A Vingadora Sagrada

A Ordem dos Cavaleiros do Templo, ou somente Templários, foi uma das mais renomadas ordens de Tennórien. Entre eles estavam alguns dos mais poderosos homens e mulheres do mundo, muito embora não fosse uma das ordens mais populares ou requisitadas entre os habitantes do continente, pois além de serem muito misteriosos em seus caminhos, também eram muito restritos em suas condutas. Ferrenhos combatentes do mal, tendo muitos inimigos poderosos também.

Isto se deu muito pela sua atuação direta na Caçada aos Feiticeiros e também no combate aos seguidores do deus Staël, levando, em conjunto com suas restrições religiosas, a um declínio gradual da mesma ao longo das décadas após a Caçada. Porém, como um de seus grandes atos, esta magnifica ordem adentrou na Grande Guerra, com os últimos 50 Templários combatendo como martelos de justiça em campo de batalha, seu líder era Sky Bastian, um líder jovem, mas muito firme em seu caminho de fé.

Muitos líderes foram levantados nesta ordem, mas poucos se igualaram a tríplice maior, que foram os únicos três grandes Templários que conseguiram alcançar o nível de templário maior, um feito raro entre os mortais. Mas naquele dia sombrio e fatídico, Sky conheceria sua glória e também sua queda.

Pois foi ali em meio ao tinido de metal e cheiro de morte que ele e seu batalhão de dez templários, que lutavam contra hordas de goblinóides, auxiliados por gigantes e feiticeiros, que alguns de seus companheiros começaram a cair em meio ao caos de luta e magia. A batalha era acirrada entre ambas as partes, muito embora os Templários estivessem menor número, seus poderes e capacidades de combate ela muito mais poderosos. Mas a quantidade de inimigos parecia inesgotável e isso se mostrou uma dificuldade após quase trinta dias de batalha, quase sem auxilio nenhum dos demais exércitos aliados.

Afinal, Sky Bastian se viu somente com mais cinco de seus companheiros enfrentando mortos e feitiços quase intermináveis, e a medida que aquele dia avançava um a um de seus liderados padeciam em batalha até que ele viu uma sobra se esgueirar por entre a fumaça e os montes de corpos, vindo pelo céu. E de repente, as chamas engoliram mais um deles ao lado do fervoroso comandante, que pode escutar a voz gutural da serpente alada:

- Morte aos Templários! – dizia o monstro escamoso – Sky Bastian, pelas minhas chamas, você e sua ordem decadente perecerão! – e um rugido ressuou pelo ar, fazendo até os inimigos tremerem ante o imponente dragão vermelho que ali pousara.

A única mulher que ainda estava viva junto a Sky o segurou pelo braço e o puxou para trás.

- Senhor, - disse ela imperiosa – viva para continuar a nos comandar! – e assim se lançou em direção a fera usando de todo o poder sua aura de luz permitiu, dando tempo aos últimos três de recuarem. Porém, a interposição entre as partes foi de pouca duração e as hordas avançaram novamente com o monstro alado alçando voo para buscar sua presa do alto.

Sky olhou de relance buscado os que ainda viviam, mas os viu parados de espadas em riste e escudo em punho. Entendeu que eles ficariam e lutariam até o fim para ver seu comandante seguir para uma posição segura. Isso não o inquietou somente, na verdade o deixou quase louco, pois eram seus irmãos em fé e combate. Mas não teve muito tempo a pensar, pois a fera desceu sobre ele lançando suas chamas com ímpeto, dando ao templário tempo somente de se defender com seu escudo sagrado, que segurou a baforada vigorosamente, mas terminou inutilizável no processo. Ele jogou o objeto de lado e segurou sua espada longa com as duas mãos, pronto para enfrentar seu inimigo.

- Lembre de meu nome humano! – rugiu o dragão – Eu sou Ancalagon! E também serei seu fim!

O guerreiro sagrado desviou do primeiro golpe e desferiu seu ataque a pata de seu adversário, mas ele não sabia que sua arma já estava desgastada de tanto uso, desse modo ele viu sua lâmina partir sobre as poderosas escamas. Perplexo ele foi lançado vários metros a distância por um segundo golpe.

A maior parte do dano foi absorvido por sua armadura, mas ainda assim ele ficou extremamente ferido. Juntando forças, ele se arrastou para traz de uma rocha e ali fez a única coisa que lhe restou como arma: ele fechou os olhos e orou.

Na escuridão de sua mente ele buscou sua divindade. Proclamou seu nome. Gritou. Gemeu. Chorou. Mas nada parecia ser digno de seu deus. Afinal, os deuses não se dignavam tão facilmente a encontrar-se pessoalmente com seus seguidores, mesmo os mais fabulosos.

E quando Sky já desistia e iria se preparar para usar seus últimos recursos contra seu adversário, uma luz brilhou e ele soube de imediato que o auxílio em sua angústia seria concedido. Só uma coisa ele pediria naquele momento. Uma lenda contada entre os Templários, mas que permanecia viva pela fé. Uma arma lançada ao plano material em tempos imemoriais, mas que talvez fosse sua única salvação.

E quando o cheiro de lama, fumaça e sangue voltou a suas narinas, seus olhos se abriram e ele se viu pleno e sem nenhuma dor ou cansaço. Era a aura de sua divindade que lhe agraciava poder, mas não era isso que ele ansiava para seu combate com a fera que agora estava a sua frente. E então o céu de nuvens negras como as trevas se abriram e algo de luz muito extensa caiu entre ambos, arremessando o dragão para longe, sem no entanto causar nenhum efeito no templário, que caminhou firme até o item reluzente cravado chão. De lá arrancou uma espada e sem perder tempo parar analisa-la, partiu em direção ao seu inimigo com todo seu ímpeto, pois agora o dragão vermelho não enfrentava somente um templário qualquer, mas o último Templário Maior de Tennórien.

Sky sabia que a aura divina seria consumida rapidamente devida a energia da espada que havia sido tocado por um deus e não se demorou no ataque direto, golpe o monstro que ainda estava atordoado, ferindo suas costelas e em seguida sua pata traseira. O dragão guinchou, e tentou se afastar, mas o homem não permitiu e em um salto cravou a espada no peito do adversário e por muito pouco não acertou seu coração.

Então sua aura sumiu, e ele não teve forças para descravar o objeto do monstro que parecia ter notado a queda dos poderes do humano, e então ia se preparar para dar um golpe de misericórdia. Mas uma rajada de luz atingiu o dragão e ele se viu obrigado a se afastar.

Mãos seguraram Sky antes que ele caísse no chão e ele viu o rosto de um dos seus amigos que o puxou para longe dali. E enquanto era arrastado ele observou o dragão fugir nos céus com a espada cravada no corpo. A espada que deu a vitória aos Templários naquele dia e sua nova posição na ordem. Agora poderia descansar em paz, pois teve em suas mãos a arma de um deus. A própria Vingadora Sagrada.