'''PRINCESINHA DO MAR' (terror e mistério)



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E ele pensando que Copacabana era um lindo sonho de viagem...só que não...

I - A Chegada

Navio de luxo, roteiro de sonho, cruzeiro adulto, tudo jovem, frescor sexual,  haviam prometido sigilo absoluto, também pelo valor cobrado, tinha mesmo que ser...pelo menos pareciam estar cumprindo com o combinado, já havia rolado todo tipo de loucura naqueles últimos três dias, ninguém era de ninguém, parecia um navio de desejos, como se um gênio da lâmpada atendesse ou melhor, criasse as situações para que os mais inusitados e insandecidos dos nossos desejos, fossem atendidos.

II - O Passeio

O Comandante, na noite anterior informara que atracariam por seis horas no Rio de Janeiro, específicamente em Copacabana, eles teriam horas livres para o turismo, todos estavam animados, alguns estavam até suspirando, pois os joelhos andavam separados há muito tempo, o reencontro lhes parecia bem saudável, muita água de coco para hidratar e ver caras e bundas novas, pensamento abusado, mas, real, que cruzeiro aquele. E lá se foram pelas praias, mirantes, bares e pontos turísticos, horas maravilhosas. No início da noite já estavam a bordo outra vez, o cansaço tornou aquela noite mais calma, com bem menos ardor, só conversas animadas.

III - O Engôdo

Aí surgiu Inácio, negro de feições finas e claríssimos olhos de mar, um deus negro, elegante, subiu a bordo no Rio de Janeiro como tripulante, em substituição a outro que teve uma indisposição alimentar, o que na verdade era mentira, não aguentara o tranco, o correto seria dizer, tranco e tranco e mais tranco...ia deixar saudades...ai, ai. Todo mundo esperando o que iria rolar nas noites enluaradas em alto mar, Ah! Inácio como seria sua performance, muitos já imaginavam deliciosos embates, só que o que começou a acontecer deixou de ser esbórnia, desejo e alegria, um passageiro sumiu e em sua alcova  só ficaram as malas vazias, um postal de Copacabana manchado de sangue e roupas de cama, espalhadas pelo chão, muitas buscas e nada, o Comandante alertou as autoridades, teriam que parar no próximo porto para perícia, ninguém sabia se a viagem iria continuar, tinham três dias até lá, hora de aproveitar, nem lembravam mais do desaparecido. E descobriram que Inácio, o deus negro, era uma  'princesinha do mar', com essa notícia ele se animou bastante, Ah! Inácio espere que será lindo, ele pensava. Só que outros não gostaram muito de ter mais um corpo a ser desbravado, muita competição num mesmo cruzeiro...

IV - Outros sumiços

Ele já andava enlouquecido com tanto pega pega, alguns passavam as tardes de molho no ofurô, morninho e relaxante. Num início de anoitecer, perceberam que um passageiro muito requisitado por todos, cheio de alegria de viver que se entregava aos jogos num dar e receber com paixão, estava fazendo muita falta, procuraram lá e acolá, então, resolveram abrir sua cabine, e como no sumiço anterior só acharam malas vazias, roupas de cama emaranhadas espalhadas pelo chão e um outro postal de Copacabana, também com manchas ensanguentadas, aquilo tudo estava ficando muito estranho, mais uma dor de cabeça para o Comandante do navio. O que parecia um tanto quanto suspeito, era o sorriso sarcástico de Inácio 'a princesinha do mar', ele sentia que Inácio estava curtindo toda aquela situação. Tudo bem que com tanta bebida, drogas e loucuras à bordo, os desaparecidos possam ter caído do navio, mas, isso não era motivo de satisfação, afinal, eram seres humanos, desvairados é verdade, ainda assim, pessoas. Viventes que fariam falta para alguém, pensava ele em suas internas observações. Faltava apenas mais um dia, para chegarem ao porto mais próximo, hoje teria diversão sem limites, todos estavam alvoroçados, os tubos vazios de lubrificantes e latas de energéticos, se acumulavam nas lixeiras. Muito perfume amadeirado pelo ar, quase que abafando o aroma marinho, os hormônios estavam febris, os alto falantes do navio liberavam muita música eletrônica e em meio a toda essa loucura ecoaram a música na voz do cantor Cláudio Zoli...'a noite vai ser boa, de tudo vai rolar, vai rolar...' , bem no clima do cruzeiro, até a brisa suspirava arfante. Com todo aquele clima de vibração, ele e um outro passageiro, deram por falta de três lourinhos muito meigos e efusivos, já imaginaram logo o mesmo desfecho dos sumiços anteriores e estavam certos, foram até a cabine do Comandante e não o encontraram, juntaram mais passageiros e se dirigiram até a torre de comando, mas, souberam que ele também desaparecera, o segundo na hierarquia havia assumido o posto, a alegria desta feita esmoreceu, o melhor era ficar todo mundo no mesmo ambiente, o clima estava misterioso e perigoso demais. 

V - A descoberta

Ao retornarem para a boate central do navio, esbarraram em Inácio que portava seu sarcástico sorriso, de sua mão caiu um envelope, ele gentilmente pegou o envelope no chão e o devolveu para o deus negro com olhos de mar, se afastou rapidamente e tremendo tal qual bambú ao vento forte, até mesmo sua respiração sibilava. Num acesso de medo trancou todas as portas da boate e numa fala estremecida aos borbotões de palavras, contou o que lhe apavorou sobremaneira. No envelope que devolvera para Inácio, escorregaram postais de Copacabana, precisavam saber como contê-lo, ninguém mais poderia 'desaparecer'.  Começaram a fingir que estava tudo normal e as portas fechadas, era só por uma questão de privacidade, mas, na realidade estavam tramando um plano para se livrarem de Inácio, precisavm ser rápidos.

VI - O desfecho

Depois de confabularem, decidiram que uma overdose liberaria qualquer um de culpa, alguém seria a isca, logo ele se ofereceu, pelo menos teria o último prazer do deus negro. No meio da farra no auge da exposição, num momento de distração, um passageiro enterra a seringa com uma dose cavalar de entorpecente e em segundos, o problema estava resolvido. Enrolaram o corpo dele num tapete e despejaram a 'princesinha do mar' em seu habitat natural. Num furor de alivio se entregaram a esbórnia, com um olho no padre outro na missa, porque não tinham certeza se ele agira sozinho, por essas e outras dúvidas, mantiveram-se juntos. Agora faltava pouco para chegarem ao porto. O cruzeiro dos sonhos virou um pesadelo, digno de um conto de terror e mistério.


 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 21/04/2017
Reeditado em 24/07/2020
Código do texto: T5977416
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