O RETORNO

Dez meses depois...

07 de setembro de 2023 (230907)

Depois de entregar a nave alakrana que estava na lua de A’Harghel aos prisioneiros Djekal e Hung para que recolhessem seus tripulantes em Lican-4 e entrassem na anomalia para retornar a seu mundo, os terrestres organizaram-se para partir de retorno a Erspak.

Foram transferidas todas as provisões de boca da nave que Aldo batizara como Ferocímea-2, para a nave dos alakranos que retornariam. Não precisava delas, eram incompatíveis para terrestres e sirianos. Apenas reservou as provisões para humanos que embarcara em Alakros e Ankor-3.

As quatro naves estavam orbitando o luminoso planeta e os capitães e oficiais, estavam reunidos na Hércules, para resolver os passos a seguir, enquanto as tripulações preparavam as naves para empreender outros dez meses de viagem, abastecendo água e oxigênio do planeta com as naves auxiliares.

Havia vegetação e fauna variada no belo e selvagem planeta A’Harghel ou Lican-4; com a que esperavam conseguir carne para alimentar as três heterogêneas tripulações muito numerosas e poupar os alimentos padrão na medida do possível.

Numerosos grupos de caçadores ocupavam-se disso lá embaixo, enquanto nas naves os alimentos, carnes e vegetais, eram esterilizados, embalados e congelados.

A bordo da Hércules, Shiram protestara pelo fato de que os capitães alakranos não foram castigados devidamente por tê-los capturado. Mas não insistiu porque os alakranos nunca tinham demonstrado selvageria e barbarismo com ele. Aldo o convenceu dizendo:

–Se a Suprema Confederação diz que Alakros é um império bárbaro, é por um simples jogo político, capitão Shiram. Você e eu fomos muito bem tratados, não vimos barbarismo no tempo em que fomos hóspedes em Alakros. Vimos um povo bem culto, honrado, tranquilo, trabalhador, pacífico e satisfeito com seu imperador, venerado como um deus.

–Sim, tem razão. Pensando bem, Djekal e Hung me trataram bem.

–A mim também – disse Alan – e salvaram minha vida em Boral.

–Apesar de que você o tirou das garras deles.

–E eles não se vingaram de mim, Aldo. Não são rancorosos, são lógicos.

–Quero ver tirar Erspak da Suprema Confederação, Alan.

–Sim, isso talvez seja...

–Esqueci dizer, capitão Aldo e Mestre Alan – interveio Huáscar – que agora deve de existir paz e comercio entre a Suprema Confederação e seu povo.

–Sim – confirmou Martin – quando cheguei a Alfa Centauro já não havia mais problemas entre eles. Só uma guerra civil em Sírio.

–Como será que acabou se acabou? – murmurou Huáscar.

–Não sei – disse Martin – saberemos quando chegarmos lá.

–Pretende ir a Sírio?

–Sim, Aldo. Acompanho vocês para Erspak e depois sigo para Sírio.

–Eu também vou – disse Alan – quero ver isso de perto... Além do mais estou interessado em saber o que foi da Empreendimento.

–E da sua tigresa – disse Aldo.

–Sim. Estou preocupado.

–Será que participou da guerra? A nave tinha pouco armamento.

–Espero que esteja bem. Sinto saudades.

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O Retorno

10 de setembro de 2023 (230910)

A poderosa belonave Ferocímea-2 singrava o subespaço em dobra 9.0, em saltos de cinco horas com intervalos de apenas dois minutos entre eles.

O robô astro mecânico R-1, pilotava, controlando matematicamente cada salto e os intervalos. Aldo não precisava mais que verificar alguns instrumentos, coisa realmente desnecessária; R-1 estava a cargo de tudo.

A tecnologia alakrana era impressionante. Qualquer nave confederada só poderia atingir dobra nove apenas por meia hora seguida antes de explodir.

O poder da nave era tal, que conseguia rebocar com seu raio trator as outras três naves na mesma velocidade, sem destruí-las, amparadas pelo poderoso campo de dobra.

Na imponderabilidade do subespaço os parsecs ficavam para trás; e apesar de poder perceber as outras naves, era impossível comunicar-se, já que as ondas de radio se perdiam no espaço-tempo-energia.

Na ponte da Ferocímea-2, Aldo estava rodeado pelos seus filhos e sua esposa, que perguntou:

–Quanto tempo até chegarmos a Erspak?

–Quatro meses e meio nesta velocidade.

–Na Hércules demoramos dez meses em dobra oito e meio.

–Foi o que demorou a nave de Djekal. Esta é bem superior, de uma série para longas missões de incursão. A Ferocímea-2 é especial, foi preparada para atingir a orla exterior do lado do quadrante delta... E entrar em combate se necessário. Está poderosamente armada. É um arsenal voador.

–Impressionante – admirou-se ela.

