Eta sujeito sortudo!

Ha gente que nasce para sofrer. Um drama!

Tem inicio difícil, passa duas alegrías e termina mal.

Josue Crinet foi uma dessas pessoas, eta! sujeito sortudo...

Pele escura, pobre, com vinte e quatro anos se acomodava em um desvão do edifício de um supermercado, em Porte de D’Itália, em Paris.Não era um refugiado.Um ilegal vindo do oriente medio,

Para um homem negro, a Porte de D’Itália, no 13° distrito, é um lugar seguro, porque a maioria dos moradores da região é oriental, que tem boa tolerância racista. Vivendo de bicos, carregando principalmente entulho e lixo, já completava um ano vivendo nessa região.

Não era um homem forte. Na verdade estava adoentado e tinha apenas os cuidados de uma mulher tailandesa, que trabalhando como enfermeira, se interessara por ele e lhe fornecia remédios. Para sua alimentação diária, bastavam os desperdícios do supermercado. A rotisserie tem um descarte diário descomunal.

Sua única diversão era atravessar o viaduto sobre a perimetral e tomando a Rue de Fontainebleaus seguir até o Conjunto Desportivo Municipal. Ali passava o sábado olhando os jogos, principalmente futebol, e batendo uma bola pequena que era seu talismã. Deveras ele sempre esperava um convite para integrar algum dos times que se formavam ali na hora, com comerciantes e vizinhos aficionados.

Todavia, agora já não mais o convidavam. Já nao era mais um craque! Ele enxergava menos a cada dia. Mesmo com uma habilidade surpreendente, e uma paixão desmedida pelo futebol, ele definha a cada dia. O avanço da doença nos olhos lhe trazia medo. E o impossibilitava de dibres e corridas. Estava ficando cego.

Anos antes quando descobriu o mal que lhe afetava a visão, ele era o principal jogador do Colégio Germânico de Jonnesburg, na África do Sul, sua terra natal. Desde garoto, morando na região mais pobre da cidade, ele revelara uma habilidade especial para o futebol. E obteve apoio, para seguir carreira, inclusive logrando uma bolsa do Colégio.

Nas vésperas da realização da Copa do Mundo de 2010, em Johanesburgo, ele integrava o tipo do colégio disputando o campeonato regional. E estudava muito. Era aplicado e concluirá o ensino médio com boas notas. De boa índole, era muito tímido.

Durante a realização da Copa, esteve com a seleção alemã de futebol no curso dos treinos, tendo participado de vários eventos. Ele não entendia nada de alemão, e quase nada de inglês, mas nos dois meses de convívio aprendeu muito de futebol. Formou amizade com os jogadores, sendo o melhor centro avante. Logrou ate marcar gol nos treinos com um combinado da seleção alemã. O técnico, e principalmente o zagueiro de meio campo Rudolf se interessaram pela sua carreira. Conversavam com gestos e durante as palestras do técnico, Josue se esforçava em compreender os desenhos de estratégia e as regras internacionais de futebol. Era o primeiro a chegar e o ultimo a sair.

A seleção alemã que ia muito bem na competição, resolveu retribuir a hospitalidade e apoio dos sul africanos e particularmente dos alunos do colégio germânico, dando um suporte financeiro ao clube local. Nessa ocasião Rudolf manifestou aos dirigentes sul-africanos, seu apreço por Josue. Faltavam uns dez dias para o fim da copa, quando soube que Josue tinha um problema ocular. Uma doença progressiva que iria impedir a sua carreira profissional se não tratada. Isso deixou não só Rudolf, mas toda a comissão técnica muito triste. Ainda que não fosse possível uma solução imediata, pelo menos o incentivaram a seguir jogando, discretamente, sem deixar transparecer que sabiam da gravidade do seu problema.

Terminada a Copa, na véspera de voltar para a Alemanha os jogadores e também Rudolf se encontraram para as despedidas. Com um interprete Rudolf chamou Josue e lhe disse que ele devia continua jogando e se preparando, porque ele seria, com certeza, o principal jogador da seleção Sul Africana em 2014. Ele devia insistir, se preparar, e seguir em frente que esperavam vê-lo jogando na Europa nos próximos anos.

