O VEREDITO: CULPADO!

Talvez eu não tenha tomado a melhor decisão quando resolvi beber e voltar pra casa dirigindo, mas isto era normal pra mim, sempre fiz dessa maneira e nunca aconteceu nada.

Porém naquele episódio foi diferente; sai como de costume para encontrar alguns amigos em um Pub no centro da cidade. A noite estava divertida, variadas conversas e bebidas, risadas e companhias, uma bela noite de festa.

No retorno pra casa, despedi-me como sempre fazia, mas nem meus amigos e nem eu sabíamos que nada mais seria como antes. Entrei no carro, som ao máximo, um cigarro na mão pra relaxar, afinal sou jovem e posso tudo.

A estrada estava clara, por causa da bela lua cheia e conforme ia me afastando do centro em direção ao meu bairro, as casas iam ficando mais escassas e o matagal em grande quantidade, oque me fez pisar mais fundo no acelerador.

João acordava muito cedo, era padeiro em um pequeno mercadinho no centro, que conseguiu adquirir com muito esforço, depois de ter juntado dinheiro a vida toda vendendo doces de porta em porta. Por este motivo estava aquela hora da madrugada da estrada. As coisas para ele também mudariam.

Eu já estava sonolento pelo excesso de bebida, quando o vento que entrava pela janela fez com que deixasse o cigarro cair no colo, enquanto o carro fazia zigue-zague na estrada, eu procurava o cigarro, não prestei atenção na curva e infelizmente João vinha pela estrada em direção ao seu trabalho e também não pode fazer nada. João deixou uma esposa e dois filhos. Só sei disso porque ouvi os médicos e minha família conversar, porque eu mesmo não percebi a desgraça, só descobri depois que acordei.

Desde que acordei entre uma cirurgia e outra devido às várias fraturas que tive, recebi muitas visitas de amigos e familiares, de meu pai e minha irmã todos os dias , mas minha mãe não sai daqui do meu lado. Sempre me faz um carinho, e de vez em quando a ouço falando baixo “Porque meu filho? Eu pedi tantas vezes!”. Todos choram muito.

Em função do trauma craniano que sofri no impacto, tem sempre muitos médicos e enfermeiros pela volta. Mas hoje percebi uma movimentação diferente, meus familiares reuniram-se ao meu redor, falaram-me sobre todo o amor que tinham por mim,sobre tudo oque eu fiz e tudo o que deveria ter feito. Me desejaram coisas boas e despediram-se e pela primeira vez minha mãe saiu.

Logo após entraram alguns médicos e enfermeiros falando que estavam me levando para o bloco cirúrgico algo sobre um transplante. Por um instante pensei que poderia ter havido complicações com algum órgão meu, mas no instante seguinte ouvi a conversa toda. Minha família concordou em doar meus órgãos, segundo o medico, meu coma persistente desde o dia do acidente até agora quatro meses depois, não cessaria, pois segundo os aparelhos e laudos de todos os exames conhecidos, eu não tenho mais atividade cerebral.