Acidente

John Rocksilver nunca foi um homem de sorte. Aos três anos de idade perdeu o pai em um acidente de trânsito. Aos doze, a mãe, do mesmo modo. Aos quinze, a namorada, também de acidente. E, hoje, perderia a chance de livrar-se da polícia. Como pôde ser tão inocente a ponto de esquecer a arma no local do crime? O quê fazer? De qualquer forma, tinha que pensar em uma solução. Pegou seu carro – um Ford Mustang, Shelby Cobra, GT 500, V8, preto – e dirigiu-se à cena do delito.

O local era afastado da cidade. Pouca claridade. Ótimo para matar aqueles que o enganaram a vida toda. Pessoas que afirmavam que seus pais e sua namorada haviam morrido por acidente. Ali, pode cuspir na cara deles e atirar por “acidente”.

Lá chegando, para a sua surpresa, já havia várias viaturas, vários policiais. O local estava cercado com uma faixa amarela. Os sons das sirenes eram ensurdecedores. Não era por menos. Matar cinco pessoas em um só lugar, em uma cidade pacata, gera comoção suficiente para alardear todas as autoridades.

Enquanto observava a movimentação dos policiais, escutou uma conversa que gelou o coração:

- Tenente – disse um policial ao superior, prestando continência.

- Diga - respondeu o tal tenente com ar indiferente.

- Achamos a arma.

- Onde ela estava?

- Perto de um fogão.

John não esperou o final da conversa. Só pensava em ir embora o mais rápido possível. Ser pego seria o fim de sua existência. Perderia tudo o que havia conseguido com muita luta, ou como ela falava, com muito “acidente”.

Quando estava a aproximadamente quinhentos metros do local, ouviu-se uma explosão. “O que é isso?”, pensou ele parando o veículo. Nesse momento, um gatilho da memória foi acionado. Lembrou-se que havia esquecido o gás, que ficava fora da casa, ligado e um cigarro próximo a ele. Sim! Mais uma vez a questão do “acidente” estava presente em sua vida, só que, ao invés de mata-lo ou retirar alguém querido, salvou-o.

John sorriu e partiu pensando que acidentes são necessários na vida.