A adaga

Após uma corrida frenética pela mata, ele havia percebido que a adaga tinha caído em algum lugar lá atrás. Sua intenção era de voltar, mas seria arriscado, por mais que ela fosse importante, sua vida ainda valia muito mais.

Depois de saltar sobre um grande tronco caído a sua frente, ele diminui o ritmo e tenta ver se havia conseguido despistar seus perseguidores. A floresta era escura, as copas altas das árvores e sua folhagem densa impediam parte da luz de penetrar, tornado o local sombrio. Raízes e cipós se espalhavam pelo caminho. O ar era denso, tornando a respiração difícil e dolorosa.

De repente ele escuta alguns galhos se quebrando a sua direita, por instinto corre para trás de uma árvore, se escondendo na penumbra da floresta. O medo lhe invade o corpo, sem sua adaga não teria nada para se proteger. Sua mente procura por soluções, mas o medo neutraliza qualquer pensamento.

É possível ouvir o barulho de passos fortes, provavelmente encontraram seus rastros. Isso o deixou mais apavorado, pois não havia pensado em escondê-los, esta falha poderia custar à vida. Encolhido atrás da árvore, ele procura aguçar sua audição, um vento leve sobra carregando aquele ar pesado para suas narinas.

Alguns sussurros são possíveis ser ouvido, assim como os passos pesados. O medo não o deixava ter um discernimento melhor da situação, os sons de passos iam se espelhado ao seu redor.

Aos poucos as coisas ficam mais claras, dois estavam indo pela direita e mais dois para sua esquerda. Ele estava encurralado, assim como um animal próximo de ser abatido por seu predador.

Seu coração dispara de medo, não queria morrer daquela forma, não ali. Por instinto procura no chão algo que possa servir de arma, mas tudo que localiza é uma pedra. A floresta parecia está apenas observando sua cena de desespero, nenhum pássaro ou inseto manifestava qualquer sinal de vida, o silêncio era perturbador, ao ponto de enlouquecer a mente mais preparada.

Os passos param, mais nada é ouvido. Seus olhos se arregalam, tentando visualizar qualquer coisa naquela terrível penumbra. Seus sentidos fiquem em alerta máximo, sua concentração chega ao ponto de fazer a respiração parar. Nada se move, tudo parado, o tempo parecia não passar e a sessão de está vivendo os últimos momentos lhe invade o corpo. Uma lagrima escapa e a tristeza o atinge de forma agonizante.

A sua frente ele vê dois olhos brilhantes, frios, gélidos. Sua alma congela diante daqueles olhos que parecia sugar lentamente sua esperança de vida. O corpo não mais consegue se mover, até mesmo a pedra, que segurava com força, deixa escorregar pelos dedos. Não havia mais nada o que fazer, eles o encontram e somente a morte o esperaria agora.

Os olhos brilhantes, de um azul frio avança em sua direção lentamente. Parecia estar se deliciando com toda a cena, o sabor do medo talvez fosse seu melhor prato, o maior prazer de uma caça.

Vendo que mais nada poderia fazer ele se deixar cair de vez ao chão. Pensou em implorar por sua vida, mas isso não adiantaria, apenas faria sua agonia aumentar. Aqueles perseguidores não eram de perdoar algo, seu maior apetite era a caça e a morte, nada fazia melhor a eles, eram seres malignos por natureza, criados para serem o que são e nada poderia mudar isso.

Mesmo na penumbra, já era possível ver a silhueta de seu executor. Um homem forte, vestido com panos imundos e mal cheirosos. Uma barba negra, toda desgrenhada lhe cobria a face, dando lhe uma aparecia mais animalesca do que humana, alias, aqueles seres nada tinham de humanos, eram mais parecidos com animais demoníacos, ao qual vivem para matar.

Uma pequena luz é refletida em seus olhos, da mão de seu atacante ele reconhece sua adaga. Jamais poderia imaginar que algo, ao qual lhe acompanhou por toda vida, poderia um dia ser o objeto a por fim na sua vida.

A adaga havia sido de seu pai, ao qual usará por anos na guarda da cidade de Holland. Por infelicidade do destino, a adaga lhe foi dada de presente no dia que seu pai foi convocado para combater uma invasão ao sul do reino de Trindade, e lá foi morto. Ele era pequeno quando isso aconteceu e não se lembrava do ocorrido, porém, mesmo não recordando a cena, a adaga sempre representou o pai, e por toda vida a carregou, tentando honrar aquele presente. Ver aquele objeto tão precioso para ele ser usado para roubar a vida, poderia o revoltar, mas não foi isso que sentiu.

Talvez o mundo tenha ficado sem sentindo ou talvez fato de a imagem de seu pai ser seu último pensamento, o fez relaxar. Fato era que logo estaria ao lado dele.

Ele sente um forte tranco, uma dor lancinante invade o corpo. Ele arregala os olhos ao ver a adaga encravada em seu peito e sangue escorrendo pelas laterais da ferida, manchando toda sua camisa de um vermelho escuro. A visão começa a falhar, os braços rígidos após receber o golpe, começam lentamente a relaxar, assim como todo o corpo.

Seu atacante segura à adaga em seu peito, parecia se deliciar com a cena, mas logo percebe que o sofrimento e o medo que tanto queria causar, não surge nos olhos de sua caça. Aquilo o deixa enfurecido, nunca vira ninguém demonstrar tranqüilidade ao ver a morte chegar. Sem saber o que fazer ele arranca a adaga e com fúria nos olhos tenta encravá-la novamente no peito de sua caça, mas algo o impede.

Quase morto o rapaz segura fortemente a mão daquela besta selvagem, não deixaria aquela adaga penetrar novamente, pela simples vontade do monstro se divertir um pouco mais. Juntando suas últimas forças, ele arranca a adaga das mãos da fera, e num golpe rápido enterra a lamina na lateral de seu crânio.

O homem, sem tempo de reação, não percebe o que aconteceu e simplesmente cai para o lado com a adaga encravada em seu crânio.

O rapaz ri ao ver que pelo menos pode morrer com mínimo de dignidade. A escuridão lhe invade, assim como o frio mortal a cair sobre seu corpo. Nada mais sente, era como estar adormecendo. Por fim, ele da um último suspiro e a morte o leva.

Os sons da floresta retornam ao normal, pássaros voltam a cantar e os insetos a fazer o seu barulho. Ao longe as águas de um rio correm fortes e o vento sobra por sobre as copas das árvores, fazendo algumas folhas caírem no solo úmido.

O mundo segue seu tempo, porém, sem mais duas vidas para lhe fazer companhia.