranha do vizinho começou a gerar medo na irmã mais velha, mas como não sabiam o que fazer tentavam disfarçar o nervosismo.

   - Rodolfo sutilmente senta-se ao lado de Ana, a mais nova das filhas, ela temerosa segurava as mãos de Rodolfo com muita força, uma sutil lágrima escapa de seus olhos, a irmã mais velha percebe que alguma coisa estava errada, então tentou sair daquela situação.

   - Joaquim adoramos a sua visita, queira nos perdoar mas temos que sair daqui a pouco, marcamos com uma colega que a muitos anos não víamos, se o senhor não se importar temos que nos arrumar. Disse a mais velha.

   - Tudo bem, eu acompanho vocês até a casa da sua amiga, disse o vizinho em um tom diferente de voz.

   - Que isso seu Joaquim, não precisa se incomodar, vamos sozinhas mesmo.

   - Acho que você não me entendeu mocinha, disse Joaquim arrancando da cintura um revólver trinta e oito, vamos dar um passeio sim, só que eu e a Ana, não é mesmo Ana, para relembrarmos os velhos tempos.

   Disse o vizinho com voz sarcástica, seus olhos estavam vermelhos feito brasas, parecia estar drogado.

   - O que é isso, meu Deus Joaquim, você enlouqueceu -- Disse Rodolfo abraçando a jovem Ana na tentativa de protegê-la.

   - Calado seu velho babaca, se não enfio uma bala na sua testa como fiz com o panaca do seu patrão.

   - Então foi você quem o matou -- Disse Rodolfo espantado -- Mas porquê? ele não te fez nenhum mal, porque isso, eu nunca que esperaria de você tal coisa Joaquim.

   Rodolfo e Azira, a irmã mais velha se afastam, enquanto o sinistro vizinho aproxima de Ana com arma em punho, tomou-a pela cintura. A coitada não parava de chorar.

   - O que você quer com minha irmã seu Demônio -- Pergunta Azira -- você é um monstro, esse tempo todo e nem tínhamos percebido, agora entendo o motivo de minha irmã do nada resolver ir para Alemanha, agora entendo o medo que ela tinha de tudo, sempre chorando pelos cantos, sempre trancada no quarto, agora entendi tudo, todo o carinho que papai dizia que você tinha com ela, seu monstro, animal, crápula, pedófilo desgraçado, você abusava dela, diga a verdade.

   - Eu amo sua irmã, seu pai nunca entenderia, era amor, eu a amo ainda, por isso tive que eliminar seu pai, não gostei quando ele a mandou embora, eu disse para ela se não ficássemos juntos teria consequências ruins.

   - Seu monstro, o seu lugar é na cadeia, seu animal, canalha.

   - Cale a boca sua vaca, me de a chave do carro, agora rápido vamos, anda, vamos é para ontem.

   - Rodolfo e Azira pegam a chave de uma Mercedes, todos se dirigem para a garagem.

Naquele exato momento o delegado Claus chegava à mansão; estacionou o carro na frente da casa, vê  que o portão da garagem está se abrindo lentamente, isso lhe traz um pressentimento ruim.

   - André tem algo de errado acontecendo, vá por trás que eu vou pela frente, pela garagem, a porta está meio aberta, temo pelo pior, e cuidado. Disse o delegado.

   Quando o delegado se dirigiu para a porta da garagem, percebeu que havia alguém lá dentro, quando Ana que está próxima da Mercedes viu o delegado do lado de fora, em uma reação impulsiva sai correndo na direção do delegado, ao vê-la sair correndo Joaquim dispara contra o delegado, que também disparou ao mesmo tempo revidando. O tiro foi certeiro, bem no meio do peito, o corpo caiu pelo chão sem reação alguma, o vizinho monstruoso não respirava mais, estava morto, o delegado foi atingido de raspão no braço. Ao ouvir o disparo o investigador correu com armas em punho, mas tudo já estava resolvido, e a jovem a salva. Passado o susto as meninas contaram tudo o que tinha acontecido na casa, toda a conversa que tiveram com o assassino do pai, o caso estava resolvido, e o delegado satisfeito, as filhas do Dr Olavo e o empregado estavam a salvos.

   Após esse episódio as meninas venderam a mansão verde. Elas junto com o empregado Rodolfo foram para a Alemanha. Já o delegado Claus foi viver em um sítio não muito longe da cidade de Bragança, curtindo a natureza ao som de pássaros em pescarias tranquilas junto a sua esposa.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 19/06/2017
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