941-TRAGÉDIA NA FAMILIA MURDOQUE-3A.parte- A CAIXA DA MORTE

TRAGÉDIA NA FAMILIA MURDOQUE

3ª. parte – Caixa da Morte

Para entendimento deste conto,

necessária se torna a leitura

dos contos. # 932 e 933

Era uma tarde de julho, fria e enevoada. A garoa cobria os topos dos edifícios mais altos do centro da cidade. A casa de Sebastião, num bairro alto da cidade, tinha um pequeno jardim na frente, com folhagens que brilhavam de umidade à sob a claridade das luzes que vinham do interior.

Não seriam sete da noite quando um homem alto, corpo forte, chapéu de couro na cabeça, apertou a campainha embutida no lado externo do portão.

Dentro de casa Sebastião olhou pelo visor do interfone, tomou o fone, levou-o ao ouvido e perguntou:

— Quem é?

Uma voz forte respondeu:

— Encomenda para o Sr. Sebastião. E um recado particular da parte de Leopoldo, seu irmão. De Pirapora.

Tremendo de medo, mas de acordo com o combinado, Sebastião foi até o portão.

— Sou Gonçalo, empregado de seu Leopoldo. —disse o homenzarrão. — Tenho essa caixa, que é uma encomenda do “dotor” Leopoldo. E tenho um recado que só posso falar em particular. Aqui na rua, com as pessoas passando, tem jeito não.

Era um convite, ou mais do que isso, uma intimação para Gonçalo entrar na casa.

À contragosto, mas confiando no plano elaborado pelo investigador Davante, Sebastião abriu o portão e Gonçalo entrou.

Subiram os dois degraus do alpendre e entraram na sala. Bem Iluminada, com móveis confortáveis. Gonçalo não esperou convite e foi assentando na poltrona próxima à porta.

— O “dotor” Leopoldo mandou este presente pro senhor, tá dentro desta caixa. Dentro tem um presente e uma carta.

Era um pacote, evidentemente uma caixa de papelão ou de madeira, do tamanho e formato de uma caixa de sapatos. Embrulhada em papel liso, cor azul claro, e amarrada com barbante branco.

Sebastião se adiantou para pegar a caixa, mas o homem a segurou.

—Disse que é pro senhor abrir na presença de sua patroa. E Pra depois dizer se gostaram ou não do presente.

Sebastião foi até à porta que abria para outra salinha e chamou:

—Jandira, pode vir aqui?

Ela chegou enrolando as mãos de aflição.

—Agora, pode pegar a caixa e abrir.

Levantando-se, o capataz estendeu a caixa. Quando Sebastião adiantou-se para pegar a caixa, da porta de onde Jadira viera, saltou um homem, alto, o chapéu escondendo-lhe o rosto e com um revolver na mão.

— PARE! FIQUEM QUIETOS! NENHUM MOVIMENTO OU MANDO BALA!

Sebastião estacou como se transformado em estátua.

Jandira soltou um gritinho de susto e ficou pálida como um cadáver.

Gonçalo levou a mão direita para trás, à altura da cintura. Segurando a caixa.

Davante (pois era ele mesmo, o investigador) atirou na direção do braço de Gonçalo. Um tiro de advertência, que passou raspando pelo cotovelo, o suficiente bastante para impedir o ato de pegar a arma que estava enfiada no cós da calça. Um raspão exato para inutilizar o cotovelo para sempre.

A caixa caiu ao chão, mantendo-se, contudo, bem amarrada.

— Você está preso! — gritou Davanti para Gonçalo, que segurava o braço ferido, na tentativa de estancar o sangue ou de minimizar a dor.

Sacando de uma algema, com habilidade adquirida há anos como policial, Davanti algemou o capataz pela frente, ao mesmo tempo de extraia um revolver do cós da calça do bandido.

Antes que qualquer outra ação fosse necessária, Entraram pela porta da frente dois policiais fardados, seu Jorge e Valdique, o auxiliar de Davante.

