A ultima casa

Carmim. Petúnias. Um aroma delicioso. Sempre gostei de flores. Fico imaginando porque elas são tão cheirosas. Mas não sei. Hoje estou florido, estou colorido. Acabei de acordar, esta quente, muito quente, acho também que algo talvez me sufoque. De ser só impressão. Eu adoro acordar. Sempre acordamos desnorteados, sem saber ao certo onde estamos, e só vamos nos conscientizar depois de dar uma boa olhada em volta, então todas as memória vêm à tona e dizemos “sim, é isso mesmo. Agora me lembro...”.

Podemos estar num sítio pescando ou num luxuoso hotel praiano, ou na casa de um amigo, qualquer lugar, e acordamos assustados sem saber de nada. E até nos localizarmos e concebermos com clareza onde estamos leva uns dois ou três segundos, mas que soam como um instante eterno.

Uma vez conheci um homem sem um braço, e ele me disse que desde que perdera o braço, todas as noites, em seus sonhos, o braço ainda estava lá e ele sentia o danado. E todas as manhãs quando ele acordava, lembrava que não tinha mais o braço. Todos os dias a mesma cosa o mesmo tormento.

Todos esses pensamentos já me passaram pela cabeça e eu não sei ainda onde estou. Esta muito escuro pois eu já abri os olhos, e esta muito quente também. Agora estou suando no pescoço, esta abafado, eu odeio esse calor corrosivo, parece que não passa nunca. Apesar da escuridão sei que o sol tem culpa neste meu tormento. Parece-me que visto um terno ou algo parecido, mas não me lembro de Ter vestido nada assim na noite anterior.

Não movo direito as minhas mãos, estou embaixo da cama, está sufocante, mas como seria possível cair da cama e não acordar e ainda por cima rolar para baixo dela e me cercar de..., o que são isso? Flores. Eu não estava sonhando. Cheiro nauseante, é verdade. Tudo em demasia se torna enjoativo demais.

Não consigo me mover direito. Não estou embaixo da cama. Barulho de madeira. Estou cercado de madeira e como está calor. Maciça. Não há saída. Eu grito mas não adianta. O que...? flores, terno calor, madeira, um caixão... pesadelos não se tornam realidade. Agora sei que não tenho escolha. Não há nada que eu faça que possa me salvar. Não me darei por vencido. Gritarei. Gritarei até que alguém ouça ou até que eu morra de fato. Tomara que tenham chorado em meu funeral.