Palavra de Honra
"Te dou tudo, mas alguma coisa o tempo pedirá ressarcimento. Não seja egoísta e saiba bem o que pode ou não, ser devolvido; caso contrário, o que ganha-se fácil, fácil perde-se."
Os investimentos afloravam. Haviam adquirido mais uma frigorífico. Bois e porcos chegavam ao matadouro. Guinchos de animais ecoavam.
Ali nada se perdia, tudo se aproveitava. Restos, vísceras, tripas, cabeças. Pés. Ossos. Tutanos.
Seu Patriarca queixava-se que estava tendo visões sobre coisas sombrias. Seu espírito inquieto vivia lhe contando os acontecimentos e certa feita, confidenciou-lhe que ele teria, como tinha todo aquele potencial de bens.
Contrário de agora, que está habituado a investir e o retorno é imediato, os presságios não tem sido dos melhores e uma maldição dos diabos o alertou: "onde plantam dinheiro, não nasce flores; e onde não há flores, não há paz".
Porém, a mais funesta ocorreu faz alguns meses, quando a insônia e o desalento, ferroando-lhe as costelas, importunando sua paciência e crença, aporrinhou-lhe toda noite dizendo: "Seu Patriarca, seu Patriarca, você adquiriu muitos bens materiais, mas vai perder bem mais em sono e sonhos. É melhor o senhor devolver alguns para diabo".
Ninguém tem o poder de investigação para saber se há ou não ligação, mas na noite que antecedeu a sua morte, ela ouviu uma voz esganiçada dizendo: "Minha vida, assim como você minha filha, existem, só não fazem sentido!"
Junto com ela, foram enterradas mais duas pessoas: o padrasto e o vizinho. Ao lado da catacumba funcionava um cemitério de animais.