A FUGA DE ALDO SANTOS

07 de dezembro de 2022 (221207)

Huáscar, o tigre siriano de Amaru Xel caminhava tranquilamente pelas ruas da capital alakrana, ouvindo as fofocas e novidades do império.

Foi assim que soube da lenda da espada e do decreto do imperador para a convocação de voluntários que participariam na empreitada a ser iniciada em breve, numa nave especialmente preparada para a longa viagem na base de tráfego da quinta lua, comandada pelo capitão Lang, o melhor capitão do império e um raniano original, cuja função seria a de retirar a espada da pedra.

Muitos do povo não acreditavam na lenda da espada e aqueles que acreditavam comentavam que seria mais um fracasso, como tinham sido as tentativas dos poucos que voltaram mentalmente perturbados.

Também comentavam, céticos, que muitos não tinham nem conseguido chegar ao planeta de Universo, o planeta Erfos, situado na orla exterior da galáxia, a 50.000 anos luz de Alakros.

Outros comentavam que a 20.000 anos luz de Alakros havia uma fenda espacial no sistema Talax, que supostamente conduziria ao espaço imediato ao planeta Erfos.

Huáscar lembrou que no idioma alakrano “Erfos” significava “inferno”, então decidiu chamar Alex.

*******.

Alex encontrava-se escondido numa geleira no alto de uma montanha no polo sul do planeta. O avião estava coberto por uma capa de neve.

O frio tornava-o invisível para olhos alakranos, embora Alex pudesse enxergar tudo, já que uma das viseiras do seu capacete de combate estava adaptada para infravermelho.

O misterioso piloto de caça, nunca tirava o capacete em publico, nem a bordo da Desafiante. Sua comida era servida na porta da sua cabine privativa pelo Syves, o único a bordo que conhecia sua identidade, além do Lorde do Espaço.

Alex esperava pacientemente que Huáscar se comunicasse o que finalmente aconteceu, quando dormia no silêncio imperante no local.

–Alex! Venha me buscar.

–Como lhe encontro?

–Estou num campo de pouso da periferia da capital. Siga o sinal guia.

Alex ligou o motor e elevou-se, seguindo o sinal, e em poucos minutos avistou a capital. Era normal a circulação de pequenas naves nos lugares autorizados para pouso, e ninguém reparou no CH-III. Se alguém reparasse, acharia tratar-se de um novo tipo de avião.

Huáscar embarcou no assento posterior.

–Vamos embora, Alex, já sei tudo o que precisava saber.

Alex acelerou e o caça elevou-se verticalmente.

–Para onde vamos?

–Vamos para a quinta lua, onde há uma base de tráfego.

–Como vou acha-la?

–Acelere, eu indico.

*******.

Na base de tráfego da quinta lua, Aldo preparava sua poderosa belonave em forma de fuso de duzentos metros de comprimento e quarenta de diâmetro, equipada com três modernos caças de dobra e dois carros de combate.

No momento os guinchos robóticos estavam colocando cinco salva-vidas em forma de ferradura ao redor da fuselagem onde encaixavam com milimétrica precisão.

Sua tripulação deveria ser de 136 tripulantes, contando Aldo e o capitão Lang, mas até o momento ninguém tinha se apresentado, a não ser Shiram, que Aldo insistira em levar junto. Não era problema, já que a nave automatizada estava adaptada para ser pilotada por apenas um piloto e um robô astro mecânico de última fabricação; já incorporado.

De todas as maneiras, Lang chegou preocupado:

–Aconteceu o que eu previa Aldo.

–Não há voluntários?

–Não. Só se o Senhor de Tudo ordenar.

–E ele fará isso?

–Não. A espada é uma lenda sagrada. Ninguém pode obrigar a ninguém a ir.

–Então vamos mesmo assim, Lang. Você, eu, Shiram e R-1, o novo robô astro mecânico que programei com todos os mapas conhecidos da galáxia e que responde nos idiomas conhecidos nos dois quadrantes. Podemos partir?

–Esperemos. Ainda estamos no prazo para a chegada de voluntários.

–Está bom. Vamos ao controle da base para saber notícias.

–Sim.

*******.

A base de tráfego.

A quinta lua era um mundo grande, com florestas de silício, as únicas que podiam crescer um mundo iluminado apenas pelas estrelas, e eram vistas como de cor preto com os óculos infravermelhos de Alex e Huáscar.

–Lá embaixo está a base de tráfego, Alex.

–Já vi.

–Vamos pousar de acordo com o plano!

–Espero que saiba o que está fazendo, Huáscar, porque não quero ficar a pé a trinta mil anos luz da Terra!

–Não se preocupe. Vai funcionar. Desligou o reator?

–Desliguei. Não teremos uma explosão nuclear.

As rodas do CH-III levantaram poeira ao tocar o chão, mas o trem de pouso esquerdo quebrou-se e a asa desse lado tocou o chão.

O avião derrapou quando o outro trem de pouso quebrou e o aparelho foi rodando como um pião de barriga pela pista, levantando faíscas e fumaça.

Por fim deteve-se e começou a pegar fogo rapidamente.

