A MONTANHA MALDITA

A Montanha Maldita

Eu vivia com apenas a companhia de uma águia e uma serpente em minha cabana aconchegante no alto de uma montanha do sudeste Brasileiro. Mata fechada e densa da pequenina, pouco povoada e praticamente desconhecida cidade cujo nome era Barroquilha, devido à enorme quantidade de barrocas presentes naquela região.

Ali era meu lar, a montanha era inacessível, circundada por um grande precipício. Era humanamente impossível chegar até aquela ilha montanhosa.

Vou narrar sucintamente e com poucos comentários a forma pela qual cheguei neste local naturalmente inóspito. Eu era paraquedista do exército e estávamos, Comandante Wilson e eu, em um helicóptero em uma missão que buscava um jovem aventureiro perdido na região. Enquanto sobrevoávamos a montanha, um problema na hélice do helicóptero a fez se soltar, levando a aeronave ao chão, explodindo imediatamente após o impacto. Não tive escolha e ao perceber a situação de risco, abandonei o helicóptero e saltei, salvando minha vida. Infelizmente meu amigo não sobreviveu.

Perdido na selva com apenas uma faca e meu paraquedas, enfrentei todo tipo de perigo que a floresta nativa poderia oferecer: moscas, aranhas, cobras, escorpiões, onças, plantas mortais, temperaturas negativas, ventos cortantes e a solidão! O maior de todos os desastres. Felizmente, nem tudo na selva é maldade. Todas as manhãs ouvia o canto de pássaros raros, que pareciam louvar pela minha vida. Coelhos, tartarugas, coiotes e outros animais equilibravam e harmonizavam o ambiente. Mas conviver com esses dois opostos era um desafio constante.

Certa manhã, acordei ouvindo o choro de uma menina. Num primeiro momento acreditei estar delirando, suposto delírio causado pelo isolamento. Mas ao ver meus animais queridos, minha serpente e minha águia inquietas, percebi que se tratava de algo muito mais sério. O choro foi aumentando gradativamente até tornar-se ensurdecedor, e foi então que através de um movimento rápido, imediatamente pulei da cama que confeccionei com cipó, peguei minha faca, abri a porta da cabana...olhei pelos lados e saltei da árvore com a qual construí meus aposentos. Com os pés no chão, virei 180 graus para a direita e avistei a garota. Estava sentada no chão cabisbaixa e soluçando. Vestia um pijama cor de rosa, seus braços e pernas estavam todos arranhados e sangrando muito.

Eu boquiaberto e assustado perguntei o que ela estava fazendo ali, mas não me respondeu nem se quer uma palavra. Ela começou a levantar a cabeça lentamente, e pude ver seu rosto. A pele era muito branca, cabelos negros e olhos verdes. De seus lábios vermelhos escorria um pouco de sangue. Perguntei então como ela havia chegado ali. Nenhuma palavra sua boca proferiu, mas com o braço apontou para o desfiladeiro mais perigoso. Ela olhava fixamente em meus olhos, e seu olhar me arrepiou todos pelos do corpo e comecei a suar frio.

Lentamente ela se levantou e então, com uma voz quente e doce, disse a frase que me deixou estarrecido:

Sr. Wilson me mandou aqui para arrancar sua cabeça com meus dentes!

Após isso, ela pulou sobre meu corpo, me levando ao chão mordendo o meu pescoço, arrancando um pedaço de carne com uma vigorosa dentada! Felizmente errou a minha jugular... aproveitei sua falha e dei-lhe uma facada na costela, atingindo seu coração e acabando com sua vida...fiz questão de esquartejar seu corpo e arrancar sua cabeça. Cavei uma cova ali mesmo e enterrei os pedaços da pequena monstrinha. Satisfeito com minha vitória, fui lavar meu ferimento e procurar algum alimento na floresta. Ao voltar passei pela cova, e tive uma surpresa miseravelmente tempestuosa:

A cova estava aberta e vazia! Desesperado ajoelhei ali e examinei cautelosamente, e então vi pegadas que seguiram até minha cabana!

A procurei por todo canto e não encontrei a maldita, nem minha serpente e tão pouco a minha águia, apenas um recado escrito com sangue no tecido de seu pijama

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“Volto durante seu sono mais profundo, com seus animais, para juntos te devorarmos vivo! ”

Bilu