Sobre Caminhar
-Eu falava minuciosa e pisava sobre ovos cada vez que era castigada
Caminhava por meio de meu mais lamacento umbral, vermes e demônios me perseguiam.
As noites resumiam-se em pesadelos inconsoláveis e as sombras acompanhavam-me a cada passo.
Eu caminhava ora pela escuridão, ora pelo flash de luz no rosto, atordoando-me e jogando-ne às feras que se amontoavam aos montes em meus pesadelos.
Noites de tremores, arrepios, desconfiança e suor atormentavam meus dias e semanas que se passavam.
Quão duro é viver com a certeza de um monstro prestes a segurar-me o calcanhar, e me derrubar no chão. Me largavam ao relento meus sentidos e junto à dor, ergui uma fortaleza de pedras duras e cinzas.
Não há beleza nas pedras que cercam minha paz, e nem nos suores frios que rodeiam meu caminhar.
Não há magia em chorar. A magia é que se livra e isso mais esta para necessidade.
Livrando-meu aos poucos da dura corrente inabalavel e tecendo em fina linha de tear meus sonhos antes despedaçados pela nuvem cinzenta. Catando do chão frio os cacos de meus desejos e minhas salvações, teci linhas em seu amor.
Teci meus sonhos lentamente contigo, fio puro de lã acerca de nossas projeções. Todas as rosas e os mais belos jardins inclusos nesse paraíso quebé te ter. Tão perto, tão distante.
Aos poucos fui aprendendo a estancar o sangue que derramava ao te perder às vezes. Às controvérsias dos ventos contrários fui brigando para curar nossos corações.
Seu amor me costurava o coração. Encheu de remendos minha alma das dores que um dia os rasgaram, mas amor uns tempos também sabe rasgar.
Nosso amor impulsivo costurava-nos e rasgáva-nos. Cada vez mais atordoados e tontos, vesgos dias em que só vi você.
Maravilhosos foram os tempos em que ficavamos imaginando deitar, amar... os arranhões de suas unhas dóceis e selvagens marcávam-me o corpo como ferro em brasa. Ferro que não fere foi teu amor em puro ato.
Amor consolidado ao infinito e escrito nos céus.
__Carolina Oliveira.