OS SEGREDOS DA RUA BAKER#2: 4- LIBÉLULA

Diana e Irene estão sentadas na sala tomando um chá e conversando, o inspetor Smith entra com o casaco na mão, pega algo na cozinha e senta no sofá.

-Você dormiu aqui? – Perguntou Diana.

-Sim. Algum problema?

-Não, claro que não. Você só tem feito isso bastante ultimamente.

Irene dá uma rápida olhada para o inspetor. O celular dele toca, alguém da Scotland Yard ligando para ele correr até uma cena de crime.

-Eu preciso ir, falo com vocês mais tarde.

-Por que ele tem passado tantas noites aqui? – Perguntou Diana após ele sair.

-Não é óbvio?

-Não, Irene, não é. Aliás, se fosse tão óbvio assim pra mim, eu não estaria perguntando.

-O que tem de errado com você ultimamente?

-Não é óbvio?

-Sim, mas você odeia quando faço deduções sobre sua vida.

-Essa parte é verdade. Eu achei uma caixinha nas coisas do Sean…

-Ele vai te pedir em casamento. E daí?

-Eu estou um pouco nervosa por causa disso.

-Por quê? Você vai aceitar.

-Eu não… Eu… Arg! É por isso que odeio tentar ter conversas normais com você.

-Nós temos conversas normais o tempo todo.

-Não, Irene, nós não temos.

Nesse momento John está na cena de crime mais bagunçada que já viu na vida. Havia sangue por toda parte, um corpo de um lado da cama e a cabeça perto da janela. Logo pensou que seria o caso mais fácil de resolver… Pobre John, não poderia estar mais errado. Mesmo passando alguns dias empancado nisso, não queria dá o braço a torcer e pedir ajuda para a Irene. Ele pensava erroneamente que já estava usufruindo muito da boa vontade dela, pois já estava passando várias noites na 221B sem nenhuma cobrança, muitas dessas vezes comia por lá e pedia ajuda dela, quando não tinha vontade de sair de casa, para resolver algum caso por telefone.

Irene estava pesquisando sobre músicas renascentistas quando o inspetor entra na sala como uma ventania. Começa a falar imediatamente do caso.

-Irene, você está me ouvindo?

-É claro, John, eu não sou surda.

-Você vem?

-Como está o local?

-Nada foi retirado do lugar ainda.

-Mandarei mensagem para Diana nos encontrar lá.

-Já foi enviado material para ela analisar.

-Sim, mas ainda não vi a cena do crime, quando der uma olhada aí sim ela terá material verdadeiramente relevante para analisar. – Ela dizia enquanto colocava a jaqueta. – Vamos John.

Pouco tempo depois eles entravam no quarto de pensão onde havia ocorrido o crime. Quando Irene entrou a sargento Miller demonstrou todo seu descontentamento.

-O que faz aqui?

-O que acha? Vim olhar a cena do crime.

-Por quê?

-Porque diferente de você, eu tenho capacidade para resolver esse caso.

-Ok. Já chega! – Falou John ao entrar. – Todos pra fora.

Diana chegou pouco antes de ele fechar a porta.

-Oh meu Deus! O que aconteceu aqui?

-Nada! – Disse Irene. – Isso tudo é uma farsa.

-Você tem razão. – Concordou John. – O sangue é falso, o cadáver é um boneco.

-Isso seria uma distração? – Perguntou Diana.

-É muito provável. – Respondeu John.

Irene estava andando pelo quarto observando cada detalhe quando encontra algo, ela se abaixa, usa uma pinça tirada do bolso para pegar o uma asinha de um inseto.

-Encontrou algo? – Perguntou John.

-Talvez. – Ela respondeu. – Quem é o dono desse lugar?

-A senhora Jones é a dona.

-Preciso interroga-la. – John abre a porta, Irene deixa a irmã ser a primeira a passar, pois tinha algo a mais para dizer ao inspetor. – Você fez mal em demorar tanto a me chamar, John. O garoto poderia ainda estar vivo, agora já não tenho tanta certeza. Da próxima vez que tiver alguma dúvida, venha logo falar comigo.

Ela desceu as escadas, enquanto o inspetor fechava a porta para acompanha-la a sargento Miller decidiu mostrar seus pensamentos na hora errada.

-Por que você a deixa lhe tratar dessa forma? E por que ela está aqui? Nós não precisamos dela, podemos cuidar disso.

-É mesmo Miller? Já se passou quase uma semana e nem descobrimos quem colocou aquele boneco ali. Irene tem razão em dizer que o garoto pode já estar morto. Se não a quer mais aqui, então faça isso: resolva o caso antes dela.

John foi até a sala apresentar as garotas para a dona da pensão, porém as duas já estavam falando com a proprietária. Ele sempre achava engraçado com a Irene ficava sociável nessas horas. Ela conseguia com simpatia, um belo sorriso e certa atenção, descobrir todos os segredos de alguém. Nisso conseguiu descartar boa parte dos inquilinos dali, ficando apenas três rapazes. Eles estudavam na mesma faculdade, um deles era colecionador de libélulas, outro era o melhor estudante da sala e o terceiro era exatamente a vítima na qual até o momento não se sabia o paradeiro.

