O homem mais sortudo do mundo

Bertrand era o sujeito mais sortudo do mundo. Era isso o que seus amigos diziam sobre ele. Bertrand era extremamente atraente. Bertrand era a melhor definição para belo. E quem disse que a beleza não ajuda? Bertrand não era o mais inteligente, não era burro também, mas a sua inteligência não seria a explicação para alcançar a diretoria da firma. É claro que dr Hermann percebeu que poderia tirar proveito de sua bela aparência. E tirava mesmo. A firma conseguiu criar sociedades lucrativas todas as vezes que Bertrand estava na liderança das negociações. E para aumentar mais sua atração, Bertrand era o cara cool. Bertrand se dava bem com todos e todas. Os homens o admiravam. As mulheres ficavam encantadas. Com tudo isso, Bertrand tinha trinta anos, uma carreira brilhante, um belo apartamento na rua Russell, um carro esporte, heterossexual e solteiro; o que deixava os homens com inveja e as mulheres com esperança.

Quando a firma comemorava mais uma sociedade, dr Hermann resolveu dar uma festinha particular no vigésimo andar do edifício Martin. O vigésimo andar era famoso pelas festas da diretoria e por envolver algumas pessoas famosas da mídia em geral. Bertrand, como sempre, era a atração principal.

Às 23:00h, dr Hermann entrava pelo grande corredor tendo ao seu lado uma bela mulher. Uma mulher que ninguém conhecia, mas que disputava a atenção dos presentes por sua beleza, beleza que fez com que Bertrand virasse e ficasse mudo por alguns instantes. E esse movimento foi percebido por quem estava próximo a ele. Dr Hermann se aproximou de Bertrand e apresentou a beldade ao seu diretor. Ela se chamava Catarina e era extremamente bela. Bertrand a observava com grande reverência, como um encontro entre deuses. Catarina fora uma das estagiárias de dr Hermann que acabou seguindo carreira em outra firma famosa. De passagem pela cidade resolveu lhe fazer uma visita e a perspicácia de dr. Hermann a convenceu de ir à festa, mesmo a beldade dizendo que vinha para resolver assuntos pessoais que não podiam ser adiados.

- Então, você é o famoso Bertrand?

- Famoso? Hermann já te contou uma porção de mentiras, né?

- Bem, quanto à beleza era verdade, não sei sobre as outras. - Bertrand ria com a espirituosidade da bela Catarina.

- Obrigado, você é muito bela! Está aqui a trabalho?

- Não, mas tenho assuntos inadiáveis.

- Nossa, que pena! Pensei que seria minha nova colega.

- Não, trabalho no Arquipélago. Já fui estagiária de Hermann, mas minha especialidade me levou para o outro lado do oceano.

- Sei. Estamos avançando. Quem sabe um dia não alcançamos o Arquipélago?

- Bem, não sei os interesses de Hermann e dos Harveys. Eu cheguei ao meu ponto.

- Sério? Não tem mais ambições?

- Ah, Bertrand, chega uma hora que basta, não?

- Bem, ainda quero mais, sabe? Minha vida é movida por esse querer mais.

- Sei. Já fui assim. Não pensa em parar?

- Parar? Não! Nada pode me parar.

Catarina conheceu os outros funcionários e não conseguia tirar os olhos de Bertrand. Realmente, ele era muito bonito, ainda mais na penumbra, efeito provocado por uma fina cortina em contraste com uma luz amarela fosca. Bertrando conseguiu desviar-se de alguns amigos e amigas, e chegando próximo dos ouvidos de Catarina e disse-lhe algo que a fez sorrir. Catarina não tinha um sorriso verdadeiro, mas parecia que sempre estava dissimulando. E isso a deixava mais linda. Bertrand após cochichar no ouvido de Catarina, dirigiu-se ao hall dos elevadores. Catarina, furtivamente, conseguiu alcançar Bertrand. Os dois entraram no elevador que descia até a entrada do prédio. Bertrand cumprimentou Mário se despedindo e desejando bom serviço.

Foram até o estacionamento, entraram no carro esporte de Bertrand e se beijaram ardentemente. Catarina interrompeu o carinho e sugeriu ir até a sua casa. Bertrand concordou e voou com seu porsche até a rua Hemengarda. Catarina morava num loft elegante. Não tinha porteiro e cada morador tinha sua entrada independente. A sala era aconchegante. Cortinas finas, luz baixa e uma bela árvore que roçava a janela pelo lado de fora. Os dois sentaram no sofá enquanto ouvia Richter. Beijavam-se, Tocavam-se. Bertrand sentia os seios volumosos da bela e ela entrelaçava sua mão em seus cabelos. Catarina percebendo a adrenalina e o tesão subindo, conteve Bertrand e esse assustado a olhava.

- Quer beber alguma coisa?

- Nossa, você me deu um susto. Pensei que estava abusando…

- Não, querido. Vamos beber alguma coisa.

- OK, o que você sugere?

- Vodka.

- Opa, vodka!

- Vou preparar.

Catarina retornou com dois copos de vodka. Colocou sobre uma mesinha no centro da sala e entrou no quarto dizendo que já voltaria. Catarina voltou numa lingerie super sensual e chamou Bertrand para o quarto.

- Traga as bebidas, querido.

- Sim, minha deusa, estou indo.

Sentados na cama bebiam a vodka que entrava ardendo os corpos. Catarina beijava a boca de Bertrand derramando nela a vodka e ele fazia o mesmo com ela.

- Bertrand, meu querido, temos quinze minutos.

- Como assim?

- Temos quinze minutos até o veneno fazer efeito.

- Veneno?

A voz de Bertrand já saía com dificuldade. Catarina percebeu que a bebida já lhe fazia efeito antes do veneno. Bertrand tentava entender, mas o álcool entorpecia sua razão com muita rapidez.

- Bertrand, querido, isso era inadiável. Voltei para casa para encerrar minha existência. Cansei, querido. Eu sempre soube que a morte era um evento solitário e isso me deixava bastante deprimida. Precisava de uma companhia. E quando Hermann me falou sobre você quis ver com meus próprios olhos. Quando te vi, compreendi que você seria a perfeita companhia. Agora podemos morrer juntos, um acompanhando o outro.

Catarina empurrou com delicadeza o frágil corpo de Bertrand fazendo-o deitar. Catarina deitou sobre seus braços e ouvia levemente a respiração de Bertrand, respiração que a cada segundo ia diminuindo até parar totalmente. E num último suspiro, Catarina disse: adeus...

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 23/06/2017
Código do texto: T6035713
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