CÃES DO ALÉM

CÃES DO ALÉM

Andava perdido, pela noite, madrugada adentro. Cigarros, bebidas fortes. Quase sempre um lobo solitário, não gostava de muita conversa. Eu, um homem jovem, bonito, inteligente e modesto. Gostava de sair com casacos de capuzes azuis. No verão, de roupas azuis e chapéus da mesma cor. Pela tarde, eu me virava ministrando aulas particulares de matemática e física, porque fazia meus horários. Não gostava de receber ordens, de aplicar didáticas e metodologias adotadas pelos colégios e que não eram as minhas. Ganhava esse dinheiro à tarde, suficiente para pagar meu aluguel numa quitinete de doze metros quadrados, na Lapa. Era o ideal para mim. Espaço bom para ler meus livros e meditar.

Mulheres? Gostava das pagas, as das Zonas. Dava um frisson quando avistava suas silhuetas através da penumbra, das luzes de neon.

Numa dessas Zonas, havia uma mulher que era exclusiva de um homem muito importante e ela, não sei o porquê, apaixonou-se por mim, ou seria apenas um capricho seu, uma forma de brincar com fogo, nunca se sabe o que se passa pela cabeça de uma mulher! Era realmente linda, muito atraente, mas era de um só e eu sabia que se me pegassem com ela, estaria morto. Em razão da situação, eu a recusava. Saía com todas, menos com ela e, eu sentia no seu olhar, que aquele amor que ela nutria, se amor fosse, estava se transformando em ódio.

Então, uma vez, na madrugada, quase dia, saindo da casa, fui cercado por vários homens armados. Eu seria fuzilado à queima roupa, quando, não sei de onde, surgiram por detrás de mim, um de cada lado, dois cães enormes, e peludos, um cinza claro e um preto, furiosos e de olhos vermelhos, os dois atacaram os homens, que chegaram até a efetuar disparos, conquanto nenhum me atingiu, nem aos cães. Eles correram apavorados e largaram as armas. Os cães, se viraram para mim, senti medo e ao mesmo tempo gratidão e percebi que eram duas cadelas. Correram e se desmaterializaram no ar. Depois disto, fiz uma denúncia anônima para a polícia pegar as armas que ficaram espalhadas no local. Não ia esperar, eu estava com cheiro de álcool e saindo da Zona, como iria explicar?

Ainda, por algum tempo ( não ia me acovardar!), frequentei a mesma Zona e passei a ser muito respeitado por lá. Mesmo assim, ao sair, constantemente via de longe as duas cadelas.

Sempre fui um cético, todavia, na madrugada, inexplicavelmente, tinha as minhas proteções. Até que o figurão resolveu, por ele mesmo, acabar com a minha vida. Dentro da casa, notei que me fitava, e pude perceber a arma que estava portando. Saí, num momento de descuido dele, porém quando eu já tinha atravessado a rua, ouvi um tiro atrás de mim, e o senti passar de raspão. Corri desesperado por uma quadra e mais tiros foram desferidos, ele vinha correndo atrás de mim, quando uma bola de luz, como um cometa, passou por cima da minha cabeça e escutei um grito de homem, quase um urro, acredito que a bola de luz o tenha atingido. Subitamente, os tiros cessaram, não olhei para trás, continuei correndo, escoltado pelas duas cadelas que apareceram do nada e me deixaram na porta de casa.

Soube que o figurão, naquela hora, teve um infarto fulminante. Disseram à polícia que ele correu atrás de um ladrão, vasculharam as imagens das câmeras de segurança do comércio local, não sei como, eu não apareci (nas filmagens de nenhuma delas), na hora dos fatos, porém a bola de luz apareceu feito uma explosão, ou uma descarga elétrica.

Depois deste episódio, eu me aposentei da noite e nunca mais vi a tal mulher.

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Agradeço aos leitores, colegas e suas leituras! Beijo

LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 23/04/2017
Reeditado em 28/04/2017
Código do texto: T5978965
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