O Investigador que agia como policial, já tinha experiência comprovada, pois fora delegado de polícia durante muitos anos — e vários caos que resolveu já foram registrados nestas 1.OOO HISTÓRIAS.

— Podem levar o bandido. Vou com vocês, quero ter o prazer de assinar o boletim de ocorrência da prisão deste bandido. Vamos levar esta caixa como prova do crime que seria cometido aqui. Mas cuidado, não deve ser aberta de modo algum.

Saindo da letargia, o boiadeiro falou:

— Mas por que tou indo preso? Num fiz nada!

—Não fez, hein, seu safado. Vai ficar preso pelo assassinato de três mulheres aqui na Capital na noite de Natal. Lembra-se? E mais a tentativa de assassinato de Sebastião e dona Eládia. Hoje. Aqui e agora.

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A presença dos policiais fora cronometrada com perfeição. Quando O bandido entrou na casa, a viatura policial chegou à frente da casa. O portão estava encostado, de acordo com a estratégia estabelecida por Davante. Seu Jorge e Valdique estavam com os policiais. Quando ouviram o tiro, os quatro entraram na sala e viram Davante dar o retoque na prisão de Gonçalo.

A viatura levou Gonçalo e a caixa: Davante levou Valdique e Jorge. Todos para a delegacia. Sebastião ficou em casa, cuidando da esposa, que estava assustadíssima.

— Precisamos de um especialista para abrir esta caixa, disse Davante. Um bombeiro para lidar com animais peçonhentos.

Davante e o delegado Ferraz estavam de acordo com o conteúdo da caixa. Algo de perigoso. Mortal. Que poderia causar mortes.

Um carro do Corpo de Bombeiros chegou em dez minutos. Dois bombeiros levaram a caixa para o pátio cimentado, já iluminado pela luz de um poste e providenciaram mais iluminação para o serviço que iam fazer. No centro do circulo de luzes, colocaram uma caixa maior, com tela na parte superior e pequeno orifício para a entrada de varetas com pontas.

Dentro da caixa grande, colocaram a menor. E com habilidade, usando varetas de metal com cabos de dois metros de comprimento, dos dois homens começaram a abrir a caixa-presente de Leopoldo ao irmão. Habilidade e técnica, perícia e cuidado. Em poucos minutos, desataram o cordão, rasgaram o papel e levantaram a tampa do que era, realmente, uma simples caixa de sapatos.

A forte iluminação permitiu aos que assistiam a operação ver, enroladas nos dois cantos da caixa, duas cobras.

— Caramba! — Jorge não se conteve, foi o primeiro a falar. — Duas corais!

Incomodadas pela luz repentina, as cobras começaram a se movimentar.

— Elementar, meu Jorge, disse Davante. Embora fosse muito bizarro encontrar duas corais dentro de uma casa de cidade — se elas fossem encontradas— o crime passaria como incidente, ou ficaria inexplicado, como do triplo assassinato das mulheres

da família Murdoque.

O triplo assassinato foi resolvido, com a prisão e confissão de Gonçalo, o capataz de Leopoldo. Mas não houve incriminação deste. O capataz agiu por sua conta e risco, tanto na eliminação das três mulheres como na tentativa de assassinato de Sebastião e da esposa Jandira.

Jorge e Sebastião continuaram tomando a cervejinha das sestas-feiras.

— Vamos vender a fazenda. Leopoldo esteve aqui no começo da semana. Ficou apenas chateado ao saber das iniciativas do seu capataz. Tomou uns tragos por conta da chateação. Está doido pra passar a mão na parte da venda da fazenda Se sobrar após pagar as dívidas, de certo vai continuar perdendo na jogatina e pondo nas mãos ávidas das prostitutas.

— Será o final melancólico da Fazenda dos Murdoques.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 2016.

Conto # 941 da SÉRIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 18/01/2017
Código do texto: T5885954
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