FESTA

Eu nunca fui de beber.

Comecei há pouco tempo, evito ao máximo. Quando faço não me embebedo.

Minha visão sobre isso torna o ser humano um idiota. Fazemos coisas que sabemos que podem nos matar.

Vejo um rapaz sair da festa cambaleando, e entrando no carro.

Por sorte ele irá bater num poste sem machucar outras pessoas, morrerá sozinho, com a consciência limpa. Se tiver sorte.

- Que coisa horrível de dizer Otto – Ela diz.

Sorrio e bebo meu uísque.

Não lembro como a conversa foi chegar naquele ponto. Ela gostava de falar.

Um jeito tagarela.

Havia a conhecido há umas duas festas anteriores. Numa sexta, ou quinta. Não me lembro.

É sábado à noite, estou cansado, mas é dia de festa. Pessoas bebendo, se divertindo e esquecendo dos problemas da rotina corrida.

Nessa casa há tantas pessoas. Todas conversavam e riam, algumas pulavam na piscina, outras espalhadas pelos cômodos do primeiro andar da casa. Uma bela casa. Ótima para festas.

Havia todos os tipos de pessoas naquela casa, todas de diferentes classes sociais, diferentes etnias e raças.

Todas reunidas para conhecer pessoas novas, rever as velhas, socializar ou apenas conseguir uma transa.

Ela estava sentada em uma cadeira verde junto de suas amigas, quando cheguei. Acenou e sorriu.

Usava um maio vermelho com bolinhas brancas e uma toalha roxa envolta do pescoço, segura um copo de cerveja com a mão esquerda e gesticula com a mão direita enquanto fala, suas unhas estão com um esmalte vermelho sangue.

Algo que sempre achei muito sexy.

O seu cabelo preto esta preso num coque molhado que se desfaz a todo instante, ela me olha, continua rindo, mostra a língua e volta a conversar.

Minutos depois, estamos parados encostados na parede próxima à porta de entrada. Porta de vidro, entrada para a cozinha.

Não lembro seu nome.

Mirela.

Melissa.

Milena.

Todos as chamavam de “Mi”.

“Mi” estuda direito, futura advogada, acredita que a justiça foi feita para proteger todos. Pergunto-me em que país “Mi” vive. Fala sobre prender os caras maus. Bandidos e assassinos. E políticos corruptos.

Quer fazer a diferença.

Como todos quer viajar para fora do país, fazer intercambio conhecer algum gringo e ter um amor de verão. Sonha com a Itália. Roma. Coliseu.

Tagarela.

Fala sobre seus pais. Médicos. Queriam uma filha medica.

Pergunta sobre os meus. Mortos. Queriam um filho vivo.

Ri pensando que foi uma piada. Sorri colocando a mão sobre o rosto, demonstra timidez. Mas esta confortável com a conversa.

Um jeito leve e descontraído.

Ela não é alta, mas nem muito baixa. Tem um corpo magro. Sua pele da cor de chocolate me atrai. Seus olhos castanhos me conquistam.

Uma gota de agua escorre por sua bochecha e pinga ao chegar a seu queixo.

Sua boca esta levemente pálida por causa da brisa fria desta noite.

Continua me falando sobre sua vida. Sobre seu estagio em um escritório de advocacia, onde seu chefe fica flertando com ela. Como não flertar com uma garota tão linda? Sorri colocando a mão sobre a boca.

Ela diz que o café de lá é horrível, respondendo minha pergunta.

Depois de mais um papo, caímos no assunto sobre bêbados. Ri quando comento sobre o bêbado que acabara de entrar no carro.

Me da um soco de leve no ombro. Pergunto-me em que momento ganhou intimidade.

Uma casa bem espaçosa com dois andares, ligados por uma escada de madeira em espiral, moderna. No primeiro andar tem a cozinha, a lavanderia e a sala, no segundo andar, há três quartos, duas suítes e outro para hospedes.

Nesse encontra-se uma cama de solteiro, com alguns lençóis e um travesseiro, uma pequena cômoda e uma guarda-roupa empoeirado, com algumas roupas velhas dentro.

“Mi” esta rindo, seu cabelo esta solto, ainda molhado e caído sobre seus ombros, não é um cabelo comprido.

A musica alta estrala em meu ouvido.

Ela rouba meu copo de uísque, bebe um pouco e então, me devolve. Faz careta ao engolir.

- Vamos Otto, dance! – Ela diz, rebolando no ritmo da musica.

Coloco o copo sobre a cômoda. O gelo balança fazendo um som de sino ao bater nas paredes internas do copo.

Solto minha gravata.

- Só você para vir de terno a uma festa na piscina – Ela diz.

Sorrio.

Ela sorri, não cobre o rosto desta vez. Esta bêbada.

Começa a falar que esta de olho em mim desde a primeira festa. Desamarra o maiô. Seus seios ficam a mostra, são pequenos como laranjas e tem as aureolas marrons. Fazia um tempo que eu não via uma garota nua. Meu corpo esquenta.

Ela se aproxima.

- Eu sei que você me quer Otto. – Ela diz, apalpa os seios.

Desculpe-me “Mi”, o que sinto não é excitação pelo seu corpo. Mas pela sua morte. Ela esta bêbada.

Sorri.

A faca entra em seu peito. Atravessa seu tórax atingindo seu pulmão. Ela não tem tempo de reagir. Sua respiração fica pesada. Ela não grita. Esta segurando meu terno. Olha-me nos olhos. Sangue escorre pelo canto da sua boca. Retiro a faca.

A faca entra novamente, próxima ao local anterior. Retiro a faca.

Ergo minha mão. Passo a língua em meus lábios.

Há muito sangue. Ela cai. Seu cabelo esta no meio daquela poça vermelha. Tiro minha gravata.

A musica alta estrala em meus ouvidos.

Suas pernas são lindas, sem nenhuma mancha, sua cor é atraente, seu quadril é largo comparado a sua fina cintura. Abaixo e tiro seu maiô, corpo maravilhoso. Sua barriga é definida, devia fazer exercícios frequentemente. O sangue ainda sai pelos cortes. Esta toda vermelha. Tento não encostar no sangue. Pego o travesseiro e faço pressão para o sangue dar uma pausa. Coloco-a sobre a cama. Esta nua. Penduro o maiô num cabide dentro do guarda-roupa. Tomo um gole do uísque.

Caminho até o banheiro do outro quarto, não há ninguém no segundo andar. Lavo a faca, as mãos e encaro o espelho. Arrumo o cabelo e volto para vê-la.

Desço a escada em espiral. Logo estou na cozinha. Largo a faca sobre a pia, mesmo lugar de onde peguei, antes de subir.

Esbarro em algumas pessoas. Peço desculpas. Alguns sorriem. Outros me encaram.

Vou embora.

No dia seguinte vejo a noticia.

“Mi” foi encontrada dentro de um guarda-roupa, de cabeça para baixo, com os pés amarrados por uma gravata, nua. O cabelo todo sujo de sangue. Os olhos revirados, e sua língua estava sobre a cama num copo de uísque.

Maicon Moura
Enviado por Maicon Moura em 18/10/2017
Reeditado em 16/03/2018
Código do texto: T6145687
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