SONHOS DESPEDAÇADOS ENTRE O SILÊNCIO E O MEDO

Seu caminhar padece a cada passo. Ofegante, trilha pelo atalho da esperança a fim de abreviar seu curso. Bom seria ter as luzes iluminando o chão sob seus pés, mas a lua abraçava a névoa com impetuosidade. O opositor se aproxima levando consigo um espírito ardiloso e sagaz.

No início da alta madrugada, o caos parece ter dominado seu raciocínio enquanto doses de cortisol passeiam pelas veias do seu corpo. Os pensamentos, cada vez mais prolixos, não encontram alvos para escoar. Cada estrela parece ter se convertido em lágrimas que evaporavam antes da chegada ao solo.

Ora em mata fechada, ora em campo aberto, a perseguição não permite trégua. Sente-se e o cheiro do enxofre pelos ares, todavia não se observa adversários por perto. Uma esparrela lhe abocanhara o calcanhar, mas o brado é contido com bastante esforço. Na inútil tentativa de desarmar a cilada, a garganta prepara uma súplica altissonante, entretanto não se emite alarido. Não há grito na fronteira entre o silêncio e o medo. Inicia-se um processo de contentamento e desespero antes do encerramento do espetáculo.

As cortinas se abrem. Sol e nuvens esparsas pedem licença para sua apresentação matinal. O corpo levanta da cama e a melancolia desce às entranhas. Há grande alívio pelo despertar do dia, entretanto, angústia. O odor de enxofre em seu quarto, enfim, despertara a memória dos sonhos que lhe foram despedaçados.

André Nasser
Enviado por André Nasser em 14/10/2017
Reeditado em 14/10/2017
Código do texto: T6142439
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