CARTA ENCONTRADA

A vida de adulto trouxe um emprego sonhado para Homero. Ele sempre desejou trabalhar numa biblioteca, viver cercado por inúmeros títulos dos mais variados gêneros. Tinha, nessa época, por volta, dos seus 19 anos. Conquistou seus clientes pelo carisma e simpatia. Era um rapaz sociável, mas ao mesmo tempo misterioso.

O tempo estava chuvoso noutro dia, havia alguns raios que o rapaz podia visualizar pela vitrine e as ruas alagadas onde os carros passavam, banhando os pedestres que reclamavam pela calçada do incidente. A sinaleira fechava de meia em meia hora, atrasando o fluxo dos veículos.

A rotina de Homero simplesmente englobava um roteiro no qual caminhava todos os dias de sua casa para o trabalho, ao fim do expediente seguia para a Faculdade e o cansaço do dia desaguava em seu lar para o descanso.

Numa sexta-feira, diante do catálogo que dava acesso às informações dos livros distribuídos na biblioteca, ele avistou um envelope desconhecido cujo papel parecia que tinha sido atropelado por um caminhão naquele tempo insuportável. Diante essa situação, visualizou e o meteu no bolso.

Atônito, no seu repouso, sua mãe entra descaradamente em seu quarto. Ela tinha chegado tarde de uma comemoração da firma e questionou sobre o suposto monumento obscuro presente nas mãos do filho. Sua fisionomia mudou de um amorenado para um branco papel. Gaguejou “q-q-q-que n-n-nã-ão er-a-a-aa na-a-ada!”. Apesar de bêbada, Helena simplesmente saiu desconfiada. Homero segredou silenciosamente aquela carta: guardaria para si, algo que jamais confidenciaria com alguém?

O silêncio percorreu pelas suas entranhas por dez anos. Era um adulto com uma vida estável, possuía Mestrado em Literatura Comparada pela Federal do Estado, porém isso não era o suficiente para uma vida feliz. No auge de sua carreira, tinha se tornado um rapaz taciturno e inquieto, todavia demonstrava sentimento de prazer pela profissão.

Em seu quarto, numa noite fria, preparou sua mala para uma viagem curta, revirando algumas roupas em seu closet, avistou algo que parecia familiar. Isso o trouxe a sombra de um passado inesquecível: a lembrança de um universo gélido e mórbido.

Curiosamente, depois do expediente – num dia em que não tinha aula, mais precisamente o dia da descoberta de uma carta assombrada – resolveu tomar outro caminho, o da escuridão. Mal sabia o que o esperava! Homero, então, chegou ao endereço que tinha avistado outrora e percebeu que tinham tanques cobertos por lençóis encardidos. Perguntou se havia alguém no local, gritando abafadamente. De repente, uma voz soou atrás de sua orelha “não toque!”. Ele olhou para trás, não viu ninguém. Portas e janelas se batiam, vidros quebravam no linóleo adormecido. Saiu correndo desesperadamente e atacou o primeiro táxi que viu pela frente. Tudo o que sabemos era que Homero tinha regressado para o Local de Origem.