Alex e Huáscar vestidos de armaduras saíram devagar de entre o fogo e pularam ao chão, afastando-se em seguida das chamas.

–O avião queimará todo, Huáscar!

–Entendeu por que soltamos todas as bombas e misseis no espaço?

–Entendi. Veja! Estão chegando os bombeiros!

–São rápidos. Não diga nada, eu falarei com eles.

–Procure ser convincente.

A ambulância alakrana não foi necessária, os pilotos estavam bem.

Logo foram conduzidos ao escritório central de tráfego.

Escaparam da xingação porque foi um “acidente” mesmo. O trem de pouso foi tão magistralmente sabotado, que ninguém acreditaria que não foi acidente.

Huáscar tirou o capacete:

–Meus senhores, meu amigo e eu ficamos a pé. Vocês não poderiam nos arranjar uma carona para Ankor-3?

*******.

Aldo e Lang entraram no escritório bem na hora em que Huáscar dizia:

–... Vocês não poderiam nos arranjar uma carona para Ankor-3?

Alex reparou na presença de Aldo e cutucou discretamente o tigre que disse:

–Somos viajantes desempregados. Topamos qualquer coisa a bordo.

–Talvez, xawarek – disse o funcionário – o seu amigo de que planeta é?

–Alex é de Gopak, um insignificante mundinho do outro lado da anomalia.

–Por que ele não tira o capacete?

–Ele não respira oxigênio e não fala em alakrano.

–Está bem. Vou ver o que posso fazer por vocês.

O segundo funcionário murmurou alguma coisa no ouvido do primeiro, que disse, apressadamente:

–Teve sorte, amigo! O capitão Lang já terminou de preparar sua nave para partir para Ankor-3.

–Mas eu não... – Lang começou a dizer.

–Claro que levará vocês! – disse o segundo funcionário enterrando o salto da bota na parte superior do pé do capitão Lang.

Aldo, que reconhecera Huáscar, teve que segurar Lang para não cair.

–Podem embarcar na nave do capitão Lang que parte logo, seres!

–Ótimo! – disse Huáscar – Os deuses sejam com você!

Lang, já mais recuperado, disse:

–Muito bem, seres, vão embarcar! A nave está na pista. Acompanhem este ser que está comigo – disse indicando Aldo – ele vai mostrar suas cabines!

Enquanto Lang discutia com os funcionários sobre a falta de honestidade deles em embarcar enganados os pobres seres (Você precisa tripulação para sua missão perigosa, não precisa?) e sobre a dor que sentia no pé (A próxima vez que vocês fizerem isso com um capitão do império serão atirados na gaiola dos atoghs!), Aldo e seus recém-chegados amigos dirigiam-se céleres à pista, onde encontraram Shiram que os acompanhou. Aldo ainda não podia acreditar no acontecido:

–Foi coincidência ou plano?

–Foi plano, capitão – disse Huáscar.

–Como chegaram aqui?

–Isso é muito longo de explicar, capitão. Em Ankor-3 está a Desafiante esperando por nós. É um bocado longe daqui.

–Sim, sei onde é... Mas a Desafiante?

–Sim. Alex é tripulante da nave do Lorde do Espaço, o pai do mestre Alan.

–Ótimo.

–Agora que lhe encontramos devemos ir embora para Ankor-3 o mais rápido possível, capitão.

–Ainda não.

–Não? Eu fiquei sabendo dessa lenda da espada... Você não vai lá, vai?

–Vou, sim. Tenho a mais nova, mais moderna e poderosa belonave alakrana já fabricada, abastecida e artilhada aí na pista. Poderia ir sozinho, mas é melhor uma tripulação.

–Segundo o que ouvi em Alakros será difícil conseguir voluntários.

–Sim, já percebi.

–Então vai para Erfos?

–Agora não. Primeiro vou recolher minha família em Erspak.

–Eles não estão em Erspak, capitão! – disse Huáscar.

–Não?

–Partiram para Lican-4, do outro lado da anomalia, a meio caminho de casa.

–Deuses! Quantas coisas aconteceram em todo este tempo?

–Não viu nada, capitão. Vamos?

Pararam na frente da escadinha da nave.

–Há algo que me impede fugir daqui sem dar explicações, amigos.

–O que?

–Minha palavra de honra.

–Honra é importante, mas pense na sua família – disse Huáscar secamente.

–Mas resolverei esse problema lá no espaço. Vamos! Subam rápido antes que Lang apareça por aqui!

Huáscar, que conhecia essas naves sentou na poltrona do copiloto e ligou os sistemas. Alex e Shiram se instalaram em poltronas e apertaram o cinto.

Aldo comprovou tudo rapidamente e deu a partida.

Logo a poderosa belonave decolou no céu negro da quinta lua.

Lang ainda discutia com os funcionários da base, quando percebeu a partida não autorizada.

Mas ao ver a esteira alongada desaparecer na dobra, viu que era tarde para detê-la.

–Maldito seja!

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Continua em: O RETORNO

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O conto A FUGA DE ALDO SANTOS - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 41; páginas 71 a 74; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-Epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 21/06/2017
Reeditado em 21/06/2017
Código do texto: T6033412
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