Encerradas as despedidas, dia seguinte no aeroporto, Josue foi até a sala de espera e encontrou Rudolf, que muito comovido, apanhou uma folha de papel timbrado da seleção e escreveu umas palavras para Daniel. Emocionado Josue agradeceu e ficou até o avião decolar.

Nos dias seguintes Josue mostrou o bilhete aos familiares, orgulhoso e feliz como o autografo do jogador. Pelos jornais locais e pelos amigos do Colégio, soube que os alemães tinham gostado muito dele e deixado claro que ele devia ir para a Europa para jogar nos clubes de base. Havia até uma referencia a frequentar a escola de futebol do Bayer de Munich.

No ano seguinte, teve de mudar-se de Johanesburgo, e tentou contato com clubes e escolas de futebol da Europa. Nada.Nada conseguiu. Passado um ano ele continuava jogando, mas sem perspectivas profissionais. Em dificuldades pela pobreza estava a prestes a abandonar tudo quando foi contratado como porteiro no Consulado da Costa Rica. Ali, seis meses depois, com o incentivo dos costariquenhos e o dinheiro que ganhou, partiu para a Europa sozinho. Tinha vinte e um anos de idade e estava com boa saúde.

Na falta de dinheiro para passagem aérea, providenciou passaporte e saiu de navio para Casablanca. Atravessou o Marrocos de ônibus até Ceuta, e entrou na Espanha com um visto de seis meses mostrando o registro do colégio Germânico. Seguiu até Marselha e lá, no clube metalúrgico, segunda divisão do campeonato francês , foi aceito como aprendiz. Treinando tries vezes por semana, e ajudando na cozinha de um hotel no cais do porto, obteve uma vida de dificuldades e muitas necessidades. Faltava casa e dinheiro. O sonho alemão ficou reservado junto com aquela folha de papel que Rudolf lhe dera, e que guardava com carinho.

Passado um ano já falando francês e treinando com os titulares, teve a triste noticia que o clube não tinha mais como lhe pagar o pequeno salario que recebia. Como o trabalho no hotel era ilegal, Josue retomou o sonho da Alemanha. Com coragem e disposição pegou a estrada em direção a Munich. Com os papeis do clube francês foi bater a porta do Bayer a procura de Rudolf. Nao o encontrou. Soube que ele estava jogando na Inglaterra e não tinham lugar para ele no Clube. Pensou em mostrara a carta que recebera de Rudolf, mas por orgulho e timidez foi embora.

Saiu para Hanover e dali para Colônia. Procurou encontrar qualquer dos jogadores que conhecera, e foi ate a confederação de futebol em Berlim onde pretendia mostrar a carta que recebera de Rudolf. Mas não teve sorte e não conseguiu encontrar ninguém a quem valesse a pena mostrar. Foi simplesmente expulso da portaria com dois ingressos de arquibancada para um jogo de sábado.

Um ano depois de bico em bico, de trabalho avulso em trabalho avulso, sem meios de ir à Inglaterra, estava na fronteira da Bélgica com a França em um restaurante de seis mesas e com a vista se desgastando dia a dia.

Voltou à França e foi para Paris pensando até em voltar para casa na África. Já estava com dificuldade de enxergar com luz forte. Devido à alimentação irregular estava debilitado e com apenas algumas roupas na mochila. Por sorte um jovem negro na periferia de Paris não chama a atenção de ninguém. Foi trabalhar no mercado de frutas.