Fazia apenas um dia padrão que partiram de Lican-4 e já tinham conseguido se organizar e se adaptar à enorme nave de guerra.

A maioria das luzes interiores era amarela. Tinham sido adaptadas na quinta lua especialmente para Aldo e Shiram, que ocupava a cadeira do copiloto.

–Pai, conte de novo o que o imperador Zorkala disse ao senhor pelo radio antes de partirmos do quadrante delta – disse Alvim.

–Ele disse que me perdoava pelo roubo da Ferocímea-2 e que confiava em minha honra.

–Por que pai? – perguntou Arno, o segundo filho.

–Prometi soltar Hung, Djekal e os cinquenta e cinco tripulantes que estavam em A’Harghel para que retornassem ao lar.

–E foi isso mesmo o que o senhor fez – disse Alvim.

–Sim, filho, e prometi que encontraria a espada de Alakros e a entregaria a ele.

–A espada na pedra?

–Sim Alvim.

–Como a lenda que o padrinho Valerión contou que aconteceu lá na Terra.

–Sim, Alois. Como a lenda de Excalibur.

–Era verdadeira?

–Sua mãe acha que sim e acredito nela, afinal ela é uma Reverenda.

–Então é verdade – disse Adella Clara, sentada no colo do pai.

–Deve ser sim, filha. Com certeza.

Aldo estava feliz. Seus filhos tocavam-no e acariciavam-no.

Sabiam que estiveram a ponto de perdê-lo.

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Quatro meses depois...

15 de fevereiro de 2024 (240215)

–Sair de dobra!

–Saindo de dobra, capitão – disse Shiram.

–Soltar a Desafiante, a Hércules e a Amarna!

–Soltando!

O espaço pareceu explodir quando toda a luz deixada para trás chegou junto com a Ferocímea-2 e as outras três naves às imediações de Alfa Centauro.

–Pronto! Estamos em casa – disse Shiram.

–Quase. Ainda vamos a ver como está o que deixamos.

Inge estava melancólica com a chegada e aproximou-se da poltrona de Aldo:

–Aldo, voltaremos a Saturno?

–Sim, querida. Alvim é o príncipe consorte da futura imperatriz do sistema solar, e o velho imperador deve estar impaciente, se ainda não morreu de ansiedade.

–Lembro-me da nossa confortável casa em Germânia III e nossos amigos...

–Algum dia nós voltaremos por lá para passear.

–Aldo, cada vez que avançamos vamos deixando parte de nós, amigos, objetos preciosos, moradias... Antes foi Antártica, depois Marte, saímos de lá solteiros, sim, mas nossas casas ainda estão lá, em Antártica e em Marte... Depois foi Júpiter e nossa casa bonita de Germânia III...

–...Da qual saímos um dia para ir à Festa da Colheita de Folhas de Akok em Ganímedes e nunca mais voltamos desde aquele dia – completou Aldo – Meus peixes calistanos devem ter morrido de fome se o robô esgotou a bateria e não os alimentou com a ração que deixei. Dez anos de ausência do lar é muito tempo. Essa Festa em Ganímedes saiu algo cara.

–Eu não podia prever que Ulfrum planejava me sequestrar...

–Por isso nos estabelecemos em Rhea, em nossa Cidadela amada. E tivemos quatro lindos filhos.

–E pouco faltou para estabelecer-nos em Erspak, Aldo. Não! Não negue isso querido! Eu vi seus olhos brilharem quando descemos naquela praia maravilhosa.

–Maravilhosa, mesmo. Ainda vou construir uma bela casa de praia lá, se não houver monstros gosmentos ou dragões gigantes cuspidores de fogo por lá.

As risadas das crianças ao ouvir essas palavras eram musica puríssima nos ouvidos de Aldo.

–Chega de brincar. Vamos a Erspak e depois de resolver alguns assuntos por lá, partiremos para casa em Saturno. Atenção R-1!

–Curso? – bipou R-1.

–Ainda manter curso 0.02 marco 1015, impulso máximo – ordenou Aldo.

–Curso marcado – bipou o robô.

–Esse curso nos leva para Erspak, capitão – disse Shiram.

–Sim. Em duas horas padrão.

–Eles vão se assustar com esta nave.

–Por isso Inge vai tentar comunicar com eles antes que comecem a disparar, se é que seus amigos ainda estão por aí, capitão Shiram.

–Espero que estejam em paz.

–Eu também.

–Inge, vamos contatar os outros, e que a Desafiante assuma a frente.

–De acordo, meu capitão – disse ela sorridente.

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Continua em: KOVURO E ARUEN (oito partes já publicadas)

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O conto O RETORNO - forma parte integrante da saga inédita Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume V, Capítulo 41; páginas 75 a 77; e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados:

http://sarracena.blogspot.com.br/2009/09/mundos-paralelos-uma-epopeia.html

O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 21/06/2017
Reeditado em 29/07/2017
Código do texto: T6033411
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