Apenas um deles se encontrava no local, então Irene juntamente com a irmã e o inspetor se dirigiu ao quarto do rapaz. Ela foi a última entrar, John já estava fazendo algumas perguntas, Diana estava perto e Irene dava uma olhada no local, quando foi questioná-lo a respeito de algo, ela simplesmente ficou muda ao vê a coleção de libélulas dele, pois foi imediatamente levada a um instante da sua vida da qual não tinha conhecimento da existência.

Foi como vê fotos passando devagar bem na sua frente. Ela via um quarto com algumas coleções de insetos: borboletas, libélulas, mariposas, besouros, baratas… Havia um homem ali, Irene não conseguia saber quem era, pois seu rosto não estava visível. Em seguida se percebeu sentada no colo dele. O tal homem a ensinava a colocar os bichos ali. Quando deu por si o inspetor estava chamando por seu nome.

-Você está bem? – Diana se mostrou preocupada.

-Eu estou bem. – Ela disse com um tom meio duvidoso e com a mão na cabeça, por senti-la latejar. – Qual seu nome?

-Harris.

-Você estuda com o Lewis e o Moore. São amigos?

-Do Lewis sim.

-Morando e estudando no mesmo local como não são todos amigos?

-Nós éramos, mas tem um professor que está precisando de um assistente. O Moore se mostrou bastante competitivo.

-Você esteve no quarto do Lewis? Recentemente, eu digo.

-Não o vejo desde a sexta passada.

-Quem foi escolhido como assistente?

-O Lewis, mas com o sumiço, eu consegui o cargo.

-Obrigada pela ajuda.

Já fora da casa, John ainda tem dúvidas a respeito do que aconteceu ali.

-O que foi aquilo lá dentro?

-Do que está falando?

-Você ficou perdida por um tempo e depois repetiu as minhas perguntas.

-Dor de cabeça.

-Você tinha me prometido…

-Eu estou cumprindo, John. Agora me deixe fazer meu trabalho. Vamos Diana.

Elas conversaram por um tempo sobre o que iriam fazer, Diana foi até a faculdade conversar com o professor, enquanto Irene descobriu o paradeiro do Moore para interroga-lo.

Quando se reencontraram com todas as informações recolhidas, chega a notícia de terem achado o corpo do Lewis. Ele foi pendurado em uma árvore, mas parecia uma obra de arte.

-Alguém anda assistindo Hannibal. – Comentou a sargento Miller. – Não acha Irene?

-Eu não tenho ideia do que está falando.

-É uma série de tv, um dos personagens costuma matar as pessoas e fazer delas uma peça de exposição. – Explicou Diana.

-Ah! Interessante.

-Bom, vocês estão vendo não é? – Começou a Miller. – É o formato de uma libélula.

Irene a olhou.

-E daí?

-Quem é fascinado por esse tipo de inseto e ainda conseguiu a vaga de assistente? Caso resolvido, inspetor. E antes que a sua queridinha conseguisse, agora não precisaremos mais aguentá-la.

-Errado. – Falou Irene. – Seu pensamento está correndo de acordo com o plano do assassino. Você não ouviu o garoto colecionador dizendo que o Moore é competitivo? Ele não aceitou perder, Miller. Matou o Lewis e incriminou o outro.

-Prove!

-Havia uma asa de inseto plantada na cena do crime. Eu digo plantada pelo simples fato de não ter nenhuma faltando na coleção e se isso não a deixa satisfeita, a mistura que foi usada para parecer sangue secou, ficou dura e a asa não ficou grudada.

-Ele pode ter entrado depois para conferir seu feito.

-Errado. Diana conseguiu os horários e o Harris ficou ajudando o professor durante toda a tarde e parte da noite desde o momento em que o Lewis não apareceu.

-Ainda assim…

-Cala a boca, Miller. Preciso concluir. Também existe essa pegada, parte dela perto da cama e outra ali próxima à árvore. Quando fui interrogar o Moore consegui encaminhá-lo até um jardim onde um homem aguava umas plantas. As marcas combinam perfeitamente. – Irene se voltou para o inspetor. – Ele é o assassino, John.

-Vamos prendê-lo. Você me ouviu, Miller, vamos logo.

Miller olhou furiosa para Irene que lhe mostrou um leve sorriso. Ela e a irmã voltaram para a 221B da Rua Baker. Diana lhe perguntou sobre seu momento de distração no quarto daquele garoto.

“Eu não sei.”

Foi sua única resposta. Era a mais pura verdade, isso já havia acontecido antes, mas muitos anos atrás. Irene ficava curiosa a respeito, no entanto sua mente continuava ativa e funcional, preferia não se preocupar com isso, pois vinha problemas maiores para resolver em breve.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 17/03/2017
Código do texto: T5944113
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