Davi Machado

A chuva não dá trégua. A hora já é avançada. Ele caminha no meio da rua pisoteando as poças com suas botas marciais encharcadas. O sobretudo preto já não é capaz de absorver cada gota de chuva e mesmo assim ele anda lentamente. Davi machado, quem é você, ou melhor, quem foi você, quem lhe enviou? Seu aspecto é o pior possível. Uma perfuração de bala na testa mostra que o seu fim foi trágico. O que você faz caminhando entre os vivos? Por que não aceita que morreu? Volte para o inferno de onde nunca deveria ter saído.

Ela anda apressadamente pela calçada tentando alcançar o ponto de ônibus. A chuva ainda molha o asfalto. A moça verifica a hora em seu relógio. Realmente está tarde. Logo hoje ela tinha que se atrasar. O ônibus não chega e ela já se encontra molhada. Jéssica, uma linda morena de olhos claros como o mel, estudante de biologia. Onze da noite e nada do coletivo. A rua está deserta. Jéssica olha mais uma vez para ver se o ônibus vem quando uma faca fria encosta em seu pescoço.

- Sem gracinhas. - o hálito do sujeito é uma mistura de tabaco e uísque.

- O que você quer de mim?

O homem apalpa as partes de Jéssica que começa a chorar.

- Pelo amor de Deus, não.

- Fique quieta, venha comigo, agora.

Jéssica é levada para um canto escuro. Em pé e com uma faca em seu pescoço ela é acariciada nos seios, coxas e bunda. O estuprador é feio, magro, nojento, parece um morto-vivo.

- Tire a saia, vamos. - sussurra.

- Por favor, me deixe ir.

- Cala boca. - corta o ombro da mulher. - tire a saia, agora.

Jéssica, noiva, virgem, com um futuro promissor, tira a saia exibindo sua bela forma para o bandido que só falta babar.

- Gostosa. - limpa a testa molhada. - agora a calcinha, vamos, faça um showzinho pra mim.

- Que tal esse.

A voz é ouvida, mas há ninguém. De repente da boca do estuprador começa a descer um sangue grosso e os olhos do bandido saltam. Ele olha para Jéssica e pede por socorro.

- Me ajude, por favor.

Assustada e sem entender o que está acontecendo, Jéssica coloca a saia. O estuprador começa a gritar e a vazar sangue por toda parte.

- Fuja, Jéssica, fuja.

A estudante de biologia começa a andar de costas e tropeça. O corpo do bandido começa a rachar . A dor que ele sente é inimaginável. Finalmente ele explode espalhando vísceras na calçada e asfalto.

- Meu pai! - Jéssica grita colocando a mão na boca.

Davi Machado aparece olhando para Jéssica e depois para os restos mortais do estuprador.

- Que bom ele não conseguiu concluir o que queria.

- Como, fez isso? - pergunta ainda sentada no chão.

- Preciso ir, vamos eu lhe ajudo a se levantar. - estende a mão coberta por uma luva de couro.

Ele desaparece. Simples, como num passe de mágica. Jéssica faz o sinal da cruz quando passa um táxi.

- Por favor.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 03/01/2017
Código do texto: T5871156
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