Com saudades de casa, tentou retornar a África, mas a falta de dinheiro foi se agravando até que foi parar na porta dos fundos de um supermercado em Versalhes. Depois optou pela Porta D’ Itália, e ali se estabeleceu. Ali havia menos traficantes e ele passava despercebido. Já não podia sequer ver bem as letras no papel que Rudolf lhe escreverá. Era o seu sonho de ter seguido uma carreira. Aquele papel que ele não entendia nada, por estar manuscrito em alemão, era sua melhor recordação de vida. Chacra. Guardava-o em um saquinho plástico junto com a identidade, e uma foto de família. Alias era nas horas nostálgicas que ele constatava que nem foto de namorada ele tinha. Quem iria querer um namorado desempregado e quase cego?

Como não bebia e era pouco religioso se encolhia solitário em alguma marquise do bairro e cantarolava baixinho coisas da África. As prostitutas não lhe davam muita atenção, apenas os traficantes não raro apareciam para enxota-lo. Como consolo, ele tinha apenas a ajuda medica da enfermeira tailandesa.

No dia em que meu cunhado me falou de Josue Crinet npela primeira vez, me contou que estava de serviço em Rue de Peupiers. Ele é policial civil em Porte de Itália, e nesse domingo ele estava com a ronda motorizada passando pelo condomínio de chineses e vietnamitas junto a perimetral. Seguiam pelo Boulevard Kellerman, que tem duas pistas, e une a Porte D’Itália com a Porte D’Orleans, no 14º distrito. É uma avenida larga, com belos gramados na ilha central por onde circulam os bondes elétricos de duas e três composições.

Eram aproximadamente seis horas de uma manha límpida e fresca. Próximo a Rue Cacheuex, que segue para o supermercado e galeria, em Place de Ruggins, perceberam a movimentação de três indivíduos. Um corria a frente, perseguido pelos outros dois, possivelmente armados. Quiças traficantes ou larápios.

Como estavam a mais de cem metros e não havia ninguém mais na rua, antes de girar a viatura e voltar na contramão, os policiais ligaram a sirene em toques, para alertar. Nesse momento se aproxima da esquerda um bonde 13 vindo de Porte D’Orleans.

O sujeito que corria na frente, querendo se evadir pelo gramado, começou a correr acompanhando o bonde em direção ao meu cunhado. Os dois outros indivíduos corriam atrás em sua perseguição. Quando o bonde ia terminando de passar o perseguido pulou a linha férrea para cruza-la. Não viu, ou não pode perceber a vinda de outro bonde em sentido contrario. Nesse mesmo instante a chegada do bonde contrario o apanhou de frente. Foi um efeito tesoura. Ruído dos freios funcionando.

Golpeado o homem cai e segue arrastado pelos trilhos. Ouvem-se gritos.Sangue...

Os perseguidores , surpresos, saem para a Rue de L’Armital Mouchet, que divide os distritos. Enquanto a viatura ia ao encalço deles, meu cunhado seguiu em direção ao bonde, que parava, com os restos mortais de Josue, cujas vestes ficaram presas na grade do limpa-trilhos.

Meu cunhado acompanhou o trabalho da policia técnica, e viu quando um dos detetives peritos recolheu os pertences da vitima. Nos documentos estavam a identidade sul-africana, uma antiga carteira do Clube de Futebol Metalúrgicos de Marselha, e a carta dobrada.

Por uma coincidência, o detetive era da região da Alasia, fronteira com a Alemanha, e lia bem o idioma alemão. Abriu a carta, em papel timbrado da Federação Alemã de Futebol, onde se lia:

“Por este documento, eu Rudolf Berthe Bressen, IG 34578929-JH, faço doação de 50 mil euros pagáveis no Banco Nacional Alemão em Berlim, Agencia Centro, conta 4563738-3, e concedo autorização para residência no Condomínio Buerft Gross, em Birttrasse 342, Berlim seis, pelo tempo necessário para completar estudos e tratamento medico, a Josue Crinet, cidadão sul-africano, de 21 anos, do Colégio Germânico de Johanesburgo, e pelo qual me responsabilizo em sua estadia em território da Republica Popular as Alemanha, em 16 de Agosto de 2010. Minha vontade e meu compromisso.

Assinatura e telefone de um escritório de advocacia. “

FIM

rubenM
Enviado por rubenM em 17/01/2017
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