Deus pode salvar?

- Não vai meu amor, estou sentido algo estranho, uma sensação ruim, não sei direito o que é, só peço para que não vá nessa viagem.

- Você acredita Ricardo, que ela me disse isso antes de eu sair de casa? - Disse Rafael, caminhando em direção ao mar.

- Cara, minha mãe era assim também, ainda bem que a minha esposa não tem essas paranoias. - Respondeu seu amigo após desligar o celular.

Entraram no submarino pouco tempo depois dessa conversa, não sabiam que esta viagem não seria uma viagem normal.

- Mas então Ric, quem era a garota que você tava mandando mensagem antes da gente entrar aqui?

- Poxa Rafa, era a Luana, amiga da minha esposa.

- Sei, até parece que eu não te conheço.

- Que foi? Só por que sou casado não posso mais conversar com mulher nenhuma?

- Conversar só, pode, mas não fazer o que você faz, cara uma hora alguém vai descobrir. - Falou Rafael com uma cara de desaprovação.

- Não se você não contar Rafa, sua esposa é a melhor amiga da minha, cuidado p não me ferrar amigão. - Disse Ricardo sorrindo e dando uns tapinhas nas costas de seu amigo.

O submarino embarcava Do Rio de Janeiro para o Porto de Santos, uns dois dias e meio de viagem se não me engano, a tripulação era experiente, incluindo os 2 amigos marinheiros.

De repente Rafael começa com um papo sobre religião, sobre sua igreja e Ricardo acaba dizendo que sua esposa havia aprendido umas paradas de magia negra na adolescência mas quase nunca tocava no assunto com ela.

Rafael achou esse lance estranho mas não quis ser inconveniente, pensou "já que a esposa dele mexe com essas coisas, posso tentar salva-lo pelo menos"

- Mas e ai Ric, ta afim de ir na minha igreja um dia desses? -

Perguntou seu parceiro de viagem.

- Cara, você me chama toda vez e toda vez eu digo a mesma coisa, pô Rafa, eu sei que Jesus salva e tudo mais, mas não sou chegado nessas coisas.

No segundo dia de Viagem aconteceu algo inesperado, começou a entrar água na embarcação, e todos foram puxados para fora de uma vez só, no fundo do mar, um ser escuro e muito alto, com um tridente nas mãos trouxe Ricardo até sua frente e lhe disse.

- Então você é o cara? - Perguntou o monstro com uma voz ensurdecedora.

Ricardo olhava para os lados e não via mais ninguém, nem submarino e nem seus amigos. Ele não conseguia respirar e muito menos responder.

- Aline, uma mulher alta, de cabelos pretos, olhos castanhos, muito bonita, a quem você jurou amor eterno em todos os momentos de sua vida me invocou, conhece essa mulher?

Ricardo por algum motivo já conseguia respirar de baixo d'água, mas parecia que alguém apertava seu pescoço dificultando sua fala, então ele disse com muito esforço.

- Sim, é minha esposa.

- Perfeito, eu só precisava ouvir isso. Disse o bicho que mais parecia um demônio.

- Ela me invocou para tirar sua vida, pois sabia que você a traia. Você Ricardo, você vem comigo.

- Calma, calma, como ela soube? - Perguntou Ricardo desesperado

- Seu melhor amigo, em quem você mais confiava, contou para a esposa dele, bom, ela era amiga da sua esposa... Assim como as mulheres não podiam confiar em você, você confiou na pessoa errada.

- Mas eu não posso morrer. - Disse o pobre homem, sem saber como respirava e falava no fundo do mar, como tinha ido parar ali, e para onde tinham ido seus amigos, ele entrou em pânico e disse sua ultima frase.

- Você não pode me levar, se tem uma única coisa que eu aprendi com Rafael, é que Jesus salva, então você não pode nada contra mim.

A fera deu um leve sorriso e respondeu depois de o encarar firmemente.

- Sim, você tem razão, o único que pode livrar as pessoas de mim, é Deus, mas para minha felicidade, você não ouviu seu "amigo", ele não está com você.

No velório de Ricardo, todos estavam chorando, menos Aline, ela estava com uma aparência séria, talvez com raiva ou feliz, mas não expressava nada.

- Ricardo era um grande amigo, e tenho certeza que morreu de uma das melhores formas possíveis, morreu sem sentir dor, morreu sem ver nada que o fizesse mal, ele morreu dormindo. - Esse foi o discurso final de Rafael, nada do que Ric vivenciou naquela noite, no fundo daquele mar, era real, exceto o lugar que ele foi.