Anjo negro

“Era noite e eu vagava sozinha pelas ruas escuras. Sempre gostei da vida noturna. O fascínio que a escuridão possuí sempre me atraiu.

Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. Era vinte de novembro, caminhava com passos vagarosos e olhava tudo ao redor. Prestava atenção em cada detalhe, parecia ser a primeira vez que passava por ali, mas não era, todos os dias eu passava por aquela rua a caminho do trabalho.

O vento soprava frio, arrepiando os pelos dos meus braços e nuca. Fui obrigada a baixar as mangas da blusa que usava para me aquecer. Naquele dia eu não tinha a menor pressa em voltar para casa.

Andei por mais alguns metros e avistei um homem com roupas escuras, ele cruzava a rua poucos metros a minha frente com a cabeça baixa. Assim que o vi fiquei paralisada, sentia uma energia diferente e misteriosa emanando daquele rapaz.

O encarei com uma mistura de receio e curiosidade. Quando ele percebeu que o encarava, ergueu o olhar em minha direção. Jamais vou esquecer aquele par de olhos dourados, tão intensos quanto à alvorada. Eles traziam uma sensação de conforto, como se não precisasse de mais nada para sobreviver.

Porém tão rapidamente ele desviou o olhar e senti como se alguma coisa fosse arrancada de mim. E quando ele desapareceu pela rua, me senti vazia, como se com ele tivesse partido minha alma. Continuei ali parada, olhando para o lugar em que ele estava. Meus pensamentos estavam distantes, minha atenção estava voltada para aquele rapaz misterioso.

E isso me impediu de perceber que um carro se aproximava de mim em alta velocidade. Não tive tempo de me esquivar. Fechei os olhos e esperei pelo pior, mas nada aconteceu. O veículo desapareceu pela rua e o motorista sequer notou minha presença.

Fiquei surpresa com o que havia acado que acontecer. Como um carro havia passado por mim sem me ferir? Literalmente atravessado o meu corpo? Foi então que o sonho que tive na noite anterior veio em minha cabeça. Não havia sido um sonho. Era real. Eu estava morta! Tudo começava a fazer sentido, a rua, as sensações.

Eu havia morrido há dois dias, quando a loja onde trabalhava foi assaltada e acabei levando um tiro. E foi então que percebi que aquele rapaz não era um simples homem. Ele era o anjo negro. O meu anjo negro.”

Alice Moraes
Enviado por Alice Moraes em 22/05/2017
Reeditado em 25/11/2017
Código do texto: T6006357
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